terça-feira, 20 de abril de 2010

Cassu e Caçu - por José Faria Nunes

Capítulo II

Cassu e Caçu

O CASSU QUE VEIO DE MINAS

No primeiro capítulo reportou-se sobre à tese do alcaçuz que ensejou toda a polêmica. Essa hipótese (do alcaçuz planta) ganhara sobrevida na região do Cassu do rio Claro de Goiás mesmo sendo o topônimo usado desde o início do século XIX em Uberaba-MG onde, desde então, era grafado Cassu - com “ss” (3). À época da elaboração da LOM-Lei orgânica do Município, o topônimo Caçu (com “ç”) assim foi escrito devendo-se à crença na hipótese do alcaçuz.

Inobstante a desconexão da grafia do topônimo Cassu com a aventada corruptela de alcaçuz, um com “ss” e o outro com “ç”, até então ninguém havia se despertado para a contradição. Ou, pelo menos, não havia sobre isso se manifestado. Fosse Cassu corruptela da planta, a grafia seria Caçu, e não Cassu.

E foi com “ss” a grafia em uso na localidade desde a primeira aquisição de terras na região que veio a ser conhecida como região do Cassu, iniciativa do mineiro Pedro Paula de Siqueira que, em 1858(4), adquirira (junto à Paróquia Nossa Senhora das Dores, de Rio Verde-GO) as terras banhadas pelo ribeirão a que dera o nome Cassu.

Pedro Paula de Siqueira, formador da primeira fazenda do Cassu, teria vindo de Uberaba-MG onde, já no início do século XIX, se conhecia o topônimo Cassu(5), nome de ribeirão, de fazenda, de rua e de indústria, tudo grafado com “ss”.

Convenhamos: se Pedro Paula veio de Uberaba e se em Uberaba, naquela época, existia fazenda e ribeirão com o topônimo Cassu, porque ele iria ignorar sua origem e criar uma corruptela com o nome de uma planta ou buscar outro motivo para denominar sua nova propriedade em Goiás e com a mesma grafia do Cassu de sua origem?

A essas alturas nem se precisaria discutir se existia ou não referida planta na região. E nem inquirir se houvera outras razões para a deliberação do pioneiro.

AÇÃO (E OMISSÃO) DO IBGE:

Apesar da desconexão entre “Cassu” e “alcaçuz”, até os anos findos do século XX a comunidade local não questionou essa contradição. Entretanto, já em 1957, (mais de 30 anos após a criação do distrito de Cassu – com “ss” – e quatro anos após a criação do município, com a mesma grafia), o IBGE divulgou, pela primeira vez, seu entendimento contrário à grafia Cassu(5), determinando “interna-corpus” o uso da grafia Caçu e recomendando o seu uso geral.

A ação do órgão federal de geografia e estatística deu-se de forma unilateral, sem ouvir previamente a comunidade cassuense. Quando as lideranças e autoridades locais tomaram conhecimento o fato já estava consumado. Não lhes foi dado o direito de nenhum esclarecimento ou justificativa para que pudessem se posicionar em uma questão que lhes dizia respeito direto. O IBGE agiu de forma discricionária. Impôs a nova hipótese ignorando o direito dos cassuenses de se informarem e de expressarem naquilo que seria de seu especial interesse.

O IBGE, cioso por demais em suas convicções, foi arbitrário na imposição de seu unilateral entendimento. O órgão federal ignorou a origem e ligação dos pioneiros e fundadores do Patrimônio do Sagrado Coração de Jesus do Rio Claro (embrião da cidade de Cassu). Os pioneiros e fundadores, pelo menos em parte significativa, vieram de Uberaba onde à época já existiam um ribeirão, fazendas e indústria com o topônimo Cassu (com “ss”).

Ignorou também aquele órgão federal a gênese do vocábulo Cassu, de origem latina, que teria vindo para o Brasil via França. Cassu é, entre outras significações, assinatura de família, de ascendência francesa e disseminada por diversas partes do Brasil. Em Uberaba-MG e Sorocaba-SP, por exemplo, são vários os topônimos com tal grafia (Cassu).

A família Cassu pode ser encontrada por diversas cidades brasileiras, principalmente em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Hoje essa verdade é fácil de ser confirmada, bastando entrar em sites de busca pela internet, onde se pode localizar infinidade de endereços com o topônimo Cassu e nomes de famílias, inclusive com os respectivos telefones.

O IBGE cometeu um duplo pecado. À época da decisão preferiu a cômoda omissão de pesquisa mais criteriosa. Preferiu o exercício da adivinhação e do achismo, com a manifestação de sua preferência, avocando para si o direito de arbitrar na direção dos destinos de uma comunidade no que ela tem de mais sagrado, que é sua identidade. O direito de autodeterminar sua própria história.

Pecou o IBGE também agora, outra vez pela omissão. Em vez de reconhecer o erro e contribuir para a elucidação das dúvidas surgidas, acomodou-se mais uma vez, preferindo o silêncio. Deixou que se perpetuasse o erro por ele criado. Além da infeliz interpretação, induziu a Assembléia Legislativa do Estado a também corroborar com o erro.

