quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Membro: ROGÉRIA GOMES

ROGÉRIA GOMES
Rio de Janeiro - RJ
rogeriag@uol.com.br
.
 Jornalista, pós-graduada em Docência Superior, especializada em Jornalismo Cultural.
Autora do Livro : “ As Grandes Damas e Um Perfil do Teatro Brasileiro” – Editora Tinta Negra / 2011
Apresentadora, editora e pesquisadora TV ALERJ / Programas Diversos – Especiais  e matérias jornalistas -
Apresentadora, roteirista e editora do Programa Perfil / TV ALERJ exibido Quarta-feira às 23h / Sábados às 21h
Apresentadora do programa ‘CONTRASTE’ , talk-show, exibido semanalmente, de 20:30 às 21:30h, através da  TV C -NET                          
Responsável pela Produção Executiva, Produção, Direção de Imagem, Roteiro, Finalização , Supervisão de Estúdio e Ambientação.
1999/2000; IASERJ -Assessora - Chefe da Assessoria de Comunicação Social   1989 /1991 ;  Bloch Editores     Revista Amiga    e Revista Manchete 1989 / 1990;     Editora Abril -   Revista Contigo / 1996 a   1999 ;   IBCO – Instituto Brasileiro de Consultoria e Organizações;  Jornalista Correspondente em diversos estados do Brasil pelo Boletim do Instituto – especializado em Economia/ 1990;  Revista Nacional   Repórter e Colunista ( Coluna Mutirão) 1989 a 2000Tribuna da Imprensa    Colaboradora em Resenhas Literárias     2005/  2006;   Colaboradora do Caderno Tribuna Bis do Jornal ‘Tribuna da Imprensa’ / 2005 a 2007 ;     Site em defesa do consumidor / Repórter 1998 a 2000 ;   Revista de Telecomunicações : “ Latin Telecom”/ Repórter /   1999 a 2000; Portal Cultural -   Contraste / Editora Responsável   2003 / 2008;  Jornal do Comércio – Crítica Literária e de teatro 2009;  ALERJ – ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA – RJ.·   ; 1991 a 1997 – Responsável  pela Coordenação de Atividades e Ações Culturais  ;   Coordenadora Responsável pelo Tombamento em nível nacional do Palácio Tiradentes ( sede da ALERJ);  1997 a 2002 / Assessora Parlamentar e Assessora de Imprensa  2002 a 2007 / Assessora Parlamentar e Legislativa
UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA·    Professora  do curso de Comunicação Social;   Coordenadora do Curso de Comunicação Social·      
Editora e Coordenadora - Revista Científica Paradoxa Múltiplas em Educação   1994 a 1997 ;  Encontro Nacional de Informática das Assembléias Legislativas /Hotel Nacional / Brasília –DF / 2003; Participações: -   Debatedora do Programa de Rádio ‘Show do Mário Belizário’ / Rádio FM 94/ RJ
        Debatedora e Participação Especial no Programa de Debates apresentado pelo radialista Paulo César / Rádio Manchete FM; Programa Super Pop / Rede TV;  Programa Super Tudo / TVE Brasil;   Programa Super Bonita / GNT;   Examinadora e Palestrante do 7º Ciclo de Marketing e Comunicação da Universidade Estácio de Sá / Campus Barra / 2005;    Palestrante:  Colégio Santo Inácio / Tema: Jornalismo;   Sessão Solene ALERJ/ Tema: 50 anos Bossa Nova;  DISTINÇÕES E PRÊMIOS - : Medalha Tiradentes / Coordenação do trabalho de Tombamento do Palácio Tiradentes  / Conferido : ALERJ / Dep:. Paulo Duque;  Menção Honrosa pela coordenação e estudo referente ao Tombamento a nível federal do Palácio Tiradentes / Conferido : ALERJ·    Voto de Louvor por ocasião do trabalho  de pesquisa e coordenação referente ao Tombamento do Palácio Tiradentes   Conferido : Vice-Presidência da República;    
Moção de Louvor e Congratulações conferida pelo Vereador Fernando Gusmão/RJ em razão de mulheres que se destacaram no ano de 2005.
.
.
‘ Memoráveis Mestres’
     
