segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Leonardo Brant

Multiprotagonismo

Há alguns anos, vivíamos a crença de que as novas tecnologias de informação e comunicação provocariam uma grande modificação nos modos de produção cultural, abrindo espaços e oportunidades para o protagonismo de novos agentes e camadas da população acostumadas apenas a consumir cultura, mas esta realidade ainda está longe de se concretizar.

Os fenômenos mais populares relacionados ao multiprotagonismo audiovisual são, por um lado, a reprodução de padrões e conteúdos massificados, seja por meio de fan-fictions, paródias ou versões caseiras de franquias da indústria cultural. Por outro, a simulação de situações e experiências livres, autônomas e espontâneas, mas realizadas no seio dos grandes conglomerados de mídia, ou por produtores a eles ligados.

Cada vez mais a grande indústria controla as novas plataformas de vídeo online, por meio de uma vigília eficiente e (sumária) retirada do ar de vídeos (supostamente) não regulamentados em relação à propriedade intelectual. Com isso, implementa paulatinamente sua cartada estratégica, com vistas a monetizar as novas janelas de exibição por meio do chamado vídeo on demand. O YouTube, que é o grande ícone do broadcast yourself, acaba de lançar um serviço desse tipo.

A participação do público, aos olhos dos grandes conglomerados de audiovisual e mídia, deve se resumir à propagação de seus conteúdos de forma favorável e controlada. Os espaços de livre expressão estariam, assim, resumidos e prejudicados pela onipresença do cartel midiático.

A história se repete. A televisão e o vídeo cassete já ameaçaram um dia a indústria cinematográfica dominante e já foram promessas de autonomia e liberdade. O que se observa, com o tempo, é a acomodação das novas janelas em conglomerados cada vez mais poderosos e concentrados. A cada novo meio criado, uma nova dimensão do mesmo negócio, a exploração do campo imaginário.

O multiprotagonismo, nessa perspectiva, não significa necessariamente promoção da diversidade cultural.

Não quero minimizar o grande potencial revolucionário da cultura digital. Os efeitos positivos no repertório cinematográfico mundial são perceptíveis. Invadem e contaminam, em termos de linguagem e modos de produção (essas duas dimensões sempre andam juntas), a indústria audiovisual global em toda a sua cadeia produtiva.

Como não se sustentam numa lógica econômica de escala, mas sim de rede e colaboração, esses novos modelos acabam funcionando como meros laboratórios das majors, numa indústria que reproduz e desgasta cada novo elemento de linguagem (clichê), apropriando-se da linguagem e eliminando sua lógica econômica de compartilhamento, substituindo-a pelo star system e pelas franquias multiplataforma.

A presença na web passa a funcionar como uma janela a mais a ser explorada, assim como a sala de cinema, o 3D, o home vídeo, as TVs aberta e por assinatura, o video on demand.

Ainda há muito espaço para se conquistar nas redes e processos colaborativos relacionados ao audiovisual, mas as brechas estão cada vez mais fechadas e os obstáculos difíceis de transpor.

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