Com o acirramento da polêmica e sua ampla divulgação na mídia, poderia o IBGE ter vindo a público para fazer sua “mea culpa”, sua “mea máxima culpa” e, ao reconhecer o erro, manifestar-se em favor de sua correção. Ma ele preferiu se calar, perder a “bola da vez”.

O MITO DO TUPI:

Não se tem conhecimento das razões do IBGE ao ignorar a grafia Cassu e propugnar-se por Caçu. Sabe-se apenas que, no romance Vila dos Confins, de Mário Palmério, (1ª. Edição, 1956, José Olympio, página 136-7), o escritor escreveu com “ç” o nome da fazenda Cassu, em Uberaba, referindo-se a ela e ao coronel Antônio Borges de Araújo, proprietário da Fazenda Cassu, naquele município mineiro.

O IBGE, por certo, pela novidade e pelo prestígio de Palmério, nem tivesse se interessado por pesquisa alguma, mas tão somente adotou o vocábulo criado por Palmério em Vila dos Confins.

Caçu com “ç”, conforme ilustrado acima, teve sua gênese a partir da ficção de Mário Palmério. Não se pretende discutir aqui o direito criador ou criativo do autor nem tampouco suas motivações. Se ele pretendeu homenagear o idioma tupi, direito dele, não cabe questionamentos. Aliás, a corruptela de caá+açu para originar Caçu oportuniza arranjo lógico. Meritória a atitude do professor, político, escritor, empresário e diplomata natural de Monte Carmelo e notabilizado como uberabense.

Apenas deve ficar claro ao leitor que o fato de Palmério grafar seu neologismo com “ç” não invalida a verdade histórica do topônimo Cassu com “ss”. Em Uberaba o topônimo foi inicialmente atribuído a um ribeirão, seguindo-se, por conseqüente, também parte das fazendas por ele banhadas, a exemplo de Fazenda Cassu, Cabeceira do Cassu e Tamboril do Cassu. Também uma rua e a primeira fábrica de tecidos(*****documento do Estado de Minas Gerais) da cidade ganharam o topônimo com “ss”.

Quanto ao porque do ribeirão do Cassu de Uberaba receber tal nome não se conseguiu documentos que o comprovasse. As evidências levam a crer que o topônimo, que conquistou popularidade naquela cidade do Triângulo, tivesse motivação em uma família brasileira de ascendência francesa. Ainda hoje os Cassu marcam presença em diversos estados brasileiros, entre eles São Paulo, Rio de Janeiro e o próprio estado mineiro, tornando-se motivação de topônimo de logradouros públicos, rios, fazendas, indústrias e, inclusive, pontos turísticos, a exemplo da gruta Madame Cassu na cidade mineira de Coração de Jesus.

Quanto ao IBGE ter estimulado a grafia Caçu, por não ter aquele órgão divulgado sua fonte as evidências levam à provável influência da obra Vila dos Confins onde, pela primeira vez, aparece a grafia Caçu com “ç”.

Refletindo: Em sendo a sede do IBGE no Rio de Janeiro, onde Palmério exerceu o cargo de deputado federal por três mandatos (de 1951 a 1962), período que coincidiu com a publicação de Vila dos Confins (1964); em sendo Palmério cidadão de notória reputação política, literária e empresarial (dono do complexo universitário de então na cidade de Uberaba), plausível é crer na influência de Palmério junto a algum diretor ou alto funcionário do IBGE, quando e onde teria surgido a adesão da autarquia federal à hipótese da corruptela Caçu, de caá+açu então criada pelo escritor de Vila dos Confins e Chapadão do Bugre.

Elogiável a criatividade do intelectual e político, que chegou a embaixador do Brasil no Paraguai. O mineiro de Monte Carmelo que se notabilizou como uberabense, tornou-se ícone por todos os seus feitos. Nem por isso, entretanto, justifica desconsiderar todo um rico acervo documental do vocábulo Cassu, por todas as razões já exaustivamente neste trabalho dissecadas, inclusive a documentada origem latina do termo. Logo a grafia Cassu passa ao largo do disposto na legislação federal do século passado que determina a grafia com “c” ou “ç” nos topônimos originados de idiomas ágrafos, a exemplo de línguas indígenas e africanas.

Teria o IBGE praticado a leviandade simplesmente ter copiado Caçu do livro de Mário Palmério, sem pesquisas e fundamentação teórica que lhe amparasse a decisão? Contudo, nem mesmo com exaustivas pesquisas, se tivesse havido, mas não houve (pelo menos não foram divulgadas), nem assim caberia ao IBGE intrometer-se na questão de topônimos de cidades. Este é o que consta do parecer do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (...): .(reproduzir aqui o trecho pertinente) . .

