sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Jonan de Castro Reis

Mágoa de um Poeta

(J. Castro)

Procuro nas mais belas canções um som que me embale

E na natureza, uma imagem que me inspire.

Devasso as águas,

As profundezas dos oceanos com seus mistérios,

Os pássaros, os animais, o céu.

Vejo uma estrela: metade estrela, metade mulher.

Os olhos turmalíneos são talhados num rosto de traços angelicais.

Um demônio. Bela.

Os lábios sensuais de morango emolduram com graça

A boca maliforme — a medida exata da mordida do pecado.

Ela desfila seu encanto na relva granítica

Os passantes esquecem o queixo ao vê-la passar.

Sigo sem rumo.

Sozinho.

Com a mente despida,

Os olhos sem viço,

Amaldiçoo a minha existência.

O relógio biológico me censura:

Dezesseis horas. Em jejum.

Na esquina um quiosque.

Procuro uma moeda, a última.

Paro na porta, indeciso.

Ao lado um verme.

Sim, maltrapilho, sobre um vaso de detritos debruçado.

Em volta de seu corpo,

Centenas de moscas zumbem furiosamente,

Disputando a mesma porção.

Então os lábios se me abrem

Numa prece arrependida:

— Oh, Deus, por que me fizeste Poeta?!

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