_ canção molhada de sal _
a palavra corta a tez da paisagem, corta o tempo
e minhas reminiscências, incisões que olhar bem sabe ler
corta essa dor tão sucessiva, textura de minhas raízes
! corta-me
ainda assim escrevo:
nas letras dos prantos e gritos de minha história
para doer-me nessa canção molhada de sal
para chover-me no pó das velhas estradas
nessa partitura cerzida com os fios da memória
ainda assim escrevo:
para soltá-la aos ventos nos céus de gaivotas
para que voe por horizontes escondidos entre montanhas
semeando essa dor- essa desesperança, em verdes trigais
e rasgo:
-para esquecê-la
-para esquecer-me
quem sabe amanhã, quando eu partir ...
alguém possa reescrevê-la sob a paz de madrigais
[ou ninguém- ou jamais]
nanamerij
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