     O centenário de dois brasileiros excepcionais Nelson Rodrigues e Jorge Amado tem sido motivo de comemorações de toda ordem, com justa causa. Como poucos, expõem a alma brasileira por meio de  um raios x que revela virtudes, defeitos e curiosidades que enaltecem o particular estilo brasileiro de ser.
     Nelson Rodrigues e Jorge Amado, além do talento comum parecem ser avessos a comemorações, no entanto não passariam impunes.  
Nelson e Amado se vivos estivessem brindariam neste agosto, um centenário frutífero, rodeados de amigos, fãs, admiradores, com festas por todo lado apesar da discrição que mantinham sobre si e suas obras. A obra eterniza seu criador e podemos sentir claramente esta afirmação na história de ambos.
    Nelson foi jornalista, escritor e um crítico feroz da hipocrisia.  Mantinha uma lente de aumento nas mazelas humanas e na sociedade. Escrevia o lado obscuro da humanidade e falava das coisas que geralmente colocamos para baixo do tapete, cujo pano de fundo era quase sempre a morte, onde segundo Nelson, residia o sentido da vida. Razão o que fez ser considerado por muitos irreverente e  incompreendido.
Expunha às vísceras da alma humana. No teatro escreveu um capítulo a parte, singular, para especialistas criou o teatro rodrigueano, quiçá o universo Nelson Rodrigues, na verdade um jeito todo seu de colocar em cena a ‘ vida como ela é’.  Um bom exemplo entre tantos de seus escritos está a conhecida peça ‘ Vestido de Noiva’, um marco divisório na dramaturgia brasileira.  Tamanha a força de suas obras que ainda hoje nos põem a refletir, tempos depois de escritas.
      Imortal Jorge Amado, boa praça, bom de papo, como ninguém falou, escreveu e levou aos quatro cantos do mundo o nordeste,  sua gente, seu jeito, suas peculiaridades, mostrando um Brasil  recheado de uma cultura tão rica e viva, porém desconhecida até seus escritos primorosos. Muito fez por nossa literatura, viveu-a intensamente de fato e direito, deixando um legado tão inquestionável quanto vasto. A maioria delas muito bem retratada não só em TV como em cinema, mundo afora. 
      Sua interferência política deu voz ao povo menos favorecido tornando-se deputado federal e criando leis dignas como a do direito autoral e da liberdade religiosa. Sabia o que fazia, apesar da modéstia que se imputava.
       A arte se encontra como for, onde for, de que jeito for e tem vida própria, como nos mostra o universo de Nelson e Jorge que em  mundos diferentes criaram um saber único, revigorando e inspirando os que buscam o caminho da cultura.
      Sabiamente diz o notável poeta, Ferreira Goulart “ a arte existe porque a vida não basta”, máxima que nos ajuda a trazer o sentimento de  um Nelson Rodrigues  e um Jorge Amado próximo de nós,  absolutos e vivíssimos.
.
.
Palavra de Ordem: Sustentabilidade

     Sabemos que somos a resultante de nossas escolhas, individuais e coletivas.
     Bate a nossa porta o mega evento que coloca na ordem dia o futuro do planeta, pensar sobre mundo que desejamos para nós e as futuras gerações. Iniciativa louvável e necessária.   A Rio + 20 é o assunto que toma as esquinas, a intelectualidade, os estudantes, os políticos, enfim toda gente, cônscios ou não do que acontece. 
Os recursos vitais são finitos e temos levado o planeta a exaustão, isso é fato.
Algumas mudanças estão sendo tomadas, no entanto, precisamos acelerar este processo.  A Rio +20 é um grande palco para essas discussões, porém parece-me que ainda falta algo a mais. Não se muda o coletivo sem o individual.    
      Como disse em entrevista, a ex- ministra Marina Silva, “o desenvolvimento sustentável, não é uma maneira de fazer e sim de ser”, e este ‘ser’ engloba atitudes que envolvem a todos. É preciso agir em um único sentido: cuidar do planeta, a partir desta consciência que ora se tenta despertar, envolvendo a todos independente de idade, sexo, ou classe social.    A exemplo de eventos anteriores como a Eco -92, tratou-se muito e realizou-se o oposto. Inquieta-me esta possibilidade outra vez. A Rio+20 talvez seja a nossa chance de sobrevivência concreta propondo mudança, transformação,  ação. Há noticias do documento final do encontro chegar a seis capítulos, porém adornados de mais de 835 colchetes que significam pontos em pendências, sem conclusão.
   O planeta nos dá sinais sistematicamente: a estimativa de aumento da temperatura será de até seis graus Celsius em média ao final deste século. Que efeitos desastrosos, que preço alto!
     Não se pode mais recuar, nem se ter a omissão por opção. Cada um na sua função e a mídia tem um papel relevante neste processo; ajudar a disseminar a informação, clarear para todos, sem distinção. Informar acessivelmente é urgente.
     A seara é de todos.  É preciso agir rápido, se queremos prosseguir a deliciosa e fascinante aventura de viver. 
.
.
 