CASSU E CAÇU EM MINAS GERAIS

Em documentos pesquisados no Arquivo Público, na Câmara Municipal e em cartórios de Uberaba encontrou-se o topônimo Cassu, referindo-se tanto à fazenda Cassu, ao rio Cassu, à fábrica de Tecidos Cassu e à rua Cassu é grafado com “ss”, inclusive em documentos do século XIX e do século XX. Documentos também do Governo de Minas Gerais registram Cassu com “ss”, e não com “ç” (referência bibliográfica), referindo-se à Fazenda Cassu e à Fábrica de Tecidos Cassu.

A tese do IBGE ao defender a grafia Caçu com “ç” pode representar uma das hipóteses defendida pela escritora Lita Chastan, conforme já elucidado no primeiro capítulo deste trabalho).

A própria Lita, entretanto, no mesmo livro, refere-se também à comunidade Cassu com “ss” existente em Uberaba, sem, contudo, entrar no mérito da origem do topônimo com “ss”.

Modernamente o escritor Guido Bilharinho ” (referência bibliográfica), ao escrever sobre o rio Cassu, em Uberaba, escreve Caçu (com “ç”), mas sem entrar no mérito de sua gênese, assim como também não o fez Mário Plamério. Por outro lado a revista Globo Rural de maio de 2009, ao reportar sobre a descoberta do fóssil do dinossauro Uberabatitã, refere-se à fazenda onde o fóssil foi encontrado, fazenda Cassu, grafando o topônimo com “ss”.

Curioso é que, apesar de todos os registros documentais sobre o rio (ribeirão) do Cassu serem grafados com “ss”, recentemente mudaram a placa na rodovia entre Uberaba e Uberlândia passando de Cassu para Caçu. Pode-se atribuir a mudança a descuido do Denit ou à influência dos livros de Mário Palmério e Guido Bilharinho.

CASSU EM GOIÁS

Controvérsias à parte, o certo é que, em documentos oficiais sobre Cassu, tanto nos órgãos públicos de Uberaba quanto em documentos emitidos por órgãos públicos de Cassu e de Jataí (de onde Cassu foi distrito), tudo foi grafado com “ss” antes da intervenção do IBGE.

À míngua de fundamentação teórica que justifique a hipótese de ser Caçu originário do idioma ágrafo tupi, corruptela de caa+açu” ou “cau+açu”, em se tratando do topônimo Cassu, o IHGES-Instituto Histórico e Geográfico do Extremo Sudoeste de Goiás, a Alesg-Academia de Letras do Extremo Sudoeste de Goiás e o Consulado dos Poetas Del Mundo em Goiás defendem como verdadeira a grafia Cassu. Justifica-se o posicionamento dessas entidades com os documentos analisados e a coerência dos fatos com o desenrolar da história, levando-se em conta também a presença da família Cassu (de ascendência francesa) em diversas cidades brasileiras.

Quanto à grafia do topônimo Caçu em Goiás, encontram-se registros somente a partir da intervenção do IBGE, que teria provocado toda a celeuma com sua equivocada interpretação dos fatos. Até porque aquele órgão federal não expôs publicamente as razões de sua decisão. Ao divulgá-la apenas referiu-se a exigência etimológica, mas não declarou quais essas exigências.

QUESTÃO DE ETIMOLOGIA

Ora, a etimologia não nega a existência da palavra Cassu. Pelo contrário, ela existe por inteiro e não dependeu de exercício de imaginação para se inventar uma corruptela. O caso da hipotética origem tupi, sim. Essa é questionável, até porque, em sendo um idioma ágrafo, não encontra amparo em nenhuma literatura pré-intervenção do IBGE, à exceção de Vila dos Confins, romance de Mário Palmério. Ora, em sendo obra de ficção a obra de Palmério, apenas expressa a preferência do autor. E essa preferência não tem força suficiente para se contrapor a toda uma variedade de documentos oficiais pré-existentes na própria cidade de Mário Palmério, Uberaba, no Triângulo Mineiro. E em Goiàs, particularmente em Jataí, município em que o mineiro Pedro Paula de Siqueira e seus irmãos adquiriram terras à margem de um ribeirão afluente direita do rio Claro. (Essas terras, mais tarde, foram vendidas aos que, entre outros, formalizaram a criação do Patrimônio do Sagrado Coração de Jesus do rio Claro, embrião da cidade de Cassu).

Ao que sói acontecer, cabe ao pioneiro (primeiro dono) a atribuição de dar um nome à sua propriedade. Daí ser plausível acreditar que Pedro Paulo tenha sido quem deu o nome de Cassu ao ribeirão de sua propriedade e, consequentemente, às terras por ele banhadas. As de suas proximidades também receberam o nome Cassu.

A título de exercício de raciocínio: se Pedro Paula veio de Minas Gerais, onde já existia um ribeirão com o nome Cassu e fazendas de mesmo nome; se ele atribuiu os mesmos nomes (do Cassu de Minas) ao ribeirão e às suas fazendas de Goiás, quais teriam sido suas motivações? A resposta parece óbvia.

CRIAÇÃO DE PALAVRAS: NEOLOGISMO

Para a contraposição Caçu x Cassu falta respaldo jurídico, filológico e lingüístico à primeira grafia. Senão, veja-se: como o ficcionista tem poder e liberdade para até criar palavras novas, nada o impede de criar também nova grafia para palavras pré-existentes.

