terça-feira, 23 de março de 2010

Ana Merij

_ canção molhada de sal _
a palavra corta a tez da paisagem, corta o tempo

e minhas reminiscências, incisões que olhar bem sabe ler

corta essa dor tão sucessiva, textura de minhas raízes

! corta-me





ainda assim escrevo:

nas letras dos prantos e gritos de minha história

para doer-me nessa canção molhada de sal

para chover-me no pó das velhas estradas

nessa partitura cerzida com os fios da memória







ainda assim escrevo:

para soltá-la aos ventos nos céus de gaivotas

para que voe por horizontes escondidos entre montanhas

semeando essa dor- essa desesperança, em verdes trigais






e rasgo:

-para esquecê-la

-para esquecer-me






quem sabe amanhã, quando eu partir ...

alguém possa reescrevê-la sob a paz de madrigais

[ou ninguém- ou jamais]


nanamerij

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