Oportunidade : a marca da diferença

            Sou fã da oportunidade. Cada vez mais estou convicta disso.
          
           A Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro promoveu o evento ‘ Semana de Arte e Cultura’, idealizada pelo Secretario de Educação Wilson Risolia, cujo principal mote era fomentar cultura em suas múltiplas facetas aos alunos da rede estadual de ensino.

         Lá estive a convite do Secretario para falar a respeito da história do teatro no Brasil, com base no livro que escrevi “ As Grandes Damas E Um Perfil do Teatro Brasileiro’.  Experiência fantástica! 
A atmosfera do ambiente exalava cultura no melhor sentido, todas as manifestações contavam com a participação de alunos e professores imbuídos em realizar,  propor,  pensar,  experimentar novos paradigmas para si, para a educação, por meio da cultura que permitiu aqueles alunos protagonizar essa história.

         As atividades aconteciam simultaneamente: um coral animado e afinado, textos teatrais, artes plásticas, palestras diversas, entre elas, uma com a presença de acadêmicos do porte de Evanildo Bechara e Arnaldo Niskier, figuras pontuais da educação brasileira, literatura, brincadeiras circenses e muito mais. O que se percebia era um público ávido e interessado. De fato uma ode a pluralidade tão necessária a cultura, a educação, o que tornava aquele ambiente ainda mais colorido e cheio de vida, pulsando. 

         Que coisa sensacional, saudável!!!

         Estamos acostumados ao descaso, diariamente somos assaltados com notícias que nos desanimam, trapaças por todos os lados, nenhuma importância aos aspectos básicos de cidadania, saúde, educação,  cultura, e uma ação desta natureza nos reafirma a possibilidade na tal oportunidade que citei e tanto acredito, mesmo sabendo que é uma gota neste oceano chamado Brasil.
Não há dúvida; cada aluno que viveu esta valiosa experiência tratará sua história com outro vigor, com aquela esperança interna que move a vida pra frente, guardará em si a certeza de que a cultura pode ser e é um exemplar agente transformador, independente do particular universo de cada um. Os professores no exercício pleno de seu sacerdócio pareciam estar em estado de contemplação. Isso se chama compromisso, atitude, coragem.

       Saí dali ainda mais confiante na assertiva que preservo de que transformar realidades pode ser um desafio a vencer. Da individual a que invade o coletivo.

       Parabéns Secretário e toda sua equipe, que deixam um belo exemplo, pensando e realizando educação. Frente a tanto desinteresse pela coisa publica, aqui um contraponto. Merece o registro.  
Fica a dica não só pela continuidade deste modelo aos gestores públicos, assim como para nós sociedade o brio de fazer cada qual o que esta ao seu alcance.

