HEROÍNA SÃO PEDRENSE
ES, São Pedro do Itababoana
2 de novembro de 1930 até 10 de julho de 1980 – in – Rosa Caroli
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Vou falar neste cordel
Fatos entre mulheres,
Rosa Caroli é uma delas
Sendo extraordinária na caridade e no amor
Tinha muito espírito público
Senso de justiça! Fazia da profissão,
Motivada por sua ética: Era líder do povão.
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No dia de finados
Estava na igreja orando
O elo humano e o divino
Estava tão profundo
Lá fora o profano
Sua terra natal, sendo saqueada;
Naquele momento! Naquele segundo.
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Os malditos cabritos revolucionários,
Levaram quase tudo!
Os arquivos da municipalidade,
Móveis e Livros de Tombos, e,
A parte Administrativa de toda cidade,
Estarrecida, tinha visão sem compreender...
Fica a refletir: Por que tanta maldade?
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Pior de tudo e que os homens
Viam tamanha barbaridade, e nada faziam,
Não tomavam qualquer atitude,
Ela começa então a enviar mensagens,
Para todos os moradores
Pedindo confiança e união,
Rosa não entendeu: Só deu mulher na reunião.
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Ela disse: - “Mamãe estava lá me apoiando”
Dirigimos-nos ao Edifício do Fórum
Ficamos revoltadas...
Quase tudo quebrado!
Uns diziam: Agora temos outra cidade
Nova Sede... Novo administrador,
Por ordem do capitão: João Punaro Bley, o interventor.
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Pode observar que os soldados,
Talvez por pressa, ou falta de tempo,
Haviam deixados pendurados
Os lindos lustres de cristais
Que traziam orgulho aos São Pedrenses
Com tantas belezas reais
Vindos da França, a pedido dos intelectuais.
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Lendo o Globo de 17/11/1930, deparei,
Com uma coluna de intrigas e de mentiras,
Dizia a nota: Sr. Octavio Ferreira Gonçalves,
Interventor do Município de São Pedro
Foi ele, que pediu a mudança de Sede...
Na verdade o que aconteceu
Foi à mente poluída de Chefe Politiqueiro.
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Nas mãos de meia ou uma dúzia,
De habitantes de Mimoso
O Senhor interventor
Foi um boneco de molas, ou até um manequim,
Obedecendo a tudo que lhe ordenassem,
Essa equipe politiqueira
Fazia cumprir tudo por inteiro.
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São Pedro do Itabapoana e João Pessoa,
Eram brigas infantis constantemente,
Para São Pedro; João Pessoa era “Curral de cabritos”
E Vice-versa, os chamava de “Ninho da coruja”
Desde o assalto acontecido,
As reuniões de Rosa eram quinzenais,
Dentro da própria esfera, ex-arquivos municipais.
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Professora Rosa Caroli envia telegrama
Ao EXMO.SR.DR. Getulio Vargas
E neste narra toda a armação
Que São Pedro sofreu
De homens a mão armada,
Todo o tipo de humilhação,
Os moradores apavorados saíram sem direção.
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Nesta mesma noite
São Pedro foi assaltado outra vez
Os jagunços foram à sede, da antiga comarca,
Mão armada, despir antigo edifício,
Em trama bem armada contendo viseira,
A mando do Excelentíssimo Senhor
Pedro José Vieira.
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O prefeito de João Pessoa
Respondeu a professora
Dona Rosa Caroli,
Querendo usar diplomacia;
Que os lustres de cristal,
Teriam de pertencer
A nova Administração Municipal.
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Com isso evitaria gastos
Para o cofre público
Tal medida atual exige;
A professora Rosa Carole,
Responde bem assim
Como vou convencer meu povo
Se os Senhores não dobraram nem a mim.
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Vejam bem a delegacia
O grande Hotel Amorim
Vocês compraram
Edifícios velhos reformados
E ainda por cima
Por alto preço
Super faturado.
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Olhem bem esses imóveis,
Todos desengonçados
E ainda vem me falar
De economia...
Que tem de fechar torneira,
Francamente...
Nunca vi tanta asneira.
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Pelo fato acima citado
Não vamos deixar sair daqui
Alguns objetos como os lustres,
Respeitamos a Vossa Senhoria
O motivo que vocês me alegam
Para fazer economia, para mim não pega,
Por favor, já conheço bem essa folia.
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Sempre com criatividade
Pela sua liderança em reunir a mulherada,
Faz um discurso com muita confiança
Os homens caíram fora,
Escondidos atrás de vil covardia,
Só poderia contar com a classe feminina
Defender aquela terra, que ainda restava esperança.
