domingo, 14 de março de 2010

Nº 46 - dia nacional da poesia - homenageando os poetas!

COM DOIS POETAS QUE ADMIRO - DRUMOND E QUINTANA

Dia 14 de março

Dia do poeta e da poesia

Parabéns a todos que talham a vida em versos

e a todos que se contemplam nos entalhes, com os entalhes.


meu olhar

verso navegante

pelo teu corpo nu

- folha de papel

Abilio Pacheco - http://www.abiliopacheco.com.br/

"CAMINHAR É COLHER

Vamos nos encontrar no principio,
sem voltar no tempo,
e de mãos dadas nos entregar
a cada passo que o destino
nos espera...

Vamos escutar o tempo
e aprender com sua sabedoria
seguindo a intuição que
vida nos ensinou a colher..

Aprendemos com a vontade,
que caminhar é colher
o gosto amargo do medo
de um mundo onde a fronteira
separa o adeus com a vontade
de ficar...


Rogério Miranda
poeta da paz"

ROSA VERMELHA
Théo Drummond

Quando a rosa vermelha se acabou
e eu me lembrei quão bela tinha sido,
percebi que meu peito começou
a sentir que algo em mim tinha morrido.

A rosa cor de sangue só reinou
um curto tempo para ser vivido.
Devia durar mais do que durou,
ou seria melhor nem ter nascido.

Mas enquanto existiu, como rainha,
as pétalas abertas, rubras,cheias.
mereceu todo o amor porque era minha.

Se duvidares do que eu digo, creias!
Herdei da rosa o que mais belo tinha:
a cor vermelho-sangue em minhas veias.

Théo Drummond

PENSANDO BAIXINHO
(eron)
Aqui, acolá, me deparo com pessoas prepotentes,
"que só querem ser as pregas" (como se dizia na infância...)
Esquecem, completamente que são de carne e osso,
e, quando morrerem, vão jazer no mesmo fosso,
abraçadas à incontinência de sua ignorância !
Quando percebo em alguém essa "falha geológica",
que desestrutura os alicerces de uma boa amizade,
dele fujo, não quero conversa, o contato me faz mal,
não quero ponte, mas dele uma distância abissal,
que nos impeça, evite, acidental proximidade!
A fauna onde reinam alguns desses pernósticos,
está ligada à riqueza ou nos galinheiros do poder...
Ao rico... caberia amenizar a pobreza dos que nada têm,
Ao poderoso... combater o mal, exercitando o bem,
missões que Deus lhes deu, que teimam em desobedecer!
Quem age e pensa assim não pratica a boa convivência,
não se liga que a riqueza e poder são passageiros...
Insensível... nem imagina que existe uma tal felicidade,
e que tem sabor e cheiro o que chamamos de saudade,
plantadas no jardim do coração, em férteis canteiros!



BREVES e MAL ENSAIADAS REFLEXÕES SOBRE O MACHISMO

Quando Deus nos modelou (os machos) e colocou a massa no forno, na região da púbis, o barro não rachou. Pelo contrário, projetou-se para fora, formando uma protuberância, uma saliência atrevida. Esse (feliz) acaso, provocado pelo excesso de alguma substância diferenciada no barro utilizado, supostamente colocou-nos, ao longo da história da humanidade, do lado do poder.
E isso é fácil de explicar: ela significava força, massa muscular, uma capacidade maior de execução dos trabalhos físicos. E isso nos valorizou (os machos).
Nas sociedades primitivas, esse (feliz) acaso nos tornou guerreiros, intrépidos, atrevidos, sanguinários, valentes. Quase sem querer, dominamos o mundo.
As mulheres viviam felizes cuidando das suas tarefas de mulheres e chorando os guerreiros mortos nos campos de batalha.
Mas, rei morto, rei posto, o choro era curto e logo arranjava-se outro macho mantenedor e defensor da prole.
E essa condição não existia só no ocidente. Na China feudal, anterior à Revolução Cultural do Grande Timoneiro, era comum as famílias maldizerem e exterminarem as filhas fêmeas, porque significavam uma boca a mais e uma menor força de trabalho no campo. De certo modo, isso só se modificou a partir da revolução comunista, que em menos de cem anos transformou um país medieval e repleto de grandes injustiças sociais numa grande potência mundial.
Nas sociedades mais modernas, onde a mais valia e a possibilidade do lucro sempre as orientou e ditou as leis, essa condição não só foi mantida como foram criadas regras sociais que a justificassem. Quem quiser que fosse de encontro à elas (as regras sociais)! Sempre estivemos todos nelas enquadrados.
Na medida em que o desenvolvimento tecnológico foi substituindo a força de trabalho masculina pela força de trabalho das máquinas e equipamentos, foram se consolidando as condições adequadas (do ponto de vista do lucro do sistema) para que as mulheres fossem se emancipando e ocupando outros lugares e papeis nas sociedades. Isso sempre rendeu uma aparente satisfação (para elas) e a manutenção do lucro (para os donos do sistema).

