segunda-feira, 30 de abril de 2012

14 - 12 - DIVULGANDO POETAS ASSOCIADOS

httpblogspot.comhttp://expressaomulherblog.blogspot.com.br/2011/03/delasnieve-daspet.html
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14 - 12  - DIVULGANDO POETAS ASSOCIADOS



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sertão


assim se é por ser
gavião-andorim campeia
pia altas nuvens de seda
vê de cima
de dentro do capim
raio desce do céu branco
mais clareia
fere o vento com o bico
foi o fim do firi fim fim
de pássaro pssarrm


do que nos olhos da gente se divulgou
minutil alegria


sertão


assim se é por ser
gavião-andorim campeia
pia altas nuvens de seda
vê de cima
de dentro do capim
raio desce do céu branco
mais clareia
fere o vento com o bico
foi o fim do firi fim fim
de pássaro pssarrm


do que nos olhos da gente se divulgou
minutil alegria
JEVARE- jevare@uai.com.br
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 Dia das Mães
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É só clicar:
Ivone
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Homenagem às mães!

Nem mesmo o código misterioso da comunicação foi capaz de rimar este nome perfeito: Mãe! Foi preciso traduzi-lo em versos, flores, abraços e homenagens o afeto singular da Mãe!
Os símbolos se juntaram para indicar o verdadeiro lema desse amor tão puro e o som perfeito produziu o verso da canção: Mãe!
Não é necessário o discurso inflamado, a palavra bonita, a inspiração. Em qualquer berço, a proteção, o calor e a sinceridade dessa figura inigualável insinuam a presença forte da Mãe!
A aproximação do DIA DAS MÃES ameniza a aridez espiritual dessa humanidade, na sua maioria órfã. E chega o momento da reflexão, quando o amor é avaliado. Mereço ser mãe?
Ter um filho significa o compromisso de coautoria da vida com Deus - Autor da vida. É contrato infinito. Em cláusula única se resume o amor. Amor que se esforça o tempo todo para se aproximar do verdadeiro Amor e, quando se imagina sublime e forte, o vendaval das lutas da vida o inunda de lágrimas. Ele se fortalece na oração.

Ø      Mãe - resposta do questionário dos deveres de casa.
Ø      Mãe – palavra-chave das lições iniciais de cada dia.
Ø      Mãe - cada instante soletrado na cartilha da vida vai alfabetizando o amor.
Ø      Na última série de todos os graus, o amor torna-se adulto, ajuizado: Mãe-avó.
Ø      Mãe - enciclopédia dos sinônimos do amor.

© No DIA DAS MÃES e sempre, oramos por você, que luta sem manchete nos jornais: Mãe anônima,
©  Oramos por você, Mãe, que vê ao redor seus filhos: Mãe idosa.
©  Oramos por você, Mãe, na saudade e na solidão: Mãe sozinha.
©  Oramos pela Mãe, cujo filho estagiou somente no coração: Mãe adotiva.
©  Oramos pelas MÃES do mundo inteiro e, ao redor do planeta, juntam-se mãos e dobram-se joelhos, numa prece sincera ao Supremo Criador do Universo: Deus a abençoe, mãe online virtual e presencial em @ no coração global.

Extraído do livro Escola Comunitária – 4ª edição
     Ivone Boechat
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O poeta

O POETA  SEMPRE MENTE.
MENTE O QUE VÊ E SENTE.
MENTE DEVAGAR E SEMPRE.
E ATÉ, AS VEZES, DE REPENTE.

*luizcarloslemefranco*
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MÃE
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 Uma grande lua na escuridão da necessidade.
Um sol energético no dia a dia da vida.
Um braço inatingível  nas tarefas desagradáveis.
Uma receita divina nas doenças da alma.
 Saudade incomensurável  pra quem não mais tem.
Recordação diária para  os que precisam estar longe dela.
Presença constante no cansaço  da lida.
Vida constante pela  vida dos  outros.
Vida única na sua vida própria.
Uma lei diz “honrar mãe” importa de quem.
A palavra é  pequena,  o  significado, enorme:
Todos  têm, pobre, rico, homens e mulheres,  e até Jesus.
A palavra mãe é uma trindade de letras de amor ilimitado:
m de mulher : a de amor , e de eternidade
pois todas ficam na lembrança de todos para sempre.
Assim seja.
lemefranco 
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Pai, Filho, Espírito Santo
*luizcarloslemefranco*

Pai, Filho, Espírito Santo,
Pai,madrasta, enteado,
E filho, cada um com seu desencanto,
 padrinho, ás vezes desconsiderado,
pai, mãe sem filho em pranto,
pai adotivo  até  prestigiado,
pai,filho e neto em bom recanto,
pai, filho, e avô bem entronizado,
pai,mãe, filho e avô, eu garanto,
formam um lar com amor elevado,
com a primeira trindade em  seu canto.
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É  O FIM  DO  MUNDO
**luizcaloslemefranco**

