ERA UMA VEZ UMA MENINA LOURA
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(8.5.78) DONATO RAMOS
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Ela e um tal de Waldir Pereira moravam no Rio de Janeiro.
Um dia, sem mais nem menos, diz à namorada:
- Eu namoro só pra passar o tempo...
Os jovens de hoje, em sua grande maioria, estão longe de alcançar o ideal da verdadeira pureza cristã e dela estão se distanciando cada vez mais, numa corrida sem precedentes.
Está existindo um rebaixamento moral das grandes sociedades que ninguém se atreve a explicar. Os psicólogos tentam achar essa explicação e todas as idéias e análises se entrechocam estrepitosamente. Waldir disse a frase com tamanha e cínica displicência que a garota, num desespero de momento, atirou-se da janela do apartamento onde morava com seus pais. A polícia do Rio de Janeiro pensou tratar-se de assassinato.
E o que outra coisa não foi, senão de assassinato? Assassínio de um sonho de moça... assassínio de um ideal cultivado durante cinco longos anos de namoro.
As desilusões vão se amontoando nos caminhos dos jovens.
Benedita de Melo, suave poetisa cega, soube descrever ao vivo a desilusão de uma jovem que se viu esquecida por quem lhe fizera as mais veementes juras de amor. Eis, do seu livro, SOL NAS TREVAS, o soneto HISTÓRIA.
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Nos cabelos de sol de uma menina
Jurou ele aquecer-se a vida inteira.
Ela era ainda estudante, pequenina,
Palma nascente de um caudal à beira...
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Separam-se. Ela cresce ágil, franzina;
Desiludida na afeição primeira,
Sua alma a nenhum homem se destina.
Ele casou-se. Ela ficou solteira.
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Quando um sobrinho pequerrucho e lindo
Hoje lhe pede entre chorando e rindo
“Conte-me uma história, conte aquela...”
Ela repete qual se um conto fora:
“Era uma vez uma menina loura...”
E ninguém sabe que essa história é dela!.
E, semelhante a essa pobre menina loura, existem pelo mundo muitas outras, para as quais a vida, em plena mocidade, já bem poucas alegrias oferece.
Umas se tornam poetisas.
Ou, simplesmente, atiram-se do sexto andar de um edifício de apartamentos...
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