terça-feira, 13 de abril de 2010

Airton Reis

Um só Brasil

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Era um casebre improvisado. Não tinha jardim suspenso, não tinha lago. A cascata descia morro abaixo. A insalubridade foi lavrada em escritura informal. A dignidade humana foi limitada às páginas de um jornal. Todos os pobres e miseráveis viviam ali cada vez mais ignorados. Excluídos sociais se alistavam de eleição em eleição. Todos os maiores de dezesseis anos votavam pela igualdade preconizada pela mesma Lei. Todos os habitantes eram considerados favelados oriundos do tempo do vice-rei. Nem todos os moradores foram avisados dos riscos que corriam. Todos os muros erguidos não solucionaram os crimes que nunca se prescreviam. Todos foram lesados pela falsa cidadania. Todos foram banidos pela falência da democracia. Um ou outro dormia. Poucos sonhavam com o fim da periferia. Mais de uma barriga continuava vazia. Quem nos iludia?

Poderes perpetuados na desordem do dia. Poderes privilegiados pelos mandatários de plantão. Poderes desgovernados diante de tanta exclusão. Poderes equivocados diante de mais de uma mesa sem o pão de cada dia. Poderes alterados em direitos e deveres elencados numa mesma Constituição. Poderes enlatados em predicados nominais. Poderes denunciados em abusos mais que ocasionais. Poderes distanciados das necessidades fundamentais. Poderes nem sempre oxigenados em prerrogativas emergenciais. Poderes herdados em uso fruto. Poderes em busca continuada do absoluto. Poderes em luto decretado pela falsidade. Poderes movidos pela má vontade. Poderes sustentados pela má fé. Poderes submersos num mesmo dilúvio sem Noé.

E lá vem a Copa do Mundo com mais de uma promessa de melhoria urbana. E lá vem a Copa do Mundo no circo da pátria dita republicana. E lá vem a Copa do Mundo para dizer que somos civilizados. E lá vem a Copa do Mundo para o desenvolvimento em nada sustentado. E lá vem a Copa do Mundo em partida sem partilha. E lá vem a Copa do Mundo para a mesma quadrilha sem fogueira de São João. E lá vem a Copa do Mundo na sorrateira corrupção institucional. E lá vem a Copa do Mundo na pratica corriqueira do nepotismo nada oculto em uma nação de dimensão continental. E lá vem a Copa do Mundo desaguar em mais de um estádio alagado em vendaval. E lá vem a Copa do Mundo trazer alegria para o povo relegado em representação política e social.

Enquanto isso, quem tem casa própria construída em área de risco aguarda, mais uma vez avisado, a próxima chuva quer seja na Primavera, no Outono, no Inverno ou no Verão. Enquanto isso, eleitores e eleitoras brincam de médico, de escolinha e de casinha de papelão. Enquanto isso, todos nós embarcamos num trilho sem vagão. Adote seus filhos e filhas pátria mãe gentil! Seja de fato e de direito para todos nós brasileiras e brasileiros um só Brasil!

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Airton Reis é poeta em Cuiabá-MT. airtonreisjr@gmail.com

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