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È o fim do mundo,  ouve-se quando algo ruim  tem acontecido.
É o fim da picada, escuta-se quando alguma cousa não dá certo.
È o fim dos tempos se diz quando um desapontamento é sentido.
É o fim, simplesmente, fala-se de um aborrecimento por perto.
 .
É o fim sim, mas não destes  que vemos acima nominados.
É o fim da moral, do lar inviolável, da solidariedade, da educação.
É o fim da honestidade, da honra, dos princípios valorizados,
é o fim do alimento saudável, da graça, do amor no coração.
 .
É o fim da linha, é o tema para quando acaba nosso percurso.
Morro e  não vejo tudo, é o fim do crível e uma enorme decepção.
Cessar fogo é usado para por fim a uma idiota guerra em curso.
Fim do caminho é falado para dar um basta a uma pretensão.
 .
‘tô fora, é o fim de um mal negócio ou um relacionamento.
Eu, hein, é o fim que eu ponho em algo antes de o começar.
Sai desta é  conselho para se dar fim a  um comprometimento.
Não mais quero ver, usa-se caso não se queira de alguém aproximar.
 .
Porém, de verdade, fim do  mundo, acabou, fuja, fique a esmo,
fim de tudo, saia daqui, vá embora, acabe com isto, tudo é demais,
 fim de papo, é quando a gente não se encontra com a gente mesmo,
acontece no momento que a gente  própria não é gente mais..
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inATIVIDADE
Tufic Meokarem,29/04/12
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Amanheci  disposto
Vibrante, alegre.
Disposto e empenhado
A não fazer nada.
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O dia será ótimo,
Ensolarado, lá fora.
A TV ligada, sem som
O sofá acolhedor...
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A geladeira, coitada,
Sofrerá aberturas de porta
Muitas e muitas vezes.
As petiscos tremerão...
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O cabelo está desgrenhado
A blusa é a que dormi
A boca está escovada
A barba por fazer
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Coisa boa, o telefone tocará
Até cansar ou derreter
A campainha soará
E ninguém para atender...
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Coisa boa, sô!
Sem compromisso com o futuro
Nem com o passado
Muito menos com o presente.

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               CIGANA ADORMECIDA
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            Eu quero a paz da cigana;
            Da cigana adormecida!
            Com seu cajado errante
            Deitada sob o manto luz.
            Seu alaúde sonoro
            Bordado de girassóis.
            Em sua jarra o segredo
            Dos tesouros dos Faraós.
            No travesseiro a saudade
            Adormecida no claro!
            Sobre os grãos do deserto,
            O AMOR...
            Do leão que vem beijá-la
            Para juntos unificarem
            Os raios d'aurora lunar.
            Noite de mel de luar
            De um eterno caminhar
                           Darcy Girassol -Natal,R.N.Brasil
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Encanto de Sereia
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Avistei-te as pedras em sua beleza
Seu canto hipnotizante que atraiu
O seu olhar terno e misterioso... Sereia
Despiu-me os sentidos, enlevados ao mar.
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Como pérola destacou-se em lua branda
Prateadas e mágicas escamas sensuais
Queria um beijo e você a minha alma
Devorar-me-ia em seu leito de oceanos
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Sereia cante seu amor aos marinheiros
E o seu feitiço espalhe ao vento minuano
Sereia despe-se de peixe em maravilha
Mostrando o corpo que só Deus a de esculpir
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Sereia e morte aos felizes apaixonados
Arrebatados nas magias desse encanto
Enquanto um beijo que deságua em profundezas
Saciará da mulher-peixe todos os prantos
             Jonas Rogerio Sanches
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SONETO DA BUSCA
-    Carlos Pena Filho
-.
Eu quase te busquei entre os bambus
para o encontro campestre de janeiro
porém, arisca que és, logo supus
que há muito já compunhas fevereiro.
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Dispersei-me na curva como a luz
do sol que agora estanca-se no outeiro
e assim também, meu sonho se reduz
de encontro ao obstáculo primeiro.
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Avançada no tempo, te perdeste
sobre o verde capim, atrás do arbusto
que nasceu para esconder de mim teu busto.
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Avançada no tempo, te esqueceste
como esqueço o caminho onde não vou
e a face que na rua não passou.
-.
Poema extraído do livro A Vertigem Lúcida.
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O que eu queria
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O que eu mais queria

era te ver todos os dias,
te acompanhar pelo caminho,
sentir que tenho o teu carinho.
Ver-te bem perto de mim,
talvez na tua mão pegar,
e com o passar dos dias,  mais
juntos andarmos, mais amigos
ficarmos, até o momento certo
do eu  a  ti me declarar.
Melhor ainda seria,
você me aceitar,
assim ficaríamos iguais ,
não seria só eu, a te amar.
         Roldão Aires
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DEUS PARA MÃE
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Só Deus sabe:
Por onde anda o tempo
Como se abrem as portas
O que é chorar com antecedência
O caminho mais curto
Como se chegar à humildade
Que o perfume da flor
Às vezes está na raiz...
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Só Deus sabe:
Quando os olhos fecham-se
Que a saudade é uma caridade da felicidade
Onde se guarda a esperança
Quanto custa sentir piedade
Para que servem tantas vidas
Que o frio nem sempre está lá fora
Que a paz não vive sozinha...
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Mas,
Só uma mãe sabe quem é seu filho
E mesmo assim, antes ele conhece a Deus.
Nadilce Beatriz
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Eis as duas mais recentes páginas Oficina Poética do jornal Diário da Manhã. 
Nelas faço homenagens às cidades brasileiras.
Se tiver um tempinho e quiser dar uma olhada é só clicar sobre os links:

Elizabeth Caldeira Brito
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POR UM MUNDO A PAZEAR!
(Maria Barros)
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O mundo gira tudo vai passando...
E todos os dias, sempre tudo igual!
E a ferida que dói só vai chorando
O que o mundo nem vê seu crucial!
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E o desamor tomando posição,
O respeito virou caso d’ humor
A impunidade vil aberração,
Traz a indignidade e fere o amor!
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Vejo crianças sem teto, ao léu!
Jovens sem direção [na contramão],
Vejo adultos confusos só a imputar!
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O planeta sofrendo nesse incréu
E vai e vai girando em aversão...
... Só mesmo o amor p’ra vir nos alcançar!
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Carácter.