Clóvis Campêlo
Recife, 2010


Homem Bomba




Vive para destruir...


Vivido reza explodir,


Ríspido pela demente causa


Arrisca ver o mundo ruir


Homem bomba tomba junto com a confusão.


Da explosão não resta nada


Vindo do silêncio... O caos,


Rindo de todo este barulho o mal


Na forma da síntese que somos


Todos explosivos prontos para deflagrar a qualquer momento.


Não vejo em outro sentimento


Que nos outorgue a paz pelo amor,


Fere o homem a outro com a dor de sua bomba


Naquilo que zomba ser o mais correto,


Mesmo que veja a sua vida se esvair


Morre de rir engasgado pelo ódio,


Propagando o terror de sua bomba


Levando consigo o sorriso dos inocentes,


O bom siso no confuso de nossa mente


Sofre impotente por falta da preciosa compaixão.


Cesar Moura

Dia Nacional da Poesia
14 de março

Século oito nasceu à poesia
Ilíada e Odisséia, antes de Cristo,
Longos anos de célebre história
Homero, seu épico em registro

Viajei contigo em sátira romana
Lucrécio e a natureza das coisas
Horácio, Ovídio, lirismo e fama
Virgílio em Eneida canções épicas

Entre bárbaros a igreja te cultiva
Controle, feito heróico, nas guerras
A força do feudalismo te implica
Os mosteiros te preservam nas eras

Adentra os palácios com lirismo
Fomentam os trovadores as amadas
Platônico amor ou críticas abismo
Renasce o poeta em noites arfadas

Renasceu em Dante, vida tirana
Petrarca um sonetista italiano
Luis de Camões como um soberano
Exilado o corpo a mente se ufana

E foste seguindo na passarela nua
Clássicos, romantismo, realismos
Horas preservas as origens tuas
Outras vezes te louvam modernismos

Tímida ainda estas nas prateleiras
Adormeces por escassez de mãos
Falta o folhear das páginas arteiras
De versos que cantam os rincões

Estou aqui carente de teus versos
Lambo-te como cria querendo afeto
Em rima ou rabiscos sem leis decretos
Liberto cada poetar. Sou sala e teto

SoniaNogueira


CORDEL DA MISCIGENAÇÃO DO BRASIL

(Pequeno Romanceiro em Sete Pés, mostrando a visão de uma Educadora sobre a miscigenação brasileira)

São os livros de história
Repletos de enganação
Iludindo as crianças
E o resto dos cidadãos
Por não ter capacidade
De tudo que aconteceu
Demonstrar sem alienação.

O Brasil já existia
Não foi invento de Cabral
Nem o seu nome se deu
Pelo tão famoso pau.
O Brasil era uma ilha
O índio seguiu sua trilha
Fez daqui seu natural.

O índio aqui chegando
A natureza respeitou
A terra era um bem comum
Dava a todos seu amor
Para quem dela cuidasse
Dividisse o que plantasse
E visse nela seu valor.

Os índios inteligentes
Viviam aqui numa boa
Canoas e redes faziam
Pescavam em rios e lagoas
Sabedores das espécies
Não tinham doenças, nem pestes,
A natureza em pessoa.

A vida espiritual
Dos índios vê-se em seus ritos
Seguindo a sua crença
Expulsavam os maus espíritos
E toda forma de cura
Da natureza mais pura
Era donde vinha o alívio.



Toda a cultura indígena
Valor incondicional
Era tudo repassado
De forma tradicional
Dos velhos vinha a lembrança
Pro jovem, adulto ou criança
Ter um tesouro moral.

