A NATUREZA, OS PÁSSAROS E O AMOR
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* Irene Zanette de Castañeda
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A primavera chegava lutando contra as queimadas. O calor e o frio se alternavam. A chuva chegava devagar. Lutava bravamente contra as fúrias do fogo abrasador que destruía tudo o que encontrava na natureza quase perdida. Coitados dos passarinhos! No meu quintal se refugiavam do fogo, da fumaça. Ah meu Deus! Quanta desgraça aos coitadinhos, já sem ninhos, perdidos por causa da ganância humana! Esperavam um gesto sublime no meu olhar e viam, sem pestanejar, que eram, meus filhos bem protegidos nas árvores do meu quintal. O frio também teimava. Os ventos são-carlenses sopravam impetuosamente. E a neblina teimosa, depois de alguma chuva manhosa, mais a fumaça do fogo expandiam-se na contramão da vida, da natureza ainda viva. A copa das árvores era um mundo acolhedor.Lá os pássaros faziam seus ninhos. Reconstruíam caminhos. Encontravam de novo um novo mundo acolhedor. Ali dormiam gostoso. Quando a manhã chegava, acalentavam os seus filhotes, ensaiavam uma cantiga para anunciar a hora de se levantar, de buscar o alimento. “Mais um pouquinho”, pipiavam os filhotes. As mães, com suas asas abertas, sobre os pequeninos sem penas, aqueciam-nos com o calor do coração. Os sabiás-laranjeira protegiam os filhotes do frio. O quentinho deles era a alegria das mães. A relação entre mães e filhos era uma sinfonia de Amor. E como pipilavam bonito aqueles passarinhos!. A vida continuava depois das queimadas, das tristes alvoradas. Primeiro o frio, depois o fogo, depois a chuva abençoada. Os pardais revoavam. Fugiam do frio voando de galho em galho. Preferiam o pé de carambola, o mais alto e perfumado. O sabiá cantava com alegria a nova morada. A corruíra anunciava o dia. A mariquita, tão apressadinha! O bem-te-vi teimava um canto despertador. E o papagaio imitava os danados.. Devagarzinho, os pássaros deixavam seus ninhos em busca da seiva da vida. Lá seguiam sua aventura contra os ventos, a fumaça e o frio. Batiam suas asas para o mundo. Se quisessem, não voltariam mais. Mas voltavam. O amor de mãe era sagrado. De volta ao lar, traziam no bico a satisfação do desejo dos serezinhos famintos. Estes esqueciam um pouco o frio, batiam as asinhas nuas, abriam largamente os biquinhos, pipiando incansavelmente, e recebiam o néctar da vida regurgitado pelas mães. Tudo era alegria no quintal onde reinavam tantas árvores, tantas flores, tantas frutas temporonas! Ah beija-flores azuis! Um dia salvei a vida de um. Ele entrou na minha cozinha para pedir-me água.. Voava muito alto. Não olhava para baixo. Subiu no forro. Ai! Eu morro vendo-o debater-se lá em cima, desesperado, quase sem vida. Enfim, parou. Acomodou-se cansado. E caiu, o coitado. Peguei-o. Estava desmaiado, tão lindo quietinho na minha mão. Pus água com açúcar no seu biquinho. Vi, então, seu olhinho se abrindo. Fui até a porta e estendi a minha mão. Ele, como um relâmpago, voou. Sumiu na amplidão do céu. Outras vezes, aparecia lá nas árvores e me cantava uma doce canção. E eu vivia como todos os passarinhos a minha natureza. Pensava no amor, não tão diferente. Em minhas noites, sonhava com alguém sem rosto a me afagar gostoso no fogo da paixão. Mas, por onde andaria? Será que ele existia? Seria pura magia? Um fantasma emergindo da profundidade dos meus sentimentos? Ou um deslizamento na música da minha emoção?
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