A mata que existe por trás do meu quintal
chama por mim
Ensaio passos lentos e imperfeitos…
o momento de deter-me defronte
duma realidade inusitada é mágica!
A minha mente é como a calma
que impera sobre as folhas
que se desligam dos ramos das árvores
A atenção que dispenso no percurso
que percorrem assemelha-se
a estar preso por um fio de cabelo
diante do abismo!
Agora, vejo a lógica de viver
livre de todos impositivos normativos.
Aceito a dignidade de morrer hasteando
a essencialidade do carácter.
           Dinis Muhai é poeta em Maputo
                  dinismuhai@yahoo.com
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Estranha ideia de poesia

                                Admiro
                                afiro,
                                confiro,
                                defiro,
                                profiro,
                                refiro,
                                respiro,
                                transfiro
                                todas as formas
                                atos e ideias
                                que não foram meus,
                                por isso me retiro,
                                antes que venha
                                o misericordioso tiro.
                                De onde este viria
                                não o saberia dizer,
                                nem a mim
                                nem às pedras!
                               Daladier Carlos
                                28 abril, 2012
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             TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (17)
                                   WALTER SILVA

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   Estou seguro de que uma generosa dose de música uma vez por semana, deve ser saudável tanto quanto caminhar uma hora por dia.  A propósito da assertiva, perplexos que ficamos com a educação básica dos nossos dias, estranho tristemente que se haja eliminado a disciplina música, dos currículos escolares.
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  Houve um tempo em que, mesmo sem declinar talento ou não, as crianças podiam ter acesso ao mundo maravilhoso da música, erudita ou popular.  O privilégio que tenho de haver estudado em escola pública, deveria se ampliar para todos, indiscriminadamente, com a mesma importância da matemática (que a maioria diz detestar) e português (que a mesma maioria não aprende porque não lê).
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  Na escola pública, até os anos sessenta, se podia estudar latim ou grego e se podia optar por ser membro de uma banda de música, no meu caso específico.  Talvez à sua falta,  atualmente, a desculpa que mais se ouve, em relação a tais assuntos é sempre: falta de paciência para ler, preguiça mental para aprender símbolos ou, no caso da música, confundir gosto com ignorância musical.
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  Curiosamente, no papel de assíduo degustador de boas doses semanais da invenção de Orfeu, resolvi traçar um paralelo entre o frevo “Último dia” de Levino Ferreira da Silva (1890-1970) e a “Quinta sinfonia” de Ludwig Van Beethoven (1770-1827).
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  Se não sabe o ínclito leitor, ambas as peças estão em tom menor e começam coincidentemente com quatro notas musicais, sendo que no caso de Levino, as notas sobem a escala e no de Beethoven, as notas descem a escala. Aqui não se trata de presunçosamente querer fazer uma crítica tecno-musical a ambas as obras, longe de mim, mas apenas comentar o lado sombrio das duas, respectivamente.
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  O tom menor é triste, dramático, trágico. Como? Um frevo saltitante, em compasso binário? Isso mesmo, caríssimo leitor.  Contraditoriamente, a alegria do compasso não condiz necessariamente com a tristeza do leit-motiv, no dizer germânico.  Pessoalmente, sinto o frevo de rua de Levino, como uma obra de beleza ímpar, beirando a perfeição e talvez constitua sua obra-prima, para alguns estudiosos do tema.  A densidade inicial da peça persegue o mesmo tônus até o último acorde.  À fermata intermediária, como se estivesse bradando seu queixume, seu lamento, segue-se um pianíssimo, com o desenho fantástico dos metais e cordas.  Jamais ouvi igual num projeto de frevo de rua.
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  O mestre de Bonn, taciturno, sisudo, abusado e genial, não deixa por menos.  Tocada e repetida ad nauseam, talvez alguns especialistas expressem ser a Quinta, uma espécie de náufrago relutante, dês que se tornou popular, até, para alguns, uma obra popularesca.  No que eu não concordo nem com um revólver na cabeça.  Beethoven é a grande “consumação do século”, no dizer de Otto Maria Carpeaux, crítico de arte, naturalizado brasileiro. 
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  Levino Ferreira nasceu em Bom Jardim, Pernambuco.  Na Escola Industrial Governador Agamenon Magalhães, no bairro da Encruzilhada, zona norte do Recife, onde estudei o antigo ginásio, ouvíamos falar muito do maestro.  Além de termos executado suas obras, incluindo “Último dia”.  Dessa modesta banda de música, saíram grandes nomes da música pernambucana, incluindo Naná Vasconcelos, a quem eu tomava a lição de solfejo e ele, preguiçosa mas simpaticamente, aceitava.  Deu no que deu, não é? 
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  O amor pela música, que nem uma doença contagiosa, me fez tornar-me um compositor popular, nem dos piores, nem dos melhores. Mas juro que afirmo isso, não para publicar currículo ou lisonja, mas para incentivar a rapaziada de hoje a estudar música básica e ilustrar os ouvidos de fora e de dentro, como falava o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), nosso grande nome nacional.
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  Não será de mau alvitre incentivar algum desses pacientes leitores a estimularem filhos, sobrinhos e netos a se viciarem na minha droga predileta. Mas cuidado, tomem-na em doses homeopáticas e em baixo volume, porque, apesar de não ter nenhuma contraindicação, pode causar algum mal ao ouvido interno e incomodar o vizinho externo.
WALTER DA SILVA
Camaragibe, 25.04.2012
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Louvor à GAIA-  virgínia  fulber
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Teu oco
grande taça que abraça
leito de rios e mares
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dádivas
em altos montes
sombreias o mar profundo
impulsiona vento e pensamento
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encostas, orlas
matéria densa nas rochas
graça em poeira
luminosa areia
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ondulante em desertos
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sob teu abraço
cresce raízes do
sustento
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em teu colo agasalhado
mira estrelas
sonhador no breu da noite
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acorda em tempo
de acariciar teu peito
em seu próprio tempo
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Gaia gera
protege
apoia do primeiro ao último suspiro
louvo te e aos quatro elementos ...
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Salve Gaia
Salve, com tua força motriz
e arremesso
salve, teus filhos da ira dos deuses
compadece-te de seus lamentos
olvidados de ti senhora
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Ergue-te em brados
Desperta
novos pensasentimentos
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INTEIREZA DAS METADES
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                 Lêda Selma
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           “... E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, e a outra metade também.” – Oswaldo Montenegro
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                  Tenho duas metades conflitantes:
                uma é balbúrdia,
                a outra, solidão.
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                Uma é desassossego,
                a outra, calmaria.
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                Tenho duas metades contrastantes:
                a que sossega dores,
                a que lembranças instila.
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                Uma conduz-me a delírios,
                 a outra, a saudades.
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                Tenho duas metades piedosas:
                uma é ataúde,
                a outra, liberdade.
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                Uma é espólio de medos,
                 a outra, de desejos.
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                Tenho duas metades intrigantes:
                uma é reduto de gritos,
                a outra, motim de prazeres.   
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               Uma é ida sem caminho,
                a outra, volta com atalho.
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                Tenho duas metades poderosas:
                uma reza feito santa,
                a outra, serpente, profana.

