A NATUREZA ANIMAL E AS QUIEMADAS
*Irene Zanette de Castañeda
A primavera já é uma realidade. Enche de vida a nossa natureza. As plantas renascem devagar da gravidez das sementes. Os pássaros cantam contentes, anunciando a chegada do campo primaveril. Dançam ao redor das fêmeas, o ritual do acasalamento. Quanta doçura nos gestos femininos! Quanta gentileza na masculinidade do companheiro convidando-a para a formação de um novo ninho! As borboletas coloridas recém saídas de seus casulos abrem suas asas contentes.Buscam o néctar no pólen das flores.! Os animais selvagens preparam suas tocas para o futuro nascimento dos filhotes que continuarão a vida, abrindo seu ventre ao mundo natural. Tantos bichinhos conhecendo este mundo, esperando o paraíso, no útero do mundo primaveril. Assim como a aurora rosada, animando a alvorada, para a chegada do Sol, os animaizinhos e os grandões chegam. As jaguatiricas pintadas, as jaguaretês, no seu reinado, têm nos olhos o fogo encantado. Que onça! Que animal esplêndido enfeitando a mata com suas pintas alternadas, um mar de estrelas negras na pele clara! Uma tremenda gata aumentada de tamanho!. O balançar de suas ancas convida os olhares maliciosos de seu companheiro. Uma bailarina selvagem no meio do verde primaveril. Quando se sente ameaçada por um caçador malvado, sobe na árvore, sua proteção. Mostra suas garras, seus dentes branquinhos e afiados, seu instrumento para conseguir alimentação.. .Passado o medo desce gostoso, deslizando pelos galhos. Encontra o chão e parte de novo para a caça que alimentará os filhinhos de seu coração. Eles estão à espera ansiosos pela grande mãe. Têm que correr a mata. A lei da sobrevivência é clara.. O seu miado impunha poder no mato. Quando o ouvem, os pequenos correm. Salve-se quem puder! Um coro na mata chama a atenção.. Cada um por sua vez, se esconde, depois voltam e vão a busca de alimento para sua sobrevivência animal. As cobras nada temem. Têm, nos dentes, o veneno com o qual se defendem de qualquer estranho invasor. As aranhas tecem suas teias. Barram os insetos. Digerem gostoso a sua presa. Os lobos, quando uivam, lá no alto do monte impõem medo aos pequeninos, aqui, no chão. Os macacos balançam os galhos, assobiam e fogem de qualquer confusão. Os veados gaieiros enroscam-se nos galhos quando fogem apressados do temeroso predador. A natureza é a morada da adversidade animal. Tinham uma vida tranqüila até que o fogo chegou. Salvem-se quem puder! Os grandes fogem de seu habitat natural. Entram nas cidades, um ambiente inadequado a sua natureza animal.. Os filhotes sucumbem torrados na carne de onde ainda sai fumaça. Ainda se vêem os coraçõezinhos pulsando, a agonia se aproximando e sem ajuda de ninguém. Pobres filhotinhos de pássaros mortinhos sem experimentarem o vôo da liberdade! Coitadas das oncinhas indefesas! A mãe correu para salvar-se, deixando-as na toca com esperança de que o fogo fosse apenas um sinistro pesadelo, mas cai depressiva e raivosa. Comeria um homem, agora. Eu me deixaria comer se com isso salvasse a natureza, a animália. Isso os Esquimós me ensinaram. Que mundo cruel o dos homens que destroem a nossa natureza, nosso belo espaço vital, divino, um pulmão natural! A floresta, agora, é cinza. A fuga desesperada para a cidade é a única saída de verem salvos seus filhotes por alguém. Acabou canto,o miado, o vôo animado,a corrida ligeira do veado, a alegria no matagal.. Além do medo passaram a padecer de fome, de doenças nas prisões dos zoológicos, dos ataques dos homens sem coração. Alguém me perguntaria: “O que tem você com a animália? Você uma intelectual... Neste mundo um come o outro.Esqueceu a cadeia alimentar? A você, peço silêncio. Deixe o resto acontecer”. Pensei comigo mesma: “Se entrar em cumplicidade com este lobo, que não é o da mata, os cães deixarão de latir para me defender”.
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