Carlos Lúcio Gontijo
Recebemos mensagens virtuais provenientes de todos os lugares, com o mais variado conteúdo e expressadas por todo o tipo de gente. Contudo agora, em tempo de campanha eleitoral, nos são remetidos em grande volume e-mails pautados em assunto político. Muitas são as pessoas que ainda alicerçam o seu discurso contra o presidente Lula na sua baixa escolaridade, esquecendo-se de que o secular descaso brasileiro para com a educação nos levou a ter tanto na Presidência da República e quanto na vice, com José de Alencar, representantes fiéis do quadro educacional que ostentamos. E o mais grave é que, na maioria das vezes, os próprios emitentes do discurso inflamado não são portadores de histórico escolar muito diferente do presidente Lula e, a exemplo dele, padecem de aversão aos livros e pouco ou quase nada leram em sua trajetória de vida.
Muitas vezes costumamos criticar os nossos representantes congressuais, que são amantes do velho hábito de arrumar um jeitinho para tudo; que tiram todo proveito possível dos cargos por eles exercidos; que praticam nepotismo; que se julgam acima da lei e a colocam como instrumento a ser seguido pelos outros e não por eles mesmos; que se dizem honestos, mas jamais perdem a oportunidade de praticar falcatruas; que implementam ações contra o preconceito e, todavia, o praticam em todas as suas formas; que protestam a favor do fim das desigualdades sociais desde que a conta seja paga pelos outros; e que proclamam a necessidade de termos um país mais justo, mas elaboram leis repletas de brechas, para que os mais bem aquinhoados possam contratar bons advogados e se livrar da prisão.
Enfim, a insofismável realidade é que nossos representantes públicos advêm da sociedade e devem ser tomados como o mais puro reflexo do que verdadeiramente somos. Ou seja, não são provenientes de outro planeta, não são alienígenas e, ainda que neguemos, eles são o retrato três por quatro de cada um de nós quando emergidos do anonimato, são coisa nossa como nos diz o povo, que por seu turno é cidadão também visto como alma penada de outro mundo – uma espécie de terceira pessoa, pois não se sente povo quem dele fala nem aquele que sobre ele ouve falar.
Porém, retomando o assunto que nos levou à iniciativa de escrever este artigo, recebemos do advogado e escritor João Silva de Souza alguns exemplares de seu terceiro livro intitulado Temporão, versando sobre direito do consumidor e as mazelas políticas e socioeconômicas que nos rodeiam, às quais destemidamente o cidadão João Silva de Souza sempre enfrentou, denunciando-as algumas vezes com prodigioso sucesso junto às morosas instâncias judiciais. Com responsabilidade e extremado zelo, endereçamos os exemplares de dispúnhamos a pessoas nas quais reconhecemos gosto pela leitura e também a bibliotecas, onde bibliotecários (quando existem) sem qualquer sensibilidade inserem o livro doado nas estantes solitárias e são incapazes de enviar um simples e-mail de agradecimento ao autor, que muitas vezes se sacrifica no custeio de caríssima edição independente, mesmo ciente de habitar um país de baixíssimo índice de leitura, onde não lêem nem o presidente da República, nem os seus fiéis correligionários nem os seus renitentes detratores.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
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