Em seu por criativo discricionário o escritor ficcionista pode valer-se de qualquer motivação que lhe aprouver, sem que lhe caiba nenhuma censura, desde que não fira direitos. E o simples surgimento de um neologismo não caracteriza invasão de direitos. A ele (ao escritor) cabe criar, inclusive, por razões de foro íntimo. Este pode ter sido o caso do autor de Vila dos Confins, ao preferir grafar com “ç” e não “ss” em sua forma original o topônimo Cassu, no município de Uberaba.

Embora à época já fosse abundante o número de documentos com a grafia Cassu, Palmério preferiu Caçu. E não deve ser censurado por isso. Até porque, entre outros memoráveis predicativos, o fundador da primeira grande universidade de Uberaba foi o primeiro uberabense a se tornar imortal da ABL. Em seu livro Viola dos Confins ele exercitou o seu direito e seu poder criador. E, como tal, não precisaria justificar porque escreveu como escreveu. E, ao que parece, na verdade não justificou.

Vila dos Confins não tratava (e não trata) de pesquisa científica e nem de obra técnica. Portanto, não teria porque exigir dele fundamentação teórica.

NOS DICIONÁRIOS: TUPI OU LATIM?

Uma vez criada a palavra nova cabe aos dicionaristas, se assim entenderem por bem, registrá-la em seus dicionários. Esse registro, entretanto, cabe somente a ele decidir fazê-lo ou não.

A língua é viva e se renova a cada dia. Mas entre uma palavra nova, entre uma grafia nova e a negação de outra, originária de idiomas diferentes, a distância é estratosférica. A ficcional não pode negar a outra, se esta não tiver caído em desuso. Este não é o caso de Cassu, que permanece em pleno gozo usual.

Além da fundamentação teórica embasada em documentos oficiais, a família Cassu (já mencionada) goza de notória expressão em diversos segmentos da vida nacional, tais como cientistas, pesquisadores, professores, profissionais liberais. Basta uma ligeira consulta em sites de busca na internet, com entrada por “Família Cassu”, para se obter exaustiva lista de pessoas com essa assinatura.

Apenas como mais uma prova de que a palavra Cassu é de origem latina pode-se consultar o “Novo Dicionário Aurélio” (Editora Nova Fronteira S.A – 15ª impressão da 1ª edição - 1975), no verbete em que trata do adjetivo “casso”. Lê-se literalmente: “Casso. [Do lat. Cassu]. Adj. Desus. Cassado, anulado”.

Ressalte-se, a título de curiosidade, que o mesmo volume do referido dicionário traz também o verbete caçuense, onde se lê: Caçuense. De, ou pertencente ou relativo a Caçu (GO). Natural ou habitante de Caçu.

Vale dizer que no verbete caçuense (recorrente do topônimo Caçu) não se registrou a origem do vocábulo, assim como também o idolatrado Aurélio não o fez com respeito ao vocábulo Caçu.

Ora, assim como se deu com o verbete casso, originado do latim cassu, plauzível teria sido que o dicionarista declinasse também a origem do topônimo Caçu. Mas isso também é compreensível, pois nem mesmo Palmério o fez em seu romance Vila dos Confins e, ao que se sabe, também em nenhuma outra de suas obras.

O que induz à crença de que Aurélio tirou o topônimo Caçu da obra de Palmério é o fato do romance Vila dos Confins ter sido incluído na bibliografia do Novo Dicionário Aurélio editado pela Nova Fronteira.

CONFRADES NA ABL - “SS” e “Ç”

Outro fato que pode chamar a atenção do leitor é o de que Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, organizador do referido dicionário, e o escritor mineiro Mário de Ascensão Palmério, foram contemporâneos na ABL-Academia Brasileira de Letras. Aurélio ingressou na ABL em 18/12/61 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Aur%C3%A9lio_Buarque_de_Holanda_Ferreira) e Palmério em 22/11/1968 (http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Palm%C3%A9rio). Os dois foram confrades na ABL a partir de 1968.

Essa informação até que seria irrelevante não fosse o fato do dicionarista Aurélio ter incluído na bibliografia da edição da Nova Fronteira dois romances de Palmério: Chapadão do Bugre e Vila dos Confins, este último já mencionado no presente trabalho. Ora, no dicionário Aurélio, da Editora Civilização Brasileira (terceira impressão da 10ª edição, 1963), consta: “Ortografia de acordo com as Instruções para organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Nacional, aprovadas pela Academia Brasileira de Letras em 12 de agosto de 1943”.

Embora o dicionário Aurélio da Civilização Brasileira tenha sido impresso em 1963 e de acordo com as instruções do vocabulário pela ABL, a obra não registrou o vocábulo Caçu e nem o verbete caçuense. Mas lá já estava o verbete casso. No dicionário Aurélio da Nova Fronteira casso vem do latim cassu.

