sexta-feira, 9 de abril de 2010

Arahilda Gomes Alves

Cenários

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Cenários
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Há cenários que a natureza cria, de belezas indescritíveis. Como indescritíveis, os mesmos cenários, que a natureza destrói. Ganâncias, cada vez mais cobiçadas, ampliam-se à medida que se alcançam tais objetivos.Torpes,porém,porque,egoístas.Atitudes em que o homem pensa ter o mundo a seus pés.E realmente,se se levar ao pé da letra, esse mesmo mundo,frágil,desmorona-se debaixo de seus pés. Soterram esperanças, ceifam vidas, destroem sonhos, interrompem ideais. Tudo, porque a natureza cobra, quando o natural se artificializa. Chega sem aviso prévio arrastando paisagens. E todo o cenário de um Rio maravilhoso torna-se um rio aterrador.
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Enterram vidas sobre os morros tão cantados em versos, onde, em ritmo frenético batiam-se pés e mãos em compassos de alegria.Enterram fantasias de tantos carnavais, que desfilavam cenas apoteóticas fascinando turistas e olheiros de todos os quadrantes do universo.Enterram os gingados da mulata e seus sonhos.Enterram cabeças pensantes,quem sabe,imaginando muitos carnavais, porvires de um teatro ambulante,cheio de luzes e folguedos.Mirabolantes encenações que só o Carnaval constrói e arrasta para mais longe,como se a realidade se concretizasse em dias momescos.
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Enterram os donos dos morros, vingativos entre facções governando a droga que corre solta, hoje, rolando morro abaixo. Enterram filhos e pais, famílias inteiras, que vislumbravam dos morros, o cenário de uma cidade maravilhosa entrecortada de montanhas e mares. Enterram os brinquedos da criança que dormiu mais uma noite pensando num acordar que não aconteceu. Enterram livros e cadernos nas apostilas de um tempo entrecortado de linhas tão paralelas sem se encontrarem no trajeto da Escola, que ficou tão distante na paisagem nova que a natureza criou.Enterram os passos de calçados chicoteados pela lama descendo encostas apagando o verde esperança na realidade de um marrom cinza lamacento,escorregadio e mal cheiroso.
Aterram as pedras gigantes soterrando casas.
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E na contramão de tantas e aterradoras visões, os braços abertos do Cristo Redentor a chamar o que resta iluminando cada coração através da fé que removeu montanhas transformando-as em cachoeiras ensandecidas e avisando de iminentes perigos.
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A pedra bruta parte-se em cascalhos, como se feridas e sangradas. Mistura-se aos grãos de areia. A terra batida no barro, se esbarra. A sementeira se esvai carregada pelo vento a pousar em lugares onde novas vidas recomeçam. É o morro, que não esmorece na imagem de novos cenários, de novos ares palmilhando estradas. E nas entranhas de constante renascer, novo prontuário de vidas recomeçadas.
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A chuva, depois de esgotada, enfraquecida ante tantos desequilíbrios, cai em prantos arrependida pincelando em aquarela, as cores esperançosas do arco-íris.
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Os exercícios de dor escalados durante as catástrofes provocadas pela natureza abrem-se em corolas de perfumados odores nas evoluções da vida, que continua nas novas cabrochas que deixaram nos obituários do tempo implacável, os passos de novos gingados. E que o carnaval arrebata em magias de novos sonhos!
A Gomes Alves

Um comentário:

  1. OBRIGADA,AMIGA DD

    PENA QUE A MARGEM Á ESQUERDA LEVOU ENXURRADA DE LETRAS... ARAHILDA GOMES

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