      Com o pensamento do extraordinário mestre e educador Paulo Freire termino esta reflexão: “Educar-se é impregnar de sentido cada momento da vida, cada ato cotidiano”. Quem passou por ali experimentou essa verdade.
.
.
BRAVA CULTURA
          A cultura de um país é sem sombra de dúvida seu maior  patrimônio.  As artes são múltiplas e nos ajudam nesta caminhada de escrever nossa história, de preservar a memória. Alias, sem memória, nada subsiste.  E que história ficará para as futuras gerações?
Eis a questão...
          Para nós que lutamos em prol da cultura, trabalhamos por ela e fazemos disso questão de honra, parece que estamos sendo contemplados. Boas notícias rondam a Cidade Maravilhosa.
Em clima de comemorações, todas bem-vindas, a que se lembrar de aplaudir o renomado teatro João Caetano, bem no centro da cidade, cuja história constitui um capitulo singular, afinal é teatro mais antigo em atividade no Brasil. Em outubro passado, mais precisamente dia 12, João Caetano de tantas memórias completou 198 anos. Quase duzentos anos de muita história pra contar e relembrar. Já começa com o braço forte de seu criador. Com a Independência do Brasil, em 1822, o panorama do teatro começa a mudar no Brasil creditando-se a João Caetano, este feito: trazer brasilidade às artes cênicas, até então inspiradas nos moldes europeus. Empresário atuante, um dos mais importantes do século XIX, exerceu brevemente  a função artistica de forma amadora, mas criou em 1833 sua própria companhia o que possibilitou lançar nomes que marcaram a história do teatro, entre eles  Francisco Correa Vasques, que veio a ser um dos mais queridos atores da ribalta fluminense. A dedicação ao teatro esteve em primeiro plano durante a vida de João Caetano. Neste palco fatos curiosos e relevantes tiveram vez, entre eles quando o Imperador D. Pedro recebeu a informação sobre revolta contra o FICO, enquanto assistia a um espetáculo.
Ali mesmo tomou as primeiras
iniciativas ao acontecido, segundo escritos de diferentes historiadores.
Já em 1935 um tumulto na platéia com direito a tiroteio, remonta a passagem em que Carlos Lacerda, a época militante do Partido Comunista Brasileiro, lia o manifesto da Aliança Libertadora.
Fama internacional também alcançou o teatro João Caetano. Nomes como Eleonora Duse e Sarah Bernhardt, consideradas as maiores atrizes do mundo do século XVIII pisaram aquele espaço cênico. Seguindo o conceito de grandes apresentações, atores do quilate de Paulo Gracindo, Paulo Autran, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Tônia Carrero, Grande Othelo, Marcos Nanini, Diogo Villela, Henriette Morineau, deixaram lá registrado seu talento.
A música também foi um belo cartão de visitas neste tablado desde sua fundação, não obstante, a primeira apresentação de Carmen Miranda em teatro, aconteceu lá, nos anos 30. Tempos mais tarde, na década de 70, o saudoso produtor cultural Albino Pinheiro lançou o ‘Projeto Seis e Meia’ trazendo ao alcance de muitos o que era privilegio de alguns; música de boa qualidade a quem não podia freqüentar as casas de espetáculo além túnel. Uma idéia inovadora que lançou moda, copiada até hoje.  Lembrando parte desta história, Paulo Roberto de Oliveira que dirigiu por anos a fio o João Caetano nos faz rememorar artistas como Pixinguinha, Aracy Cortez, Braguinha, Dalva de Oliveira, Roberto Carlos, Sylvio Caldas, Mário Lago, Cauby Peixoto, Taiguara, Gonzaguinha, Herivelto Martins, Chico Buarque, João Nogueira, Zeca Pagodinho, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jacob do Bandolim, Elizeth Cardoso, Zimbo Trio, Conjunto Época de Ouro, Djavan, Fagner , Simone ,Ivan Lins , Milton Nascimento, que subiram este mesmo palco iluminando  um tanto a mais a trajetória deste singular  teatro.