.                Uma é casta, quase insana,
                 a outra, fugaz e devassa.
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                Tenho duas metades tortas:
                uma enlouquece e amedronta,
                a outra  persegue e abate.
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                Uma é fantasma,
                a outra,  impiedade.

.                Tenho duas metades implacáveis:
                uma é morte,
                a outra, tempo.
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                Uma satiriza verdades,
                 a outra martiriza sonhos.
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                Tenho duas metades sutis:
                uma é rastos de lua,
                a outra, restos de chuva.
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                     Uma diz o que sinto,
                 a outra, o que minto.

.                Tenho duas metades perigosas:
                uma recende amor,
                a outra provoca a vida.

    http://poetaledaselma.blogspot.com
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O ARTISTA
Marisa Cajado.
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O artista é um criador
Cria assim num repente
Envolve-se plenamente
Na obra a se compor.
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Que importa lucrar com isso?
Não se prende ao dinheiro
Traz um divino roteiro
No sublime compromisso.
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Derrama-se em melodia
Ou num quadro sobre tela,
Sinfonia em aquarela,
Sintonia maior na poesia.
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A arte, é sua crença
Criar, sua felicidade
Por lema a liberdade
A obra, sua recompensa!
Gja, 23/04/2012 – 15:00h
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TUDO COMEÇA COM UM BEIJO
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Se me beijares, garanto,
Vais morrer do coração.
Eu prefiro você vivo!
Assim, não me beijes não.
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Que fique como um segredo
O que o beijo revelar.
Se contares, acredite,
Nunca mais vou te beijar.
 .
Entanto eu quero contar
Pra vocês um segredinho:
Quando ele me beijou,
Fiquei cheia de sapinho.
 .

Quando o altar de Maria,
Beijo com muito carinho,
A dormir no seu regaço,
Eu vejo Jesus Menino.
 .
Beija, beija, beija, beija,
Beija logo por favor...
Beija antes que eu desmaie
E talvez morra de amor.
 .
É sempre o primeiro beijo
Que causa mais emoção.
Fica selado na boca,
Na alma e no coração.
 .
Quando eu sentir saudade,
Não adianta me beijar;
Você beija e vai embora?
Saudade não vai passar.
 .
O melhor beijo que existe,
É o beijo proibido...
Vocês podem ter certeza:
Não é beijo de marido.
 .
A criança quando beija
É como um anjo a beijar.
Vemos tantas estrelinhas,
Nos seus olhos a brilhar!
 .
Beijo de mãe é sublime,
Se a gente se machucar,
Basta o seu beijo de amor,
Pra o nosso “dodói” passar...
 .
Chega de beijos por hoje.
Vou embora – até mais ver!
Passa depois lá em casa...
Tudo pode acontecer...
 .
Beijos (mais?) - Mírian Warttusch
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VELHO
   Antonio Augusto Bandeira
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João  se olhava no espelho e se sentia velho. Afinal fizera sessenta anos, cabelos brancos, freqüentava médicos.
Sentia  vontade de chorar, solidão, proximidade com a morte.
Ele que tudo queria.
Escritor, Academia  Brasileira de Letras ( mas não era  Sarney!).
Seus amigos o agrediam - tens manias de mandão!
Lógico ele que nunca foi importante, mero escriturário de banco.
Seus colegas de trabalho não deviam saber disto.Queria ter sido militar, da direita, um Francisco Franco, que mando , desmandou, matou, fez o que quis na Espanha durante quarenta anos. Mas   nem para comunista deu...
João se olhava no espelho e não se conhecia.
Aquela cara não poderia ser a dele!
Quem sabe  o filho do Lula, que  havia virado  um grande empresário?
Não ,  seu nome não era nem João e sim José.
As pessoas comentavam dele- mais um João que anda por aí.
Tomou um café. Barbudo mesmo saiu correndo para tomar o ônibus.
Afinal precisava trabalhar.
Pagar plano de saúde e esperar quase quinze dias para  marcar consulta mas era importante não precisava  ficar na fila do SUS.
João estava velho.
Velho chato, deprimido...Tudo sabia e nada sabia.
Afinal seu nome era João ou José ?
- O  raios, isto interessa?
Velho!
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BEIJO CELESTIAL
(Ary Franco - O Poeta Descalço)
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Existem beijos, beijos... e beijos!
Os mais recentes ainda me lembro.
Trocados em bocas ávidas de desejos.
Contemporâneos, de pouco tempo.
Porém, os mais carinhosos, de outrora,
Esses jamais serão por mim olvidados!
Todos os dias, naquela mesma hora,
De volta à casa, eram-me agraciados.
Ainda garoto, chegando do colégio,
À minha espera na porta ela estava.
Sempre usufruía desse privilégio.
Os beijos que minha mãe me dava.
Hoje, de mim, está bem afastada.
Mas sei que, no céu, em lá chegando,
Estará ela na porta me esperando
Para beijar-me, logo na entrada.
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Sobre a Serenidade...
Clara da Costa
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Ter serenidade..
...é saber, do fundo do coração,
que os obstáculos são aprendizados.
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...é sempre acreditar que seja o que Deus quiser,
será a decisão certa.
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...é aceitar serenamente, mesmo com os olhos marejados d'agua,
o lenço branco que acena um adeus.
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APRENDI A RECLAMAR
© Reginaldo Honório da Silva
 .
Desde que aprendi somente a reclamar
Nunca mais parei para pensar em mudar
Em usar a inteligência que Deus me deu
Para minha para evoluir e aceitar
Que eu não sou o centro do universo
Que o mundo não gira em torno do meu ego

