quinta-feira, 7 de maio de 2015

Anchieta Antunes


Mãe...
         Estou aqui...

         Quando eu era pequeno passava o dia todo correndo de um lado pro outro, subindo na mangueira, chupando manga tirada com a mão, escanchado no galho, balançando as pernas, o cabelo voando com o vento fresco da manhã, o rosto todo sujo de carne de manga; as mãos? Nem me fale! Um horror; ou seja, eu era menino mesmo, com todas as prerrogativas de uma criança solta no campo. Vivia sujo porque corria descalço, rolava na ribanceira do rio, tomava banho com roupa e tudo, e saia mais sujo do que quando entrava. Às vezes apareciam outros meninos da redondeza, e nós brincávamos de todas as maluquices inimagináveis, que só acontece na cabeça vazia de crianças.
         Com a minha baladeira, eu corria pro bosque perto de casa, para matar passarinho. O pobre do passarinho não servia pra nada de tão pequeno. Era só pelo prazer de matar o bichinho. Que maldade! Acontece que criança não tem maldade, mas sim, curiosidade, necessidade de descobertas, de aprendizado com a vida a céu aberto. Todo menino é um cientista, e o laboratório é o mundo ao seu redor. Assim ele aprende a ser adulto, a ter responsabilidade e se casar com uma futura mãe.
         Minha mãe, coitada, passava o dia cuidando da casa e dos meus irmãos – 6 – comigo _ 7 _ .
         _Meu filho, por que você mata passarinho?
         _Porque gosto, ora!
         _Gosta de matar?
         _Não! Gosto de matar passarinho...
         _Mas eles não servem pra nada, a não ser para enfeitar a natureza com seus vôos rasantes nos campos, para cantar, criar seus filhotes e ser feliz como todo passarinho deve ser. Por favor, pense um pouquinho, e não mate mais passarinhos. Eles são lindos e festivos. Deixe-os viver como Deus mandou.
         Ta bom! Vou ver o que posso fazer! Não prometo nada...
         No outro dia já estava com a baladeira em punho olhando para os galhos das árvores, à procura de um descuidado cantor das alvoradas; os seresteiros diurnos.
         Uma mãe, e cada uma delas, é a parcela mais importante da humanidade.
         Uma vez, correndo no campo, desembalado como um cavalo crioulo caí, e me machuquei; um machucado feio, e estava distante de casa, mas eu sabia que mamãe tinha ouvido minha queda e logo viria em meu socorro. Mãe ouve o gemido do filho a quilômetros de distancia, porque ouve com o amor, com o coração, com a pele; o sexto sentido da mãe é o amor, o sétimo, a dedicação e o desvelo, o oitavo, a fera guardada em si para proteger seus rebentos; uma mãe protetora é mais perigosa que um gladiador, mais alerta que um animal selvagem acuado, mais mãe que antes e depois.
         Quando ela chegou eu já havia conseguido ficar de pé, e assim mesmo ela me colocou nos braços e me levou até em casa. Não tenho a menor idéia de como ela conseguiu me levar nos braços até minha cama! Era longe e ela é magrinha, com as pernas fininhas feitas de um aço chamado coragem e proteção.  Hercules estava ao lado dela... Hercules não! O anjo da guarda; não tem outra explicação... ou foi apenas o “instinto materno?”. 
         Quando qualquer irmão meu adoecia, mamãe passava a noite acordada ao lado da cama, olhando, zelando, medindo a temperatura como se fosse uma grande médica, e quando o dia amanhecia nosso café da manhã estava na mesa e ela insistindo para comermos alguma coisa. Continuava trabalhando como se tivesse tido uma longa e maravilhosa noite de sono restaurador. Que nada! Tinha sete filhos para cuidar; descanso é para quem não é mãe.
         Meu pai trabalhava na cidade o dia todo e só chegava em casa de noitezinha, cansado e sujo; um banho, uma roupa limpa e comida no estômago.  Quem preparou o jantar? Mamãe, ora! Quem mais?
         Mãe não é só mãe, é esposa, companheira, amante, dona de casa, é pau pra toda obra, para varrer, lavar, passar, cozinhar, arrumar. É  eletricista, encanadora, professora, leitora, ajuda os filhos com as tarefas de casa. Minha mãe me ajudava com minhas tarefas de inglês, logo ela que mal sabia ler e desenhar o nome dela, alisando o papel como se fosse uma tela onde o pintor (ela) deixaria sua obra prima para a eternidade,   ou seja, cada mãe é um gigante despercebida na multidão de homens fortes e mandões.
         O mais importante é quando uma mulher tem que se preparar para ser mãe; vai para uma maternidade sofrer as primeiras dores da dedicação com o rebento. Eu, homem forte e orgulhoso, já chorei em uma cadeira de dentista. Uma mulher hurra na mesa de parto, chora a dor da maternidade, e logo em seguida amamenta a cria com o maior dos amores, como se conhecesse aquela criaturinha por toda sua vida, aquele pimpolho que acabou de ingressar na vida da mãe, da família, agora constituída.
         Dor! Que dor? Não lembro de dor nenhuma!
         Um casal sem filho é um estado civil bem parecido com uma família... mas, quando nasce o primeiro filho, aí sim, transforma-se, ainda na maternidade, em uma família de verdade.
         Um pai viúvo com um filho não passa de um pai com o filho...
         Uma mãe com um filho, é uma família.
         _Quem são os vizinhos?
         _Uma família que veio do interior.
         _E o dono da casa quem é? Já apareceu?
         _Não! Ela é viúva. É ela e o filho, por sinal muito educado!
         Uma mãe, onde quer que esteja é uma família, uma grande partícula do universo, a seiva que rega a terra gerando rebentos, que procria, que cuida e preserva, que gera, gere e regenera.
         E o comerciante criou o “DIA   DAS   MÃES”  que piada!!!
O dia da mãe é a soma dos 365 dias do ano. Mãe não tem dia, ao contrario, os dias só existem porque as mães estão presentes em todos os seus momentos.
         Seja feliz sempre minha mãe, minhas mães, todas as mães, um universo de sabedoria e zelo.
        
Anchieta Antunes

Gravatá – 09/05/2015.

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