Se o dicionário foi publicado após as instruções que deram origem ao decreto federal que impôs o uso de “c” e “ç” nos vocábulos de origem ágrafa que representassem o fonema “ss”; se já havia transcorrido cinco anos da intervenção do IBGE no topônimo Caçu em Goiás, pergunta-se: por que Aurélio não teria incluído o verbete caçuense naquele dicionário como o fez com o da Nova Fronteira, após conviver com Palmério?

Curioso de se notar é que o romance de Mário Palmério também já havia sido publicado com a citação Caçu já em sua primeira edição de Vila dos Confins com data de 30 de outubro de 1956 (antes da publicação do Aurélio na Civilização Brasileira que não mencionou o verbete com “ç”). Por que o silêncio do dicionário Aurélio correspondente a tal grafia, pois tratava-se do mesmo dicionário Aurélio?

A resposta parece clara: é que, quando da edição do dicionário da Civilização Brasileira, Aurélio e Palmério não desfrutavam da convivência na ABL. Talvez nem se conhecessem e, consequentemente, Aurélio possivelmente, não conhecesse o romance Vila dos Confins, ainda que de 1956, conhecimento que só aconteceria a partir de 1968, quando se tornaram confrades na ABL.

Ao refletir sobre o fato estranha-se a omissão por saber que, à época da edição do dicionário da Civilização Brasileira, já havia sido criado o município de Cassu (lei estadual 772/53) e o IBGE já havia declarado que o topônimo deveria ser grafado com “ç”. Apesar de tudo isso não foi grafada naquele dicionário a grafia do IBGE “Caçu” e nem o mencionado verbete caçuense. O fato leva o leitor a firmar convicção de que Caçu com “ç” decorreu da amizade e convivência de Aurélio com Palmério, daí a inclusão, anos mais tarde, dos livros do escritor de Uberaba na bibliografia do dicionário da Nova Fronteira, em deferência ao autor do romance Vila dos Confins.

Corrobora a afirmação deste escriba o fato de Aurélio não ter se referido ao idioma de origem do vocábulo Caçu, ao contrário do que fez, no mesmo dicionário, com Cassu, declarado de origem latina. (Op cit).

Como uma coisa leva à outra, Aurélio registrou o verbete caçuense após a leitura de “Caçu” em Vila dos Confins. Antes de Palmério na ABL até que Aurélio pudesse já ter conhecimento da existência do topônimo Caçu, defendido pelo IBGE, mas não lhe chamara a atenção. Agora era diferente. Houvera a interveniência de Palmério.

Para completar a reflexão acima deve-se ressaltar que o verbete “casso” encontra-se nos dois dicionários e, na edição da Nova Fronteira registra-se, inclusive, a palavra Cassu com “ss”, com a informação de sua origem latina. Já quanto à palavra Caçu o dicionarista não menciona sua origem indígena, como querem os defensores da corruptela originária do tupi.

Quisesse o IBGE (esse tivesse competência para tal) ser o suficiente criterioso para sanar todas as questões de grafia com “ss” ou “ç” teria que ser bem mais abrangente. Hoje, mesmo em palavra declaradamente de origem indígena, preserva-se a grafia com “ss”, portanto não foram atacadas pelo zelo do IBGE.

Se a origem é indígena, não poderia ser grafada com “ss”, mas tão somente com “c”. Da mesma forma topônimos como, entre outros, Cassilândia (MS), Bataguassu (MS), Massaguassu (SP), Assu (RN) e Mossoró (RN), conforme o rigor do IBGE, não poderiam continuar com “ss” nas respectivas grafias. O próprio Aurélio registra com “ss” o verbete Cassilandense. De, ou pertencente ou relativo a Cassilândia-MS. Natural ou habitante de Cassilândia.

Outros casos curiosos de grafia com “ss” e/ou com “ç”: a palavra indígena cacique, segundo os dicionários (Lello & Irmãos - Editores – 1967) pode ser grafada também como cassique, e com a mesma significação (chefe ou autoridade superior, ave da América, da Amazônia). Também o Aurélio (1975) menciona Cacique (com “c”) e cassique (com “ss”) tendo a mesma significação.

QUESTÃO DE SEMÂNTICA

Momentos houve em que defensores da grafia Caçu procuraram denegrir a significação do vocábulo cassu, em sua gênese (em sua língua de origem, o latim), procurando levar os desavisados ou menos entendidos de semântica a se voltarem contra o topônimo Cassu.

Para quem desconhece esse termo eis, a seguir, seus significados, conforme o dicionário Arurélio (Nova Fronteira): semântica é a arte da significação. Semântica, em filologia, é o estudo das mudanças ou trasladações sofridas no tempo e no espaço, pela significação das palavras.

Veja o leitor que se trata aqui do estudo a partir do significante, ou seja, partindo do termo do qual se busca o significado. Clareando um pouco mais: pega-se a palavra cassu, da língua latina, e daí, (á luz da semântica) se busca estudar os seus novos significados, trasladados, mudados ao longo do espaço e do tempo, até a chegada dos novos significados recebidos até os tempos atuais.

