imagem colhida na NET
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PRIMEIRO DE MAIO, 2012
Teresinka Pereira
Primeiro de maio
e' o dia do trabalhador
imigrante,
do ser humano
que carrega consigo
uma quota de miseria
porque o chamado de "Sonho Americano"
foi para si irrealizavel
como uma promessa nao cumprida.
Trabalhador sem trabalho:
o rumo de seus passos
e' o muro injusto
que leva a rubrica
daquele que atravessa
fronteiras proibidas
para nada mais que
uma troca de patroes.
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MãeEternas crianças somos.
Mesmo crescidos, com filhos.
Uns já com netos: mas pequenos
nos tornamos quando com
a nossa mãe falamos.
Sua voz ouvimos, e ai parece que
de tamanho, vamos diminuindo.
Para uma mãe sempre teremos
ouvidos, ela nos conhece, sabe
de todos os nossos problemas,
conhece a fundo nossos sentimentos,
é ciente, quando mentimos, ou
quando padecemos um sofrimento.
Feliz é quem ainda, viva, a tem.
Ou aquele que por anos
com ela conviveu.
Infeliz o que não a conheceu.
O mundo fica um pouco menor,
quando se sabe que uma mãe morreu.
(Roldão Aires)
Mesmo crescidos, com filhos.
Uns já com netos: mas pequenos
nos tornamos quando com
a nossa mãe falamos.
Sua voz ouvimos, e ai parece que
de tamanho, vamos diminuindo.
Para uma mãe sempre teremos
ouvidos, ela nos conhece, sabe
de todos os nossos problemas,
conhece a fundo nossos sentimentos,
é ciente, quando mentimos, ou
quando padecemos um sofrimento.
Feliz é quem ainda, viva, a tem.
Ou aquele que por anos
com ela conviveu.
Infeliz o que não a conheceu.
O mundo fica um pouco menor,
quando se sabe que uma mãe morreu.
(Roldão Aires)
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Saudades da minha Mãe
Na condição de filha mesmo já sendo mãe este dia tem mais brilho, apesar de tua ausencia fisíca me sinto renovada sabendo que ja fizeste em mim duas gerações de mãe hoje vejo minha filha com sues dois lindos filhinhos razão maior de nossa existência, descubro a continuação dessa função que nunca se acaba, faço enormes descobertas os costumes continuam por mais moderno que o mundo se torne, nossos cordões umbilicais jamais se cortam é um elo que o tempo não consegue romper, uma condição que uma vez conseguida nos acompanhará por todda a existência
Tantos anos após sua partida essa ligação divina continua viva forte afagando minhass mãos ja machucadas pelo tempo, porém, confortada ao lembrar-me de tua mão firme segurando a minha levando pra longe as mágoas as dores e incertezas.
Mãe onde quer que voce esteja não importa, eu sinto você bem viva juntinho de mim todas as vezes que as dúvidas avassalam minha existencia, sinto-a dizendo filha você consegue! não desista você é ( guapa).
Espero que com teu exemplo de amor e discrição eu consiga passar as minhas filhas estas novas manzinhas de tempos modernos, inseguros, que vale a pena acreditar num horizonte melhor, o mundo anda cada dia em busca do novo do belo e principalmente do amor.
Mãe se eu a fiz chorar perdoe-me, e obrigada por tornar-me uma mulher forte audaz e verdadeira. Uma mãe que erra tentando acertar, forte quando pareço fraca e carente, verdadeira quando tento esconder este enorme sentimento de filha que ora se confundo com o sentimento de mãe de vó, renovado a cada passo incerto dos meus lindos netinhos, que vieram para dar continuidade a o elo eterno do amor.
Parabéns a todas as mâes.
Aida domingos.
Na condição de filha mesmo já sendo mãe este dia tem mais brilho, apesar de tua ausencia fisíca me sinto renovada sabendo que ja fizeste em mim duas gerações de mãe hoje vejo minha filha com sues dois lindos filhinhos razão maior de nossa existência, descubro a continuação dessa função que nunca se acaba, faço enormes descobertas os costumes continuam por mais moderno que o mundo se torne, nossos cordões umbilicais jamais se cortam é um elo que o tempo não consegue romper, uma condição que uma vez conseguida nos acompanhará por todda a existência
Tantos anos após sua partida essa ligação divina continua viva forte afagando minhass mãos ja machucadas pelo tempo, porém, confortada ao lembrar-me de tua mão firme segurando a minha levando pra longe as mágoas as dores e incertezas.
