SOMOS TODOS ÍNDIOS
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Todo Dia é Dia da Gente Ser A Gente Mesmo
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“Todo dia é Dia de Índio...” – Rita Lee
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Todo dia é dia de índio? Sim, e todo dia é dia de branco, dia de negro, dia de vermelho (por baixo da pele somos todos vermelhos) e dia de criança, e dia de jovem e dia de gente grande também, todos da espécie humana, da raça humana que somos todos nós, terráqueos. Enfim todo dia é dia da gente ser feliz sendo o que é. Precisando ser. O cantor e compositor Caetano Veloso diz da “Dor e da delícia de ser o que a gente é...”. Sim, porque com nossas origens (pais e mães), raízes (locais de onde viemos, nossas origens), vamos nos fazendo como seres sociais, com nossa personalidade forte, com os adquiridos costumes, lendas, crendices, histórias, referenciais, fatos, fotos, vivências, e assim nos formamos como seres racionais, pensantes, pessoas, cidadãos, humana-gente, vitoriosos, realizados. Sim, todo dia é dia de índio, como cantou a roqueira Rita Lee. E os índios que eram milhões, hoje quantos são? Ou, melhor, já que somos de alguma forma, direta ou indiretamente todos brasilíndios; brasileiros misturados (mestiços), entre brancos, negros (e afrobrasilis) e, sim, índio também, então todo dia é dia de ser brasileiramente índio, bugre. Ou Ameríndio. Ou silvícola. Sim, porque os primeiros nativos da terra-brasilis do pau-brasil foram chamados de indígenas e assim ficou no assento da história. Índios mais claros, mais beiçudos, mais escuros, menos vermelhos, alegres ou tristes, no mato, na cidade, urbanos, rurais, pobres ou ricos, doutores ou operários, mestres ou alunos, somos todos índios, meus irmãos. Claro que não dançamos a dança na chuva, temos Internet pra olhar o Sol-Deus-Tupi no cosmos inteiro, e sabemos olhar sentimentos nos olhos, sabemos ler gestos que se traduzem nas mãos e, às vezes até olhando a lua e dizemos: o tempo vai mudar. E o tempo muda. Coisa de índio, meu irmão cara pálida. Já pensou que índio enrustido vc pode ser? Quem vai negar que é polaco, que é negro, que é índio?. Ou queremos ser todos brancos, ou da cor da polenta, fugir do que realmente somos?. Adoramos dançar. Dança tem tudo a ver com índios. Gostamos de nos pintar. Tudo a ver com termos sangue indígena. Falamos por sons, pois é: somos índios abrasileirados, misturados, mestiços. Mas índios. Já não matamos animais para comer. Compramos enlatados. Mas comemos carne. Adoramos pescar. Mas não temos rios. Então compramos peixe na feira. E adoramos peixes. Não falamos por tambor e nem por fumaças. Mas temos telefones: e batucamos enquanto conversamos. Somos quase pretos e quase brancos, e gostamos de apitos. Nós gostamos de espelho, Narciso, sabe como é. Nós gostamos de usar pouca roupa: que índios fingimos que não queremos ser? Vai encarar? Adoramos uma guerra de sedução...de conquista... de armarmos um barraco, de termos nossa tenda, nossa tribo urbana, admiramos o sol...a lua...as estrelas... que brasilíndios somos, imitando o que não sabemos ser, ou não queremos ser? Pichamos muros...cortamos o corpo...de que tribo afinal somos, sendo uma espécie de Pankararu do asfalto, sem casagrande ou senzala, o totem da TV, mas afiados para sobreviver no mar de arranha-céus da grande metrópole? Gostamos de pedras, de metais brilhantes, de ferros polidos nas orelhas, de enfeites de plástico que vem do petróleo, de conchas, de estrelas do mar, de animais, de muito verde, e não nos aceitamos como uma espécie de índios, dos filhos deste solo os verdadeiros donos. Esta terra tinha dono...tem dono... e aqui na maior cidade da América do Sul, somos todos Índios, “sampaulíndios”. Já pensou que baita índio enrustido vc é. E aí, vc vai negar que é o que não é? Tá com vergonha, se escondendo? Por quê? Quem não está contente com o que é, o que vai fazer do que não é? Nunca podemos fugir de nosso passado. Está escrito na nossa dor, um documento de pele, então vamos pular Carnaval, gritar nosso grito de resistência, gritar, dançar a dança do fogo ou dança da chuva e dizer que somos todos E.T.s? Que falsos brancos queremos ser? Pois é: temos uma identidade que vem além de nós, passa por nós e vai muito além de nós. O que vamos fazer disso, se isso é o mais importante e o básico para sermos o que verdadeiramente somos? Ninguém pode fugir de ser o que é. Temos que trabalhar com o que temos. E o que temos é o que somos. Os maiores atletas, cantores e músicos do mundo são negros. Como não podemos ter honra de sermos de origem africana, afrodescendentes? Vivemos pintados demais e cheios de bijuterias de todos os tipos e feitas com coisas primitivas, em cores primárias, parecemos iguais a uma penteadeira de cigana, e não queremos parecer com índios? I-pod, mp3, celulares, pingentes, que usamos como modernos cincerros feito gado, para chamarmos atenção? Falamos muito, queremos conquistar todo mundo, andamos pra lá e pra cá e não queremos nos olhar no espelho? Usamos milhares de palavras indígenas, moramos num bairro que se chama Morumbi que é nome indígena, temos no Real Parque os índios Pankararu e queremos ser oxigenados filhos da Xuxa? Já pensou? Não podemos viajar na batatinha, como diz a propaganda... Por que alguém pode querer ser o que não é? O que isso quer dizer? Não podemos fugir do que somos, nem da raiz, nem da origem, somos de uma terra-mãe, não há como negar, está na cara. Qual é a sua? Vc já se tocou? Vc já se pintou para o seu próprio orgulho de ser o que é? Devemos nos assumir, mas, como? Essa é a questão... Vc já parou para se perguntar a razão de uma pessoa não se assumir sendo o que é? Sabe, SOMOS TODOS ÍNDIOS, índios da Espécie humana.
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Silas Correa Leite – poesilas@terra.com.br
www.itarare.com.br/silas.htm - Texto da Série “DOS FILHOS DESTE SOLO”
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