Somente desperdiço meu tem.po reclamando
Que os outros não fazem o que é bom pra mim
Não fazem aquilo que eleva me valoriza
Não valorizam aquilo que idealizo e proponho
Não fazem as coisas como quero que sejam feitas
 .
Se eu me olhar no espelho não verei só um reclamante
Verei também um egoísta exigindo que o mundo gire
Como, quando e do jeito que eu quiser
Sem me importar de ser ridículo
Sem me importar de ser hipócrita
Sem me importar de reclamar por reclamar
Sem me importar de não conseguir enxergar o próprio umbigo
Sem me importar de apontar um cisco no olho alheio
E não ver a selva em meus próprios olhos
 .
Como posso ser benevolente com os outros
Se não sou comigo mesmo?
 Rio Claro, 11 de abril de 2012, às 11h00min.



Carnaval de Outrora
 Vânia Moreira Diniz
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Lembro-me do carnaval outrora no Rio de Janeiro,
Todos brincavam felizes e eu enxergava estarrecida,
Os palhaços e blocos que divertidos se manifestavam,
Na calçada, na praça ou nos bares em demonstração,
De entusiasmo, encanto e singularidade pueris.
Os olhos de criança tudo viam e me quedava tranqüila,
Esperando o momento mágico de sua aproximação,
Lança-perfumes jogavam e sorriam com o grupo imenso,
Sambando e cantando as músicas mais populares.
Afortunado era o momento em que os confetes esparziam,
Deixando as cabeças em colorido impressionante.
Eu gargalhava ditosa, esperando que a farra jamais acabasse.
Beijos, abraços e o rebolar ritmando a música enlouquecida.
Agoniada pedia que me deixassem seguir o cordão alucinado
E dessem as mãos clamando pela parceria infantil e inusitada,
Que frente a eles se quedava em insana expectativa e anseios mil.
“ Você pensa que cachaça é água”!...
Serpentina, confetes, lança-perfumes, cantoria e abre-alas,
Era a única coisa que se pensava no Rio enlouquecida,
E todos pediam que os dias não acabassem e se expandissem
Num carnaval de eternas recordações.
Quando o carnaval se aproxima, não posso esquecer
Do singelo espetáculo de minha infância a cantar em brados,
Pulando em ritmo contagiante, enquanto se esperava,
As escolas de samba, e os desfiles lindos e inebriantes.
Em doenças ninguém falava e a AIDS não existia,
Mas a evolução caminhava sem carecer outrora
De precauções e cuidados especiais.
Hoje esperamos o carnaval que desesperado busca,
Ainda no compasso apaixonante a camisa protetora.
Carnaval almejamos todos e só lamentamos a violência,
Tão incrustada hoje em qualquer manifestação popular.
Pedimos que em sonhos se realize o anseio de todos nós,
Que haja alegria e prazer e a insegurança seja exterminada
Vânia Moreira Diniz
08-02-2012
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Solidão
Iracema Zanetti
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Ah solidão que me torna um nada
Destróis minha alegria e os meus sonhos matas
Solidão que me deprime nas frias madrugadas
E meu corpo parece desvanecer como fumaça!
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Ah solidão que de mim não te afastas
Corróis-me a alma e ris de minha desgraça
Ao ver o rolar das minhas lágrimas!
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Ah solidão sem sentimentos
Sem olhos para ver meu sofrimento
Sem ouvidos para ouvir minhas súplicas
E meus lamentos ao vento!
 .
Solidão de mim te apartes
Nem tentes te aproximar desta mente sonhadora
Transformada em mágoas
Alma ferida em busca de sonhos
Ou talvez do nada!
 .
Hoje vivo distante dos tempos alegres
 Que eu vivia e faziam vibrar meu ser
 Pleno de sonhos que não voltam mais!
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Hoje vivo longe de minhas rimas
Ao escrever meus versos de amor
Vivo ao léu a chorar de saudade de ti
 E de teus doces beijos de amor!
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Parole: A Mulher Dragão
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‘’Quando bater na minha porta...
 Quando me pedir...
...para ser sua!
É amor?
Desejo?
Amor doce
Doce amor correspondido
Soa como um grito.
Meu amor, como em um conto,
Mas é pura realidade. ’’  
Patrícia Raphael