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Os homens de São Pedro estavam apavorados,
Diziam: “Nossas mulheres estão loucas”
Eles estavam com medo e acuados
Disfarçavam enquanto Rosa discursava:
Vamos nos armar,
Eles pensam que estamos malucas,
Mas se for preciso atiramos até na nuca.
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Talvez ela estivesse cansada da injustiça,
Responde ao Senhor Prefeito Municipal:
“Não consentiremos na saída”
De mais nada de nosso São Pedro,
Pois descobrimos que além de pertencer ao nosso distrito
São donos também os outros cinco...
E vocês querem ser donos no grito.
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A professora de alma grande
Apelidaram-na de cangaceira,
Pois a única coisa que ela queria
Era salvar um pedacinho de seu
Espírito brasileiro...
E não causar confusão
Dentro dos distritos inteiros.
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Se fosse preciso a luta armada
Algumas mulheres
Já possuíam em suas moradas
Bazucas, Espingardas, porretes,
Revolveres, machados e um facão,
E outros tipos de armas
Que poderiam causar contusão.
Dois dias depois, vindo do Rio de Janeiro,
Nova comunicação
Da Secretaria de Instrução.
Rosa Caroli lê o telegrama
Transpassou-lhe a alma e o coração
Censurava todos os seus gestos
Sua rebeldia e sua ação.
São muitas mentiras e traições,
É como onda que leva a canoa,
Pois acaba de ler o telegrama
Felicitando-a, assinado pelo político Gambôa,
Dizia ser seu amigo...
Pelo gesto honroso e nobre,
Na causa de muita gente, e na defesa do mais pobre.
Deixando-se levar
Por brigas e intrigas
Ministério da Justiça
Telegrama passou a Rosa,
Afirmando nela ter consideração
Que deveria dar mais atenção
Aos documentos que já estavam em suas mãos.
Cadê a cidadania da professora?
Onde está sua liberdade?
Ela pede ajuda ao Pai do céu:
“Eu pensei em ter felicidade”
Devo apelar pela dama popular,
Darci Vargas, esposa do Presidente,
Uma cristã de verdade.
E assim Rosa lhe escreveu
Esmiuçando os pequenos e os grandes fatos,
Uma narrativa perfeita,
A qual mesma lhe deixa contente,
Narrou-lhe do Município que virou Distrito
E querem levar a vitória pelo grito,
E o povo lhe apelando não ficará contrito.
Rosa sentiu muito confiante
Do retrocesso a se reverter,
São Pedro voltando ser Sede outra vez
Tudo que lhe foi tirado, de volta iria receber,
Pois até o nome de uma Rua de São Pedro
Oswaldo Aranha ia ter
Para lhe honrar e lhe agradecer.
Ele, Ministro da Justiça,
Com carinho lhe respondeu:
Não sou digno de ser homenageado
Com tão mérito congratulação,
Estou bastante emocionado,
Já sinto um pedacinho desse chão
Dentro de vossa emancipação.
A casa de Rosa amanhece cercada,
Muitos soldados e todos armados,
Seu pai, não o censurou, mas fica paralisado,
“Eu não sou brasileiro! Posso ser deportado”.
Aquieta-se pai, se a lei do homem falhar,
Eu apelo pelo divino,
Vou agir sabiamente e com cuidado.
Enchendo de inspiração,
Foi dialogar com um dos Soldados,
Esse lhe aponta o capitão,
Ela caminha... E foi questioná-lo:
“Por favor, mostre-me a ordem”...
De meu lar invadir,
O militar fica sem jeito, e os lábios mordem.
A professora concluiu: Sou cidadã brasileira
Digo-lhe com convicção
Reconheço as Leis de meu País
A não ser que Vossa Senhoria
Arbitrariamente me de ordem de prisão,
Mas aconselho Vossa Excelência,
Pegue seus jagunços, e retornem com o caminhão.
Treme o oficial,
Realmente eu não os trouxe,
Tudo que recebi foi ordem verbal,
Mas por enquanto farei o que a senhora pediu
Voltarei ao quartel, sem lhe molestar,
De ante mão quero lhe dizer,
Outro dia... Outra hora, alguém vai voltar.
Rosa Caroli, sempre culta e prendada,
Resolve fazer tudo perante a Lei e a democracia
Ela não age como professora, mas como uma cidadã comum,
Reedificando via telegrama ao Senhor Administrador,
Chefe do Governo Provisório:
Excelentíssimo Sr. Getúlio Vargas
“Meu Distrito está em luto, espera compreensão”.