           Outro fator valoroso à cultura, refere-se a reabertura de teatros importantíssimos, palcos que guardam momentos indeléveis de resistência e beleza, que felizmente estão sendo reinaugurados, para nossa felicidade.  Alguns exemplos:  o teatro Tereza Raquel, que fica em Copacabana,  que por anos serviu apenas para ensaios, renasce.  Inaugurado, no início dos anos 70, pela atriz que lhe dá nome, iniciou com a apresentação de Gal Costa, seguindo-se de outros de igual porte, como Caetano Veloso, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil entre muitos. Também por ali passaram a nata de atores brasileiros como Bibi Ferreira, no memorável espetaculo ‘Gota d’Água’, Marília Pêra, Sérgio Brito, Paulo Grancindo e por aí vai.  Só gente de ponta. Autores primorosos, nacionais e estrangeiros, também tiverem vez no Tereza Raquel.
            Outro espaço cênico fundamental para nossa cidade é o teatro Dulcina, no coração do Rio, na Cinelândia, a Broadway carioca dos anos áureos do teatro brasileiro. Sua relevância histórica é primaz, sobretudo porque guarda também a memória afetiva do teatro brasileiro, a nossa, portanto.
Dulcina de Moraes foi um expoente da dramaturgia nacional. Praticamente unanimidade. Atriz de uma força cênica como raras, com igual vigor foi educadora e por seu olhar vanguardista e visionário, não entendeu o teatro apenas como entretenimento, que também o é, foi adiante. Percebeu o poder didático e educativo do teatro e não fez por menos, abriu a Fundação Brasileira de Teatro, no Rio de Janeiro, e posteriormente a Faculdade de Artes Cênicas Dulcina de Moraes em Brasília.
Abraçou a causa da classe como ninguém havia feito até então.  Encenou e dirigiu espetáculos de autores primorosos, como Frederico Garcia Lorca e Bernard Shaw. Dos brasileiros estimulou e troxe a cena textos de Oduvaldo Viana, Viriato Correa, Joracy Carmargo, Armando Gonzaga e mais um infinito número de bons autores. Ao lado do marido, Oldilon Azevedo, capitaneou a Companhia Dulcina-Odilon, até aproximadamente 1963. Morreu aos 88 anos, com um legado inquestionável.
Ficamos devedores por longo tempo de estampar o nome Dulcina de Moraes a frente de seu próprio teatro, lugar onde reside um dos marcos mais respeitados das artes cênicas no Brasil. Uma lacuna que merecia atenção.  Apesar de tardio parece ter chegado o momento.   Reinaugurá-lo é um dever e ao mesmo tempo um valioso presente ao cidadão brasileiro e ao carioca especialmente.  Mas o que importa, é que temos de volta em grande estilo o teatro Dulcina, que segundo o presidente da Funarte, Antonio Grassi, há de ser “um palco onde o principal critério para sua ocupação será a excelência”. Fazendo jus às suas palavras, a estréia se deu em grande estilo, com nada mais, nada menos, que a inominável Bibi Ferreira, em comemoração aos seus setenta anos de carreira, no show “Bibi In Concert IV” , um show encantador, poético , alegre e impecável como a própria Bibi. É possível arriscar que não haveria melhor escolha que esta para abrir a cortina do novo Dulcina, cheio de propostas, sonhos e expectativas, que ao dar o ponta pé inicial com uma atriz desse quilate e tão próxima que foi de Dulcina, só poderá colher belos frutos.
           Pena que o cenário ainda não esteja completo. O resistente teatro Ipanema está a procura de quem o alcance. Perdê-lo poderá ser outra destas temeridades culturais. Ainda em tempo de ser evitada. Estamos na torcida.
            A educação nos ensina a ler e escrever, mas a cultura a enxergar. E o teatro, arte plural e mutante que é,  em meio a tantas funções cumpre este papel direitinho. Dulcina entendeu isso, João Caetano idem. Que nossos governantes aliem-se a estes ensinamentos e assim, quiçá o ‘país do futuro’ poderá estar mais presente do que possamos imaginar, deixando-nos claro, volto a afirmar, a sensação de que a cultura é de fato nosso maior patrimônio.
E tudo isso acontece quando a Cidade Maravilhosa esta em festa pelos 80 anos do Cristo Redentor, que por obra do destino foi também inaugurado a 12 de outubro. Esta entre as novas sete maravilhas do mundo e sem dúvida,  é o símbolo maior deste Rio de Janeiro que tanto merece boas novas.
           De toda forma, estamos avante. Ganhamos todos, classe artística e público.    Vida longa pois,  aos nossos teatros.
                         Viva a cultura!                                              

