sábado, 8 de maio de 2010

Vilma Duarte

Maio de Mãe
Vilma Duarte

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A gente vai ficando mais velha e deita a cismar. Começa a especular mil coisas que a infância nem sonhou e a juventude apressada pouco se importou em pensar.
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Credita nos anos que vão embranquecendo os cabelos, aumentando medidas, tirando as coisas do lugar e as compensações das cobranças da idade, tais como o discernimento e atitudes mais sensatas...
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Quanto mais vivo, menos sabida me acho. Não é falta de esforço.

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Os olhos reclamam o gasto nas leituras de uma vida, os ouvidos escolhem o que faz diferença e, mesmo assim, a agonia não passa.
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Não consigo ouvir os cedês amontoados, uns nem abertos, ler tudo do monte de livros que me espiam ressabiados nas estantes, reler os clássicos, estudar mais idiomas, ver programas de peso no mundo de canais da TV e nem me perder por sites nunca dantes navegados...
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Ou faço tudo isso... ou deixo de escrever...
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Deus me ajude. Nem pensar. Sem misturar as palavras desnudando as emoções, morreria.
Sou escritora por gosto de passar a esperança adiante.

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Mãe, não. A vida proibiu. Não tenho um filhote de passarinho pra cuidar, mas meu tempo encolhe dia a dia.
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E as maravilhosas parideiras? Como podem ser tão polivalentes e especiais?
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Nesses dias de estafa de falar em mãe me apanhei perguntando:

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Por que mãe há de ser mulher? É discriminação boa? Tem discriminação boa? Essa, quem sabe, pode ser coisa de fada-madrinha por mimo lá do céu.
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Não arrisco um palpite, porque os lugares-comuns já desgastaram todos. Contudo, há que se crer numa razão notável para a importância de um útero de mulher, mesmo com o desconto da tecnologia.
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Não se desmerece o plantio indispensável da semente, mas ser mulher-jardim de terreno abençoado, que nutre, faz crescer, desabrocha e poetiza o mundo, é lindo de comover.
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Sou apaixonada por essas mães que merecem mesmo todos os versos e as prosas.
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Quis tanto ser e ter mãe. Nem a orfandade ou a incompetência que me amputou o útero sem precisão, conseguiram tirar-me esse jeito de mãezona de quem precisar, vivo a repetir. Muito menos, a paz interior que tento passar para o meu semelhante, sempre.
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Respeito essas mães poesia. Abraço as que põem filhos no mundo e os entregam inteiros e íntegros para o mundo. Trabalhando em casa ou fora, se honram o privilégio de multiplicar pessoas, são as fundações que sustentam lares felizes a vida inteira.
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Parabéns, mulheres-molduras da beleza de maio, e pano de fundo dos dias de todos os calendários. Que a força e a coragem lhes sustentem a fé na intermonável missão.
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Um beijo...amor e uma flor.

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