Parece que os inimigos de Mimoso,
Talvez meia, ou uma dúzia.
Queiram mesmo é apunhalar-la,
Já que naquela época era muito feio
Mulher querer mandar em homem,
Era isso o que eles pensavam
Mas só pela justiça lutávamos.
Sem que ninguém soubesse
Numa noite de silêncio
São Pedro adormecia,
Rosa retirou da Câmara
Todos os lustres de cristais,
Acabando seus serviços
Ao raiar com os cantos dos pardais.
Colocou os lustres em caixas de madeira,
Foram escondidas debaixo de sua casa
Rente a um baldrame.
Uns montes de lenha retiraram,
E lá colocaram as caixas,
Lenhas que servia para alimentar o fogão,
E foram repostas com muita atenção.
Passados alguns dias,
De repente alguém gritou,
Lá na estrada eles estão vindos,
Foi um corre corre danado,
O pai de Rosa, outra vez, muito emocionado,
Repetiu para sua filha em tom desesperado:
“Filha eu posso ser expulso desse berço amado
A filha tenta acalmar os seus pais,
O pai ainda não era naturalizado,
Rosa foi ao encontro da força policial,
Que nessas alturas, toda a sua casa,
Quartos, banheiro, cozinha, toda invadida,
Eles já teriam passados na antiga comarca
E nada do que queriam foi encontrado.
Tudo! Tudo sendo revistado
Pela força do poder,
Parecia à turma de lampião
Que só mesmo o leitor vendo para crer,
Aquela guerra emocional,
Rosa estava exausta já cansada,
Dentro dessa revolução.
Para completar aquela situação
Acabara de receber
Oficio ameaçador, a sua função intelectual,
Vindo por parte
Do nosso interventor:
“Coloque em disposição a sua cadeira”
Junto ao Órgão da municipalidade.
O homem que trouxe tal oficio
Por coincidência, seu amigo de faculdade,
Vindo de Vitória! Excelente Doutor
Comportamento ético e moral,
Ele lhe aconselha: Devolva o que eles querem,
Se livre dessa armadilha infernal,
Não adianta esses tem a força de um trator.
Rosa reflete a proposta do amigo,
“Você tem razão: Defender o que?”
Pois certa vez o próprio interventor me disse:
“O que está feito está feito”.
Pode responder para eles
Que ganharam no peito
Mas vai ser desse jeito.
Transmita ao Senhor Administrador,
Que certo dia ele mesmo me falou
Quando apresentou seu programa de governar,
Suas propostas eram lindas! A cidadania!
O valor do soberano...
Das consolidações unidas
Aos emigrantes e suas estadias.
Diz a ele também:
Segue anexo meu currículo profissional,
Quando no Estado registrei, foi por mérito,
E não por favores politiqueiros,
Devolvo, Sim, a minha cadeira, está à disposição,
Desde agora, não por que ele quer,
Mas, sim, atendo-me a uma premunição,
Rosa partiu desse Distrito, com a cabeça erguida,
Sua irmã desabafou:
“Rosa era minha grande fã,”.
Uma pessoa encantadora,
Criativa, prendada, e muito inteligente,
Falava línguas diferentes.
Integro era todo o seu dinamismo
Lá na Guanabara, Rio de Janeiro,
Cidade maravilhosa
Ela teve um futuro brilhante,
Integrou-se numa carreira
Bastante empreendedora,
Ganhando melhor salário
Em função merecedora.
O tempo passou... 1980 Mimoso do Sul festejou
A sua data magna, e de Rosa Caroli: Se lembrou;
Comissão de Festas, a ela convidou,
Como filha ausente, querida da cidade,
Receberia singela homenagem,
Mas o desejo dos festeiros não se concretizou...
Talvez esteja ainda ferida.
A todos perdoou!
Hoje na casa do Pai faz morada,
Deus recebeu sua filha amada,
Pois ela retornou de onde veio
Aqui ela deixou uma marcante história.
No ver nela o próximo! Ela o fez,
No que acreditava! Ela plantou
Fiz pouco para expressar o quanto estou grato
Destes versos que digitei com ajuda de sua irmã,
Nilza Caroli, Rumo as cem décadas de vida.
Todo o dia recebe a Eucaristia,
Onde tem verdadeira sustentação
Quem quiser ser feliz, ter vida em abundância,
Deve viver em comunhão, com Deus e com o irmão.
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