Atravessaram a avia, movimentada, como se fossem duas crianças travessas. Caminhavam, de mãos dadas, não se importando com os olhares furtivos de reprovação, de alguns transeuntes que apreciavam a cena. Uma tinha a pele alvíssima, de quem raramente experimentara ver a luz do dia. Cabelos louros bem curtos, seios fartos, olhos bem vivos e verdes e uma pequena tatuagem verde no pulso esquerdo ladeado de duas estrelas da mesma cor. Estava escrito em fonte manuscrita: Agnes. Usava um vestido floral visco, usava uma tiara amarela na cabeça, calçava sapatilhas Ires florida e seu rosto não possuía maquiagem alguma. Apesar de estar na meia idade, ainda detinha o frescor de quem estava descobrindo a vida naquele exato momento. A mulher ao lado, era a antítese da outra, com a pele amendoada, seios pequenos, cabelos longos, negros e finos que iam até a cintura, olhos castanhos claros e ligeiramente puxados, o rosto levemente maquiado, possuía também uma tatuagem tribal colorida no ombro esquerdo que ai até o cotovelo e vestia nos pés um sapato Poeme floral. Usava um par de brincos feitos de penas sintéticas coloridas. E estampava um sorriso radiante no seu belo rosto, que denunciavam seus vinte anos de idade. Usava um vestido esvoaçante, vaporoso, transparente e muito colorido.
 As duas tomaram o caminho do Bar-café Garibaldi, não muito longe de onde as duas moravam. Caminhavam sem muita pressa, como se o tempo estivesse ali, somente para servir-las. Alcançaram o Bar-café Garibaldi rapidamente, e lá viram a seguinte cena. O recinto estava quase vazio naquele começo de manhã de sol outonal. Na parede dos fundos do recinto, réplicas dos quadros de Picasso e Matisse pareciam querer brigar entre si. Assim como o cardápio em português, espanhol e em inglês britânico publicado na parede lateral esquerda do recinto e distribuídos nas mesas. As cores vermelha, verde e branca, reinavam absolutas em toda parte, estavam presentes do teto até piso. As mesas metálicas contrastavam com as cadeiras de plástico. Uma caixa registradora antiga estava em destaque no balcão, uma peça genuína e também decorativa, não funcionava há anos. Havia também os jovens funcionários devidamente uniformizados, sonolentos e apáticos, estavam sentados em silêncio atrás do balcão a esperar a clientela. Na cozinha, o barunho alto de risadas parecia não incomodar ninguém. Uma junkebox moderna tocava, um sucesso ocasional e descartável do momento, em volume baixo.
Quando, as duas ‘’criaturas’’, adentraram de mãos dadas, os frequentadores habituais fizeram cara de muxoxo. Já os clientes acidentais pouco se importaram com a presença das duas ‘’criaturas’’. Então a morena de pele amendoada ‘’desfilou’’, de forma sensual, até o fundo do Bar-café Garibaldi colocou uma nota na junkebox, chamando a atenção de todos para si, até mesmo dos jovens funcionários devidamente uniformizados, sonolentos e apáticos. A morena digitou, delicadamente, alguns números na tecla da máquina, não disfarçando a impaciência de quem procurava alguma coisa, mas não encontrava. Então a máquina passa a ‘’reproduzir’’ um sucesso obscuro, uma música romântica antiga cantada em francês, para alegria da morena. A teuta ficou parada na porta, apreciando os trejeitos da amiga, ela procurava conter, em vão, um pequeno sorriso que brotava na face, enquanto a outra era só sorriso enquanto retorna à porta de entrada. As duas entre olharam-se, e decidiram de comum acordo, ocupar uma mesa perto da porta de entrada. Então sentaram e aguardaram para serem atendidas e servidas.
E lá fora carros, ônibus, motocicletas, bicicletas e transeuntes, desavisados, circulavam na via rápida, estavam alheios ao que acontecia dentro do Bar-café Garibaldi. Na Embauva, ao lado do Bar-café Garibaldi, aonde um Bem-te-vi fizera seu ninho, um pouco acima dos fios de alta tensão, o pássaro alimentava suas duas crias. Elas estavam famintas, naquele começo de manhã de sol outonal. Também estavam alheios de tudo e de todos, seguiam as suas existências primitivas, sem se importar com nada, para além das duas próprias existências selvagens.  
            ─ Não vai nos atender secretário? ─ Perguntou a teuta’’, em espanhol europeu, para o garçom que passava, despreocupadamente, ao lado da mesa aonde as duas foram se ‘’estalar’’. O rapaz, que fora atender um casal de turistas acidentais que entraram no rastro das duas ‘’criaturas’’. O garçom ficou rubro, com o tom sedutor, da pergunta, da ‘’jovem senhorita’’ de ascendência germânica.
            ─ Queiram desculpar-me, senhoritas, já vou atendê-las em um instante! Mais uma vez, peço desculpas à senhoritas! ─ Disse o rapaz em tom formal, de uma resposta ensaiada, a resposta também veio em espanhol, mas com um sotaque portenho. Foi, também, uma resposta sincera e constrangida de quem acabara de cometer uma gafe. Disse isso, e foi atender à mesa do casal de turistas acidentais da mesa ao lado.
            ─ Quero o de sempre pra mim meu ‘’Guapo’’, e para a minha amiga tu já ‘’sabe’’ o que ela quer! Todo mundo sabe afinal de contas, do que ela gosta. ─ O garçom de costas para as duas ‘’moças’’, pareceu não escutar o pedido feito, só pareceu, pois sabia muito bem o que a ‘teuta’’ pedira.         
            ─ Tu não ‘’presta’’ mesmo Agnes, tu não existe minha querida amiga. Mas, mudando de assunto, e os teus amores amiga? ─ A morena ficou rubra ao fazer a pergunta para a outra.
            ─ Um está preso, já o outro morreu! ─ Atalhou Agnes com desdém, em tom natural, apesar da gravidade da resposta.
            ─ Que trágico, não é mesmo?
            ─ Não, a vida tem dessas coisas meu Anjo negro. Só não procuro perder meu precioso, e escasso, tempo com essas coisinhas menores. ─ A loura lançou um olhar, para a morena sentada em sua frente, como quem quer algo mais que pura amizade. A morena retribuiu na mesma maneira, os olhos das duas faiscavam de desejo.