Eram seres dedicados
Trabalho e arte fundiam
Sua identidade mostravam
Em tudo o que faziam
Com muito amor e verdade
Com zelo e serenidade
O belo e o bem dividiam.

Cultuavam danças e festas
Também a sexualidade
Por ser de muita valia
A sua fertilidade.
Ouve a criança o ancião
Fincando sua tradição
Em nossa sociedade.

Os índios eram guerreiros
Trabalho bem dividido
O homem ia à guerra
Da mulher era o cultivo;
Fazia também o vinho
E guardava seu carinho
Pro seu retorno altivo.

A guerra era um ritual
Recheado de magia;
Era comum praticar
Também a antropofagia,
Mas acontecia somente
Se um inimigo valente
Ao Tupinambá cedia.

Todos sabiam de tudo
Nada tinham a esconder
Dividiam os saberes
Pra como iguais viver
Não usavam a informação
Por poder ou ambição
Mas para bem conviver.



Chega o europeu sisudo
Como se de tudo dono
Com cartas como cartório
Nessa terra fez seu trono.
O índio em paz não fez guerra
O branco pegou sua terra
Deixa ao índio o abandono.

O Índio ingênuo e indefeso
Ao dominador hostil
Ofereceu sua ajuda,
Mas esse por ser tão vil
Ao índio escravizou
Com sua mulher cruzou
Miscigenando o Brasil.

O português muito esperto
Ao índio deu pá e enxada
Afora crença e doença
Não trouxe quase mais nada.
Nos ensinaram a barbárie
Pondo em nossa alma a cárie
E em nosso lombo uma carga.

Quem por aqui se instalou
Como fosse parasita
Sugando um corpo sadio
Tinha um nome: jesuíta!
E em nome da religião
Pregou a dominação
Da tradição fez desdita.

Com eles veio de tudo
O que não presta e o ruim
O grilhão e a chibata
Escondidos no latim
Tupi vira português
Pra depois virar freguês
A colonização é o fim.

Virando mais uma folha
E continuando a História,
Chegamos aos nossos negros
Numa página inglória
Dos Lusitanos escravos
Antes guerreiros e bravos
Viraram servos agora.



O negro muito sofrido
Sempre foi discriminado
O tormento e a escravidão
São de hoje e do passado
Como outras nações do mundo
Tem como um pano de fundo
Portugal o mundo escravo.

Brancos e negras deitaram
E nossa miscigenação:
Foi a negra uma égua
Foi o branco um alazão
E nesse imenso terreiro
Surge o povo brasileiro
Pra formar nossa nação.

O negro foi resistindo
Na cultura e religião
E a marca do africano
Moldou a nossa nação
Na nossa música, a arte
Na ginga nosso estandarte
No orgulho, nosso brasão

Esse povo diferente
E muito trabalhador
Alegre, sempre contente
Um longo tempo passou
Mas a aflição perpetua
Pois o negro continua
Nas mãos do opressor

O branco, o negro e o índio
São hoje um único povo
São o povo brasileiro
São gente e não um estorvo
Mas os líderes da vez -
Como fez o Português -
Nos querem escravos de novo

E o que se vê hoje em dia
É um espelho do passado:
O Poder se delicia
O Brasil paga o pecado -
Delegamos o poder
A quem só tem a oferecer
O fogo, o ferro e o fardo



E só pra exemplificar
O caos da atualidade
Eu vou dar alguns exemplos
Que não são banalidades
São o nosso dia-a-dia
São nossas marmitas frias
Retratos da crueldade:

O povo agonizando
Por falta de atendimento
Implorando solução
Vivendo nesse tormento
A dengue o povo matando
E a doença espalhando
Por falta de provimento

Nos ameaça um mosquito
E nem dá pra acreditar
Que a um país que tão grande
Um inseto vá amedrontar
Não adianta o veneno
Pois pra quem pensa pequeno
Pouco é muito pra encarar

A mídia chama a atenção
Pra fatos desimportantes
Enquanto tira a atenção
Pros fatos mais relevantes
E a corrupção vai crescendo
E o povo nas filas morrendo
Por falta de informação

Nos mostram novela e jogo
E os jornais só o que vende
Hoje a foto da Estrela
Amanhã de um indigente
Tudo só vai ser de acordo
Com o lucro e não com o povo
Com o dinheiro e não com a gente

E para aumentar o drama
Temos hoje outro dilema
A re-invasão do estrangeiro
Repetindo o velho tema
Chegando com seu dinheiro
Comprando o país inteiro
Novos tempos, velha cena.



