PORTA
Théo Drummond
.
Meu coração tem porta que consigo
manter trancada porque me convém.
Evito que a presença do inimigo
possa me perturbar, quando ele vem.
.
Este é um costume meu, bastante antigo.
Aprendi no passado, quando alguém,
um dia abriu da porta o seu postigo,
entrou, fingiu me amar como ninguém.
.
Eu sei o quanto o coração sofreu
quando um dia, saindo pela porta
deixada aberta por descuido meu,
.
Ela se foi, por outro amor levada,
e hoje ao meu coração somente importa
manter a porta sempre bem trancada.
.
ADEUS A MIM
Théo Drummond
.
Adeus à minha casa tão querida
que à sua paz há anos me entreguei.
Adeus à verde grama, à flor nascida
em profudão na terra em que as plantei.
.
Adeus mangueiras, festa colorida
das manhãs de que nunca esquecerei.
Adeus cachoeira gélida e escondida
que me banhava em noites que acordei.
.
Adeus às coisas todas que eu amava,
aos latidos dos cães quando chegava,
adeus ao cheiro forte do jasmim.
.
Adeus aos beija-flores, às cigarras,
romperam-se, afinal, tantas amarras,
adeus tempo feliz, adeus a mim!
.
FALSO MURO
Théo Drummond
.
Morrendo sobre o mar o sol limita
o alcance deste olhar que em vão procura
ver o que existe atrás da linha pura
do horizonte - e esta dúvida me excita.
.
Imagino que seja uma impostura
já que o horizonte nada delimita.
É apenas uma linha, e pouco dura:
separa o céu e o mar, mas é finita.
.
Basta a noite chegar porque no escuro
que a insensatez pretende ultrapassar
não há mais o horizonte que procuro.
.
E então, meu pensamento linear,
entende que o horizonte é um falso muro
posto que há nada para separar.
.
Desculpe o tempo que tomei de você.
Abraço do seu admirador,
Théo Drummond
Nenhum comentário:
Postar um comentário