A partir do conceito (de semântica) acima é que se deve estudar o vocábulo Cassu. Não mais são válidos para os tempos atuais os significados do latim de antanho, mas os significados dos tempos modernos da língua portuguesa. Até porque o latim, como se tentou justificar no documento dos opositores ao uso da grafia Cassu (referência bibliográfica ) , é língua morta. O latim é língua morta, porém, ainda na atualidade, preserva-se uma infinidade de vocábulos vivos, trasladados no espaço e no tempo para as línguas neolatinas, entre elas o Português. Dentre tais vocábulos q ue resistiram ao tempo muitos deles ganharam significações ou significados novos, a exemplo de Cassu.

Como se disse acima, o latim é língua morta, de fato. Morta em termos, assim como mortos estão muitos de nossos ascendentes familiares, de nossos ancestrais, cujas vidas deixaram conseqüências, que estão vivas.

A morte de nossos ancestrais, assim como a morte do latim, não significa o desaparecimento dos efeitos de suas existências. Até porque, se assim o fosse, no caso do latim, as línguas neolatinas deixariam de ter qualquer valor, qualquer significação, simplesmente inexistiriam em seus significantes e significados. Seria o caso do francês, do italiano, do espanhol e da própria língua portuguesa, entre outros idiomas. Reitera-se aqui que são línguas com infinidade de termos oriundos do latim e que estão em plena pulsação, “n” termos latinos que continuam vivinhos, vivinhos.

E, quanto a nossos ascendentes falecidos? Ignorá-los seria ignorar, inclusive, a transferência genética e o direito de herança patrimonial. Nossos ancestrais deixaram a seus herdeiros tanto herança genética quando seus patrimônios materiais e/ou direitos de patrimônio imaterial, como os valores éticos, morais e culturais, entre outros.

A morte, portanto, da língua e das pessoas, não significa a sua cabal extinção. Não significa a plena nulidade das respectivas existências, de suas marcas e conseqüências. Ainda que, por conveniências de uns e de outros, se tente fazê-lo. O que há, de fato e de direito, é a possível evolução no tempo e no espaço, recebendo novas significações.

No caso da língua, a situação é muito mais flagrante, ao ponto de uma mesma palavra, até em uma mesma língua, no caso o Português, ter mais de um significado ou significação. E mais ainda: até mesmo em um mesmo país, no caso do Brasil, dependendo de sua posição geográfica, dependendo da região a que diga respeito, uma mesma palavra pode ter concepções várias, sem que uma invalide a outra ou nela interfira para impor-lhe significado que não diga respeito na concepção de uma ou outra comunidade.

Mesmo que o significado da palavra possa, eventualmente, ser pejorativo para uma comunidade, em determinada região, pode não sê-lo em outra. Pode uma mesma palavra gerar um efeito bem vindo em uma comunidade, a ela caracterizar conotação positiva, ao contrário de outra.

Exemplo? Veja a conceituação da palavra “china”, nas expressões: negócio da china, banana, laranja e limão china (ou da China). Tudo normal até aqui, o que não ocorre com “aquela china” ou “uma china”.

Negócio da China convencionou-se como um bom negócio, lucrativo, vantajoso.

Na expressão laranja, limão e banana china (ou da China), a palavra china é adjetivo, pode indicar, popularmente, origem (ainda que em tempos remotos).

Já as expressões “aquela china” ou “uma china”, em algumas comunidades do sul do Brasil, se atribuída a alguma moça ou mulher, nem sempre têm conotações de todo aceitáveis ou desejáveis. Dependendo da região, do grupo social, conforme a expressão for dita, dependendo do caso ou circunstância, pode até ser expressão injuriosa ou pejorativa. Contudo, trata-se da mesma palavra, na mesma língua, no mesmo país e na mesma época.

Outro exemplo:

A palavra “bacana”, cujo uso atual é expressão de aprovação, elogio. Entretanto pode ser entendido também, entre outras significações, como bárbaro (de barbárie), infernal. (Novo Dicionário Aurélio – Nova Fronteira - 1975).

O mesmo dicionário, ao registrar o vocábulo maravilha, entre seus significados, encontra-se assombroso. Ainda quanto ao termo bacana, já se escreveu também como atribuído ao Deus Baco, portanto poderia, perfeitamente entender como bacanal, orgia, palavras cujos significados podem levar a entendimentos pejorativos.

A palavra indígena cacique, segundo os dicionários (Lello & Irmãos - Editores – 1967) pode ser grafada também como cassique, e com a mesma significação (chefe ou autoridade superior, ave da América, da Amazônia). Também o Aurélio (1975) menciona Cacique (com “c”) e cassique (com “ss”) tendo a mesma significação.

Se a origem é indígena, não poderia ser grafada com “ss”, mas tão somente com “c”. Da mesma forma topônimos como, entre outros, Cassilândia (MS), Bataguassu (MS), Massaguassu (SP), Assu (RN) e Mossoró (RN), conforme o rigor do IBGE, não poderiam continuar com “ss” nas respectivas grafias. O próprio Aurélio registra com “ss” o verbete Cassilandense. De, ou pertencente ou relativo a Cassilândia-MS. Natural ou habitante de Cassilândia.

