Mágoa de um Poeta
(J. Castro)
Procuro nas mais belas canções um som que me embale
E na natureza, uma imagem que me inspire.
Devasso as águas,
As profundezas dos oceanos com seus mistérios,
Os pássaros, os animais, o céu.
Vejo uma estrela: metade estrela, metade mulher.
Os olhos turmalíneos são talhados num rosto de traços angelicais.
Um demônio. Bela.
Os lábios sensuais de morango emolduram com graça
A boca maliforme — a medida exata da mordida do pecado.
Ela desfila seu encanto na relva granítica
Os passantes esquecem o queixo ao vê-la passar.
Sigo sem rumo.
Sozinho.
Com a mente despida,
Os olhos sem viço,
Amaldiçoo a minha existência.
O relógio biológico me censura:
Dezesseis horas. Em jejum.
Na esquina um quiosque.
Procuro uma moeda, a última.
Paro na porta, indeciso.
Ao lado um verme.
Sim, maltrapilho, sobre um vaso de detritos debruçado.
Em volta de seu corpo,
Centenas de moscas zumbem furiosamente,
Disputando a mesma porção.
Então os lábios se me abrem
Numa prece arrependida:
— Oh, Deus, por que me fizeste Poeta?!
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