domingo, 13 de junho de 2010

Elane Tomich

CAMAFEU
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Elane Tomich
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Só quem vive imensamente
chega, quem sabe, a um porto,
quem sabe, a lugar nenhum,
chega talvez à meia idade
e de lá, no desconforto
de um buraco no peito
coração pela metade
começando a dar defeito.
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Meio em vez de um,
pois cada um dos ausentes
em nosso peito, presentes
levou de nós um pedaço
de veia ou de batida,
sem melodia ou cadência.
E, na carne carcomida,
sobram restos de indecência
um hiato de carinho,
o terraço do rechaço
um vôo pelo adeus.
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Na vaga de um escaninho
uma carta sem endereço
ou, pior, desconhecido,
desejo de recomeço
danado de dar coceira
quando a roda da fortuna
deu uma volta inteira
e achou coisa nenhuma
além de ilusão ligeira.
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Num retrato esmaecido
rosto de quem?_ escondido!_
descorado, camafeu!
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Elane Tomich
T.Otoni,11 / 2002

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