terça-feira, 20 de abril de 2010

Théo Drummond

PORTA
Théo Drummond
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Meu coração tem porta que consigo
manter trancada porque me convém.
Evito que a presença do inimigo
possa me perturbar, quando ele vem.
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Este é um costume meu, bastante antigo.
Aprendi no passado, quando alguém,
um dia abriu da porta o seu postigo,
entrou, fingiu me amar como ninguém.
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Eu sei o quanto o coração sofreu
quando um dia, saindo pela porta
deixada aberta por descuido meu,
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Ela se foi, por outro amor levada,
e hoje ao meu coração somente importa
manter a porta sempre bem trancada.
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ADEUS A MIM
Théo Drummond
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Adeus à minha casa tão querida
que à sua paz há anos me entreguei.
Adeus à verde grama, à flor nascida
em profudão na terra em que as plantei.
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Adeus mangueiras, festa colorida
das manhãs de que nunca esquecerei.
Adeus cachoeira gélida e escondida
que me banhava em noites que acordei.
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Adeus às coisas todas que eu amava,
aos latidos dos cães quando chegava,
adeus ao cheiro forte do jasmim.
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Adeus aos beija-flores, às cigarras,
romperam-se, afinal, tantas amarras,
adeus tempo feliz, adeus a mim!
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FALSO MURO
Théo Drummond
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Morrendo sobre o mar o sol limita
o alcance deste olhar que em vão procura
ver o que existe atrás da linha pura
do horizonte - e esta dúvida me excita.
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Imagino que seja uma impostura
já que o horizonte nada delimita.
É apenas uma linha, e pouco dura:
separa o céu e o mar, mas é finita.
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Basta a noite chegar porque no escuro
que a insensatez pretende ultrapassar
não há mais o horizonte que procuro.
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E então, meu pensamento linear,
entende que o horizonte é um falso muro
posto que há nada para separar.
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Desculpe o tempo que tomei de você.
Abraço do seu admirador,
Théo Drummond

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