            ─ Não ‘’perdes’’ mesmo, Agnes?
            ─ Na verdade dói, mas para de doer depois de ‘’um’’ certo tempo. ─ Respondeu, olhando para a via movimentada, parecia querer esquivar-se do olhar incisivo e inquisidor da morena. Nesse idílio ouve o canto do pássaro lá fora. O som, da natureza, soava como música aos ouvidos da Agnes, o canto do pássaro aliviava um pouco a dor que ela sentia e disfarçava tão bem.
            ─ Estão já se apaixonasse um dia pelo visto? ─ A pergunta da outra, trás Agnes de volta para a realidade em que estava.
            ─ Hora paixão! Olha Cigana, paixão é assim! Vem forte, e queima bem rápido. Deixa a gente calcinada por dentro. Ficam também as muitas cicatrizes no corpo e na alma. Não sobra nada, e nem ninguém para contar história alguma. E, só às vezes acaba em uma tragédia. Mas, com toda a certeza desse mundo, nunca, mas nunca mesmo, acaba bem para quem quer que seja minha amiga Cigana. Soa um cruel não é? Mas é a mais pura realidade.
            ─ E o amor?
─ Já o amor é outra coisa meu Anjo negro. Amor é uma coisa mais profunda e duradoura, fica para sempre, não cala e é incondicional.
            ─ Concordo contigo!
            ─ Cigana, meu Anjo negro, pra viver a nossa vida, esqueça essa dita palavra chamada ‘’amor’’. Agora paixão, isso é inevitável. Vem rápido, mas também acaba bem rápido. E tem a vantagem da dor, que deixa a gente mais esperta e mais forte com o passar do tempo. Faz parte do processo, e rende uns bons trocados no fim da história.
Outro garçom passa ao lado da mesa das duas ‘’senhoritas’’, foi levar o pedido do casal de turistas acidentais. Ele não disfarçou o constrangimento de ver as duas ali sentadas. Um pouco mais à frente uma mulher idosa, obesa e de aparecia militar, que acabara de entrar no recinto, olha com repulsa para as duas amigas. A mulher então chamou o garçom, e irritada balbuciou alguma coisa para ele, após apontar para Agnes e a amiga. Furiosa, a mulher idosa, obesa e de aparecia militar, bateu os cascos e bateu em retirada. As duas ficaram impassíveis, estavam alheias sobre o que ocorria em volta.
            ─ Cigana, meu bem, essa vida não é para qualquer um, não mesmo! Cada dia é uma luta para ficar de pé. E um dia não é, definitivamente, igual ao outro. Não há rotina, em absoluto, nesse negócio amiga Cigana. E a palavra é bem essa mesmo amiga Cigana: Um negócio! Nada, além disso. 
            ─ Não vou esquecer ‘’disso’’ amiga! E filhos?
            ─ Não há espaço para essas ‘’pequenas coisas’’. No meu breve reinado, sequer me permiti sonhar com tal coisa, e tal coisa não me fez permitir sonhar consigo. Mas, cada um sabe de si mesmo, e faz as próprias escolhas. Essas coisas de noites e mais noites sem fim, na verdade são noites que nunca acabam de fato. Vivemos e morremos nessas noites sem fim. E à luz do dia não foi feito para criaturas como nós amiga Cigana. Somos criaturas da noite. E é à noite que reinamos. A noite é nosso habitat natural.
            ─ É mesmo!
            ─ ‘’Tás’’ pegando o espírito da coisa meu bem. ─ Disse isso e da uma risada nada discreta, que chamou a atenção de todos para a mesa das duas. ─ No mais, amiga Cigana, nós vivemos e morremos nas sombras. Vez ou outra saímos para ver à luz do dia, viemos à tona para respirar o ar puro do dia e revigorar as energias, e também para nos lembrar quem somos de fato e de que somos feitas. E para sentir como essa sociedade que está ai na nossa frente nos trata.
            ─ Igual à hoje?
            ─ É isso mesmo, vez ou outra, temos que nos permitir. Sair das sombras, meu Anjo negro, para ver à luz do dia. Mas, na verdade, vivemos de desejos secretos dos outros. Coisas que as pessoas gostam de fazer vez ou outra, e não contar para mais ninguém. No mais, o que queres saber de mim Cigana, o que queres de fato Cigana?     
            ─ Posso perguntar mesmo Agnes? ─ A ‘’Dama da noite’’, fingiu fitar o menu antes de fazer a pergunta. Pois, queria entrar em um universo perigoso, queria saber dos segredos da outra. E essa outra não era ‘’uma’’ qualquer, era a dona de segredos, e de muitos segredos, mais que secretos dos outros. Agnes vivia de e para satisfazer os desejos alheios, desejos mais que secretos dos outros. Diziam por ai que ela vivia de, e para, fazer os outros sorrir e chorar. Fazia tudo isso ao seu bel prazer, diziam também que ela se divertia e muito exercendo o ofício.
            ─ Faz há pergunta logo, sua diabinha travessa. Mas, antes passamos para a Parole é mais seguro, pois não estamos em casa, meu Anjo negro, aqui não mandamos. ─ Disse aflita, já na Parole, ao ver o ‘’secretário’’ que se aproximava para servi-las. Ele usava um boné vermelho-escuro, avental branco com listas amarelo-ouro, calça social, sapato social preto bem engraçado. Tinha o cabelo bem curto e louro, olhos negros e usava um brinco de madre-pérola em forma de estrela na orelha. Uma tatuagem, no antebraço direito, com frases escrita em fonte gótica, era um lema medieval usados por cavaleiros germânicos, estava escrito em alemão arcaico: Honra & sangue. Trazia uma bandeja marrom com o pedido que ‘’fora feito’’ na noite anterior, por Agnes. O garçom aproximavas se com passos firmes como quem ia para um embate, como se fosse para uma guerra.      
            ─ Pensei que fosse uma brincadeira Agnes! ─ Falou em alemão com sotaque da Bavária, o ‘’secretário’’ serviu Agnes e a Cigana com a face rubra de raiva, mas as serviu de forma delicada e sem presa. Serviu torradas e chá com conhaque canadense de sete anos para Agnes. E para Cigana, pão-de-mel e café morno sem açúcar, um limão cortado no meio e dois saquinhos de adoçante cristalizado importado.