 
      .
.
  
As Grandes Damas e um Perfil do Teatro Brasileiro
O palco brasileiro, pelo olhar de suas eternas divas

Livro conta a história da dramaturgia nacional a partir da experiência de
nove de suas maiores atrizes


A tijucana Bibi Ferreira estreou no palco quando tinha apenas 24 dias de vida, no colo de sua madrinha; substituía uma boneca sumida do cenário. Já Eva Todor encarou a plateia pela primeira vez, ainda criança, com uma participação no balé da Ópera Real da Hungria. A coisa era séria, mas a menina arrancou gargalhadas com seu jeito meio moleque: já demonstrava um talento nato para a comédia. Também quando pequena, no bairro paulistano do Bexiga, Laura Cardoso, enfeitada com bijuterias e apetrechos de adultos, esperava o motorista que parava todas as tardes, pontualmente, para assistir à sua encenação de madame que entra no bonde.
Quem conta histórias como essas, na forma de deliciosos relatos das experiências
fundadoras de sua arte, são as próprias artistas, hoje consideradas grandes damas do teatro nacional. Bibi Ferreira, Eva Todor – as homenageadas do volume –, Beatriz Lyra, Beatriz Segall,
Laura Cardoso, Eva Wilma, Nicette Bruno, Norma Blum e Ruth de Souza estão reunidas no livro para compartilhar suas histórias. Convidadas pela jornalista Rogéria Gomes, as nove estrelas concederam depoimento, em primeira pessoa, sobre a sua experiência dentro e fora dos palcos.
Experiências que desvelam, sob o prisma de detalhes tão delicados quanto as histórias acima, não apenas a trajetória pessoal de cada uma delas, mas também do teatro brasileiro.
As páginas de As grandes damas e um perfil do teatro brasileiro cobrem mais de 8
décadas de artes dramáticas, a partir dos relatos dessas atrizes que, na primeira metade do século passado, já protagonizavam a história da dramaturgia. Fatos marcantes da memória do teatro são relembrados. Em 1940, Eva Todor fundou com seu marido a Companhia Eva e Seus Artistas, que levou peças produzidas com expertise nacional a vários países. Pouco tempo depois, em 1944, a jovem Bibi Ferreira estreava sua própria companhia. No ano seguinte, Ruth  de Souza tornava-se a primeira atriz negra a se apresentar no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.


Por trás da coxia

Todas elas mulheres que souberam aliar a força e o jogo de cintura à delicadeza feminina, as  nove retratadas também revelam aspectos pitorescos de bastidores. Dessa forma, o leitor  diverte-se ao descobrir que, antes de se tornar atriz profissional, Beatriz Lyra organizou todo o  plano para a primeira viagem de Fernanda Montenegro à Europa. Depara-se com uma Bibi  Ferreira que se descreve como “uma pessoa simples, sem grandes arroubos, sem sonhos, sem  vaidades pessoais”. Passeia pelo Rio de meados do século XX, quando a então adolescente  Nicette Bruno conseguiu uma audiência com Getúlio Vargas, para pedir sua intervenção numa  montagem proibida. Mas também mergulha nos apertos da ditadura militar, quando Beatriz  Segall teve de enfrentar a prisão do marido, com quem assumira o Teatro São Pedro, em São  Paulo.
A edição também apresenta um breve panorama das artes cênicas no Brasil. Uma linha
do tempo percorre os episódios mais importantes da dramaturgia nacional, do século XVI até os
dias atuais. O livro explica que a arte dramática surgiu no país pelas mãos dos jesuítas, que
fizeram do teatro o principal meio para catequizar os índios; passeia por estilos, companhias e  personagens marcantes, como o teatro de revista, Teatro Experimental do Negro, Teatro de  Alumínio, Teatro do Oprimido, Asdrúbal Trouxe o Trombone, Companhia de Ópera Seca, entre  outros. Compõe, dessa forma, uma ampla viagem pela arte dramática verde-e-amarela.


ROGÉRIA GOMES (Rio de Janeiro,) é jornalista e atua na área de comunicação corporativa. Grande
apreciadora de teatro, a autora vive no Rio.


Trechos do livro
“Sonhos? Sempre grandes demais, por isso nunca dei importância a eles. Meu sonho sempre foi real: a vida e
a sobrevivência. Se cheguei até aqui, foi com muito trabalho, esforço, dedicação, estudo, bom gosto. [...] Mas
tenho dois arrependimentos: um foi ter deixado a carreira de apresentadora de televisão – no tempo do ‘ao
vivo’, adorava fazer televisão, cantava, entrevistava –; o outro, ter desbastado bastante minhas
sobrancelhas!” (Bibi Ferreira, p. 76)
“Se preciso fazer rir, faço, se de repente for necessário fazer cessar o riso, eu consigo. Assim é o gênero que
ficou reconhecido pelo público a ponto de as pessoas chegarem à bilheteria para saber se a peça era ‘gênero
Eva’. Quando a bilheteira dizia ‘não muito’, as pessoas desistiam.” (Eva Todor, p. 87)
                   

 

                                                        

Nenhum comentário:

Postar um comentário