quinta-feira, 25 de novembro de 2010

DIRCEU THOMAZ RABELO

Um homem chamado solidão.
Dirceu Rabelo
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Sô Moço nasceu Joaquim Santana, mas poderia muito bem ter recebido na pia batismal, o nome de Joaquim Solidão. Pobre, negro, sem estudos, nascido na roça e ainda por cima, desde pequeno, mostrou-se meio aluado, quieto, tristonho e de pouca conversa. Ainda menino, mudou-se com a família para a cidade, onde fazia pequenos serviços como capina, corte de lenha, etc. Os garotos da cidade descobriram que ele se irritava se o chamasse de certo apelido; aí então, ele começou a reagir, correndo atrás deles e jogando pedras. Uma de suas irmãs o levou para Belo Horizonte para morar com ela, mas foi só ele sair na manhã seguinte para comprar pão, para desaparecer.
Depois de oito meses de sumiço, Elizeu Thomaz passou por ele na BR 381 na altura da Cenibra, entre Ipatinga e Governador Valadares; cabelos, barbas e unhas enormes e precisando urgente de um bom banho. Elizeu parou o carro e o cumprimentou. Ele prontamente reconheceu o conterrâneo. Perguntado sobre o que estava fazendo, respondeu que “estava correndo o mundo”. Ele ficou nesses oito meses mendigando estrada a fora, dormindo ao relento e vivendo da caridade alheia e sob os olhares temerosos das pessoas que não o conheciam.
Elizeu acabou levando-o para Virginópolis, onde recebeu uma geral de um barbeiro da cidade, um banho no capricho e roupas limpas. Depois de bem alimentado ele ficou morando num barraco próprio com pessoas que tomavam conta dele.
Numa viagem que fez a Dom Joaquim, Elizeu recebeu o pedido de Rui de Figueiredo e Joaquim Violeta para trazê-lo de volta. Chegando a Virginópolis, Elizeu ficou sabendo que Sô Moço, “o cigano negro” já tinha dado no pé. Só foram encontrá-lo depois de uma semana, em São Pedro do Suassui.
Depois de mais uma geral nele e nova troca de roupas que já estavam imundas, Elizeu pode enfim trazê-lo para Dom Joaquim e o entregou à sua família.
Elizeu conta que Sô Moço sempre foi muito seco, sem emoções aparentes, mas na chegada, quando ele reconheceu as primeiras casas de Dom Joaquim e principalmente quando ele viu a torre da igreja e depois a capelinha, chorou copiosamente e alto, muito alto, sem querer esconder o choro de alegria e saudade intensas.
Voltou a capinar quintais e não comia nada de origem animal; nem carnes, mesmo branca, peixes, ovos, queijo, nada! Às vezes, nós brincávamos com ele:
- Sô Moço! Vá lá em casa e capina meu quintal, que eu faço um frango com quiabo e torresmo pra você.
Ele respondia de imediato: Brigado! Num quero não! Eu gosto é de angu com gondó e “abroba” d’água com quiabo.
Sô Moço morreu novo. Tinha no máximo 42 anos. Sempre triste, sem sorrir; um poço de solidão.

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