            ─ Nunca brinco em serviço, Otto meu bem! ─ Agnes respondeu em alemão, mas, o alemão dela com sotaque polido de Berlim, irritou em muito o jovem garçom. Acabou de servi à mesa e se retirou como quem perde uma batalha. Mas, da uma olhada para trás como se fosse um aviso. A guerra não acabara ali e estava só começando. 
            ─ É esse mesmo ‘’o’’ teu café da manhã Agnes? ─ Disse isso pingando algumas gotas de limão na pequena chícara de porcelana da Bohemia.
            ─ Bem queria mudar de dieta amiga, queria degustar uma coisa mais gostosa pela manhã. Um pequeno almoço, mais europeu sabe, longe dessa refeição matinal do novo mundo! Na verdade sou apaixonada pelas coisas do velho mundo. ─ Respondeu Agnes umedecendo os lábios com a língua ao olhar o jovem ‘’secretário’’ que se afastava lentamente. 
            ─ Agnes é sobre aquela oriental? As meninas vivem falando dela em voz baixa. Quem é ela afinal de contas?
Agnes sentiu que precisava, naquela hora, tomar um trago bem forte. Fazia anos que não pensava nela. E queria esquecer de uma vez por todas aquela figura mística e mítica.
            ─ Agnes... quem foi essa mulher, se é que um dia ela existiu de verdade?
            ─ A Mulher Dragão, era assim que ela era chamada, e era assim que ela gosta de ser chamada.
            ─ Foi ‘’ela’’ que ensinou você e as outras meninas a falar a Parole? Essa língua que falamos agora.
            ─ Sim foi ela, que ensinou essa língua que falamos agora, também nos ensinou outras línguas estrangeiras e como tratar os clientes estrangeiros.
            ─ E o resto das histórias, conta Agnes me conta agora! Ela deveria ser uma grande mulher!     
            ─ Ela era uma verdadeira ‘’Dama da noite’’, sim era isso para não falar outras coisas. Das muitas histórias, que tu ouvisses falar dela, uma coisa é certa. Ela veio do Extremo Oriente, ela veio como clandestina em um navio vindo de lá não se sabe de onde. Falava meia dúzia de línguas, o nosso português brasileiro era um desses idiomas, fala tão bem como qualquer universitário. Era lindíssima aquela mulher, lindíssima, misteriosa e perigosa.      
            ─ E daí Agnes? ─ Conta mais... conta mais Agnes! Conta... conta Agnes ─ Os olhos da Cigana fascicavam de emoção, ela parecia uma criança ansioso por um brinquedo novo. ─ Conhecesse bem, a dita cuja, essa tal Mulher Dragão? Como ela era Agnes? Qual era o nome dela de verdade, Agnes?   
            ─ Conheci a Mulher Dragão, intimamente, assim por dizer, aprendi muitas coisas com ela. Aprendi a ser uma mulher de verdade com ela, o nome de dela era Liu Tsung Chen, pelo menos o que usava, mas nós a chamávamos de Madame Hong. Ela se estalou na rua de baixo, e levou boa parte dos nossos melhores clientes, assim que ela chegou. Depois levou também os piores clientes em todos os sentidos. Foi uma confusão só, Cigana!
            ─ Meu Deus, com foi isso!
            ─ Com aquelas roupas de seda pura, danças exóticas, leques, chás afrodisíacos, massagens especiais e uns pozinhos mágicos. Era uma verdadeira deusa oriental, com aquele enorme dragão tatuado nas costa, levava os clientes às alturas, deixava todos em estase.
            ─ E o que vocês fizeram?  
            ─ Nada é claro, pois o ‘’importador’’ da beldade oriental há transformou em intocável naquela altura... uma peça rara importada do Extremo Oriente.
            ─ Quem mandava na rua de baixo naquela época Agnes? Quem mandava nos esquemas nessa época?
            ─ Era o Major Dezidério Carrara, mas ela ficou maior que ele em dois tempos. Ela mandou uns capangas do major direto pro hospital, Madame Hong era uma fera nas artes marciais. O major se arenpedeu logo, de importado a Madame Hong, a famosa Mulher Dragão. Como se arrependeu, ele se arrendenpeu na carne e nos ossos aquele pulha desgraçado, se arrependeu por dentro e por fora.
            ─ Nossa Agnes, que coisa!
            ─ Foi ai que a rua de baixo virou a terra proibida dos chinas... vieram nos rastro da Madame Hong, ali eles reinavam absolutos, sem que ninguém se intrometesse! Mas, não durou muito esse império do crime, e foram tão rápido como chegam. O fato, é que não vieram de navio como a Madame Hong, simplesmente brotaram do nada, e para o nada partiram, depois levando tudo que tinham.
            ─ Não entendo Agnes!
            ─ Alguns dizem que hoje esse povo vive na Liberdade! Mas, isso é outra história Cigana. Outros dizem que voltaram para o Extremo Oriente, simples assim meu Anjo negro. Sumiram sem deixar nada e ninguém para trás.   
         Samuel da Costa é contista em Itajaí   
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Longitudinal
Delasnieve Daspet
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Disponho meu corpo
Em sentido longitudinal...
.
Faça o corte
De cima, abaixo,
Diga-me, ainda sou eu ?
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Rasga-me a pele,
Abra-me...
Procuro-me...
Já não me reconheço!...
DD – Campo Grande, 06.01.11 
 
 

2 comentários:

  1. Querida e nobre Poetisa Embaixadora dos da Associação Poetas del Mundo Delasnieve Daspet, venho parabenizar-te pelo empenho em divulgar os integrantes deste importante movimento que vem iluminar vidas , inspirar caminhos...
    Belíssimas homenagens ao Dia das Mães nesta Edição, bem como textos e demais colaborações ,portanto saúdos os autores, exímios Poetas , Escritores publicados.
    Uma honra estar entre vcs. A ti e a todos Poetas Del Mundo meu

    afetuoso e grato abraço , virgínia fulber além mar na Pg dos Poetas Del Mundo
    vicamf http://www.poetasdelmundo.com/Poetas/730/Virginia%20%20Fulber%20de%20Al�m%20Mar

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  2. Excelentes participações... Parabéns e abraços para todos...

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