QUESTÃO DE ONOMASIOLOGIA

Do outro lado da semântica (mudanças ou trasladações sofridas no tempo e no espaço, pela significação das palavras) pode-se encontrar a onomasiologia, cujo estudo parte do significado para, a partir daí, estudar o significante. Ora, este não é o caso da questão aqui estudada, Cassu.

Aqui não se trata do estudo das expressões de que dispõe uma língua para traduzir determinada noção e que parte, pois, do significado para estudar o significante. , conforme ensina Aurélio em seu dicionário. Assim o seria de acordo com os defensores de “ç” no topônimo Cassu.

Para justificar a grafia Caçu os cedilhistas partiram do significado do termo cassu, em latim, para ridicularizar o vocábulo Cassu em Português, vocábulo de tamanha relevância e diversidade de sentidos, conforme já se registra ao longo deste trabalho e de seriedade tal que justifica o alerta do item a seguir, com o título Expressividade da palavra Cassu nos séculos xix, xx e xxi.

Não vem ao caso presente saber o significado de Cassu no passado, mas tão somente o que significa hoje na sociedade brasileira.

O que se pretende neste capítulo é ressaltar o significado da palavra cassu à luz da semântica e nos dias atuais e não dos tempos de antanho.

Atribuir-se a Cassu, hoje, o sentido do latim da antiguidade clássica seria negar a semântica e ater-se outra ciência, a onomasiologia. Seria partir do significado antigo para, a partir daí, estudar o significante nos tempos modernos.

Para se fechar questão sobre o estudo de significante e significado de uma palavra, deve-se levar em consideração toda a filologia, que é o estudo da língua em toda sua amplitude, e dos documentos escritos que servem para documentá-la. E não apenas de um aspecto sazonal, localizado no tempo e ou no espaço.

E, no caso da palavra cassu como se pretende tomar o termo, neste trabalho a documentação não falta. Ao contrário, ela é farta.

EXPRESSIVIDADE DE CASSU NOS SÉCULOS XIX, XX E XXI

A palavra Cassu, na atualidade, deve ser conhecida e reconhecida tão somente em sua significação de expressiva grandeza histórica e social da atualidade, a exemplo de sua significação em Uberaba, em Minas Gerais, Sorocaba e Itapeva em São Paulo.

Para essas comunidades o vocábulo Cassu representou desde o século XIX (ou mesmo antes) e representa até hoje topônimos de fazendas, mananciais, pontos turísticos, indústrias e logradouros públicos. Deve-se elencar também positivamente a família Cassu, representada por profissionais liberais, produtores rurais, pesquisadores, cientistas, professores, trabalhadores diversos que, mesmo anônimos, contribuem para a construção de um Brasil melhor.

A família Cassu tem notoriedade em diversas localidades deste continente Brasil, a exemplo de Madame Cassu que hoje é nome de um ponto turístico de Minas Gerais, a Gruta Madame Cassu, do município de Coração de Jesus. Coincidência ou não, o patrono da cidade de Cassu, em Goiás, é o Sagrado Coração de Jesus, que é também o nome da catedral metropolitana de Uberaba-MG.

Como nome de família, apenas para ilustrar: no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro, Cassu, além de ser nome de empresa, refere-se também, entre outros, à jornalista Ivone Cassu, cuja empresa denomina-se Cassu, Entre outras personalidades por ela atendidas encontra-se o cantor Roberto Carlos, que dispensa maiores referências.

Em São Paulo, no Instituto de Aeronáutica e Espaço de São José dos Campos, a professora doutora Silvana Navarro Cassu é referência no IAE-Instituto de Aeronáutica e Espaço. A professora-doutora Renata Navarro Cassu é professora da Universidade do Oeste Paulista, em Presidente Prudente.

Na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, membros da família Cassu são referências de ruas e avenidas e de empreendimentos empresariais.

Para o leitor que pretender aumentar a galeria de representantes da família Cassu basta conectar-se em qualquer site de busca na internet e procurar por Família Cassu.

Para o Brasil de hoje, para o Brasil dos séculos finais do segundo milênio e o Brasil do Século XXI, o vocábulo Cassu tem significados ou significações absolutamente distintas da antiguidade clássica, distinta dos tempos do Império Romano.

Como já disposto em outro capítulo deste estudo, Cassu hoje significa nomes (assinaturas) de famílias, de pessoas tão merecedoras do respeito de cada cidadão quanto pessoas de qualquer outra família, da mais respeitosa a que se possa referir. Tratar-se pejorativamente a palavra Cassu, hoje, caracteriza-se desrespeito, ofensa, preconceito, atitude enquadrada como punível com sanções penais e/ou civis nos termos da Constituição Federal e dos demais institutos legais que tratam da matéria no universo jurídico pátrio.