Como fizera Cabral
Em nós só enxergam o lucro
Com a força do dinheiro
Nós: os índios; vós: estupro -
No mundo globalizado
Gente é um bicho adestrado
E o mercado um touro xucro

E enquanto isso o brasileiro
Ganha salário indecente
Sem um teto pra morar
Vivendo como indigente
Pra poder se alimentar
Na feira vive a catar
As sobras do prepotente

E hoje o resultado
Dessa miscigenação
É um cego mendigando
Com um diamante na mão
Nos põem nos olhos a venda
Mas a educação desvenda
Dá ao escravo a abolição

Não tem caneta de ouro
Que mude nossa história
Nem martelo de Juiz
Nem medida provisória
Só a nossa Educação
Só a conscientização
Transforma cegueira em glória.

Por isso eu, Educadora
Refleti o meu papel
E para Professor e Aluno
Eu criei esse cordel
Pra dele se apropriar
Seus conceitos renovar
E tornar o abismo em céu.

Nosso país tem um nome:
É o meu Brasil brasileiro
Nossa casa, nosso lar
E não pasto de estrangeiro
Nosso Brasil é do povo
E eu quero poder de novo
Ver meu país altaneiro.



E só pra finalizar
Sem ser último ou primeiro
Não penso ser o melhor
Que qualquer dos estrangeiros
Mas eu grito em alta voz:
Nós somos muito mais nós!
Viva o povo brasileiro!

Sirlia Sousa de Lima


MÁSCARA NEGRA (Lembranças) (12º)

“Você poderia ter sido tudo em minha vida, se ao menos tivesse desejado ser. Dei-lhe minha emoção mais profunda e o mais profundo amor que concebeu meu ser”...
Como é que o J.G. de Araújo Jorge escreve coisas que vêm acertar com a vida das pessoas?
Um dia nos encontramos de repente, naquele tipo de “esbarrão”... Meus cadernos foram ao chão, você pegou e nossos olhos se cruzaram. Só nesse dia fiquei sabendo da sua existência . Depois...nunca mais esqueci. Nosso namoro foi louco. Nunca houve outro igual. Eu era noiva, não podia ter outro em meu coração. Mas, você chegou como a ventania que derruba casas, postes, etc. Em minha cabeça foi um redemoinho de loucura. Nós nos víamos de longe, em recados pelas colegas. Parecia que nos queríamos. Dei-lhe meu retrato e algumas cartas. Só...
Os anos se passaram. Raramente nos vimos, até que chegou aquele CARNAVAL. Ficamos juntos. Eu já era livre... Mas você, seria? Nem perguntei. Parecia um sonho estar consigo por uma noite toda, dançando, tendo meu corpo envolto em seus braços, mascarada, com medo do ciúme de meu ex-noivo. De madrugada pegamos o mesmo trem, rumo às nossas cidades. Ao longe ouvíamos ainda os acordes da orquestra, no Clube. Em nosso ouvido permaneceu, por muito tempo, aquele refrão: “...quanto riso, oh! Quanta alegria, mais de mil palhaços no salão. Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão...”
CARNAVAL...Somos todos palhaços no meio do salão... Mas foi bom..Dançamos, conversamos e foi só. A imagem antiga continuava. Falamos de namoro. Tudo certo... Mas a distância não deixou que nossos destinos se cruzassem novamente. Ou será que nós não forçamos o destino? Sei lá... Só sei que foi uma boa passagem da minha vida. Adoro recordar pessoas que nunca me deram problemas. Meus namorados eram todos tão ciumentos e irritantes!!!
Você fez muito bem à minha mocidade. Acredito que eu também fui, na sua vida, “algo mais”.
E agora? Somente recordações... Jamais esquecerei desta terça feira de carnaval em minha terra natal.
Onde andará você, “ MÁSCARA NEGRA”...

Do livro Rosas e Espinhos

Um comentário:

  1. Hoje, não é o dia do poeta(?),mas aproveito para também homenagear todo aquele que traz, na alma, esse canto infindo, chamado poesia.

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