Além do disposto no parágrafo anterior, até mesmo em conseqüência do lá disposto, Cassu também é topônimo de logradouros públicos (rua Cassu, em Uberaba-MG; rua Bonifácio de Oliveira Cassu, em Sorocaba-SP).

Cassu é, ainda, topônimo de acidentes geográficos, pontos turísticos e outros referenciais históricos (rio Cassu, Fazenda Cassu, Fazenda Cabeceira do Cassu, Fazenda Tamboril do Cassu, Cachoeira do Cassu, Fábrica de Tecidos Cassu, ambos em Uberaba-MG, além da gruta Madame Cassu, no município de Coração de Jesus-MG).

Ninguém em suas perfeitas condições mentais ou de boa fé ousaria atribuir significados ou significações pejorativas aos entes (pessoas e lugares) que trazem impregnado em seus nomes o vocábulo Cassu.

CASSU COMO HOMENAGEM

A exemplo de Bonifácio de Oliveira Cassu e José Oliveira Cassu, nomes de ruas no bairro Jardim Eden, de Sorocaba-SP, o topônimo Cassu está presente também em registros históricos que se referem ao ribeirão e às fazendas do município de Uberaba, grafados como “do Cassu”, o que deixa entender como “... de alguém”. Exemplificando: quando se fala “Armazém do Vilela” ou “córrego do Macaco”, no primeiro caso dá a idéia de propriedade, pertencente a alguém de assinatura Vilela e, no segundo caso, que na região de tal córrego exista ou tenha existido macaco.

Ora, como quase sempre se escreve ribeirão do Cassu, o fato autoriza o leitor a intuir que alguém da família Cassu tem ou teve alguma ligação, algum vínculo, alguma intimidade com tal ribeirão ou, então, tenha sido alvo de homenagem alguém que, por alguma razão, merecesse a deferência.

Como existe uma numerosa família Cassu no Brasil, lógico seria que o ribeirão do Cassu de Uberaba fosse uma homenagem a alguém dessa família. Walter Cassu de Morais, por exemplo, declarou aeste escriba que o avô de seu, quando criança, teria morado em Uberaba.

Os casos uberabenses de fazenda Cassu ou do Cassu, rua Cassu e Fábrica de Tecidos do Cassu (ou Santo Antônio do Cassu), nada mais lógico do que entender que tudo tenha sido tenha sido ligado, vinculado ao topônimo atribuído ao rio do Cassu. Este, por certo, foi também o caso do ribeirão do Cassu de Goiás, cujas margens foram desbravadas por mineiros de Uberaba.

Se não da região do ribeirão do Cassu mineiro, os pioneiros do Cassu de Goiás, pelo menos por admiração, por alguma razão de foro íntimo, quiseram prestar homenagem ao Cassu de Uberaba.

Essa hipótese de ligação do Cassu de Uberaba com alguém da família Cassu, no entender deste escriba, é mais lógica do que pensar-se em corruptela do tupi “caa+açu” ou “caú+açu”. Até porque nomes de córregos, de fazendas ou de rios, nos idos do século XIX, certamente foram sugeridos ou atribuídos por homens ligados ao campo, à terra, homens que não iriam se dar ao capricho de pesquisar o idioma ágrafo tupi para daí formar uma corruptela. Isso seria coisa mais apropriada a intelectuais que, pretendendo dar explicação aos fatos e por ignorarem as suas razões históricas, inseriram versões geradas da própria imaginação. Os fazendeiros de Uberaba no século XIX não iriam buscar em idioma indígena, e muito por corruptela, topônimos para mananciais de suas propriedades. Essa assertiva não significa dizer que fazendeiro não pudesse ser intelectual. Entretanto mais lógico seria que um fazendeiro fosse escolher um topônimo ligado a suas experiências de rotina, a seu meio de convivência, e lógico seria um nome de família. No caso, uma homenagem à família Cassu.

CORRUPTELA TUPI

Ao aprofundar um pouco mais a reflexão sobre a questão, ao que até hoje não consta na história do Cassu de Uberaba, e muito menos do Cassu de Goiás, é que algum índio tupi viesse a se tornar fazendeiro naquela região. Igualmente se desconhece qualquer notícia de algum índio ter conquistado na região de Uberaba notoriedade histórica e social para, por si só, criar uma corruptela de expressões de seu idioma. Até porque, em sendo o indígena tão ligado a seu habitat, como se sabe que é, na hipótese de vir a escolher um nome para algum manancial, ele escolheria um nome por inteiro. Não iria se dar ao trabalho de inventar nenhuma corruptela. Até porque, por certo, no século XIX, nem conheceriam tal recurso criativo de linguagem.

Essa idéia de corruptela do tupi para o topônimo Caçu, como quer o IBGE e mais alguns intelectuais, só pode ser coisa de branco. Portanto remota é a hipótese do topônimo Cassu vir a ser consequência de apego à valorização da cultura indígena, por exemplo o idioma tupi, no início do século XIX, de quando se datam alguns dos documentos com a grafia Cassu encontrados no Arquivo Público de Uberaba. Os brancos de então na região teriam outros motivos que não os indígenas para nomear suas propriedades.




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