Mãe onde quer que voce esteja não importa, eu sinto você bem viva juntinho de mim todas as vezes que as dúvidas avassalam minha existencia, sinto-a dizendo filha você consegue! não desista você é ( guapa).
Espero que com teu exemplo de amor e discrição eu consiga passar as minhas filhas estas novas manzinhas de tempos modernos, inseguros, que vale a pena acreditar num horizonte melhor, o mundo anda cada dia em busca do novo do belo e principalmente do amor.
Mãe se eu a fiz chorar perdoe-me, e obrigada por tornar-me uma mulher forte audaz e verdadeira. Uma mãe que erra tentando acertar, forte quando pareço fraca e carente, verdadeira quando tento esconder este enorme sentimento de filha que ora se confundo com o sentimento de mãe de vó, renovado a cada passo incerto dos meus lindos netinhos, que vieram para dar continuidade a o elo eterno do amor.
Parabéns a todas as mâes.
Aida domingos.
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ULTIMA VISIO
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Augusto dos Anjos
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Quando o homem, resgatado da cegueira
Vir Deus num simples grão de argila errante,
Terá nascido nesse mesmo instante
A mineralogia derradeira!
A impérvia escuridão obnubilante
Há de cessar! Em sua glória inteira
Deus resplandecerá dentro da poeira
Como um gazofilácio de diamante!
Nessa última visão já subterrânea,
Um movimento universal de insânia
Arrancará da insciência o homem precito...
A Verdade virá das pedras mortas
E o homem compreenderá todas as portas
Que ele ainda tem de abrir para o infinito!
Eu e outras poesias, Augusto dos Anjos, L&PM Editores, 1998.
Vir Deus num simples grão de argila errante,
Terá nascido nesse mesmo instante
A mineralogia derradeira!
A impérvia escuridão obnubilante
Há de cessar! Em sua glória inteira
Deus resplandecerá dentro da poeira
Como um gazofilácio de diamante!
Nessa última visão já subterrânea,
Um movimento universal de insânia
Arrancará da insciência o homem precito...
A Verdade virá das pedras mortas
E o homem compreenderá todas as portas
Que ele ainda tem de abrir para o infinito!
Eu e outras poesias, Augusto dos Anjos, L&PM Editores, 1998.
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UM BEATLE NO RECIFE (MENINOS, EU VI!)
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Clóvis Campêlo
-
A cidade do Recife,
numa noite tropical,
abandonando a breguice,
de forma sensacional,
recebeu com maneirice
um astro internacional.
Era um tal de Paul McCartney
que acabava de chegar
e nem Pedro Malasarte
conseguiria ofuscar
o carinho por sua arte
do povo desse lugar.
Nem bem abriu o portão
do Estádio do Arruda
explodiu a emoção
do povo todo em muda
para ouvir velha canção
da figura cabeluda
Paul McCartney abusou
de carisma e simpatia
e a plateia conquistou
cantando o que ela queria
fez um tremendo de um show
com ternura e alegria
Dos Beatles cantou canções
sucessos do seu passado
e despertando emoções
bastante emocionado
agitou os corações
do público extasiado
Teve gente que chorou
precisou ser medicado
menino que desmaiou
e velhinho transviado
mas no fim tudo ficou
como tinha começado
Foi grande a satisfação
do povo da capital
um repertório do cão
levantando a moral
daquela reunião
daquele povo informal
Fingindo o show terminar
Paul McCartney saia
do palco pra retornar
com mais uma melodia
fazendo o povo endoidar
com tamanha picardia
Deixou o povo maluco
com tamanha emoção
no meio do vuco-vuco
ele invadiu o salão
e a bandeira de Pernambuco
carregava em uma mão
Nada era aleatório
na estrutura do show
também teve foguetório
e o povão se animou
quando do seu repertório
mais um sucesso tirou
Ele cantou “Let it be”
sozinho em seu piano
e com a platéia daqui,
antes de baixar o pano,
emocionou e fez rir
ao soldado e ao paisano
E aquela multidão
satisfeita e gloriosa
viu com satisfação
três horas de som e prosa
três horas de empolgação
três horas de muita glosa
Se todos Paul conquistou,
gente pobre e gente rica,
depois que o show terminou
fez do coração uma tripa
e no avião se mandou
com destino a Floripa,
Recife deixou pra trás
mergulhada na saudade
e essa cidade jamais
vai ter a capacidade
de esquecer esse rapaz
e sua inventividade
Recife, maio de 2012
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Clóvis Campêlo
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A cidade do Recife,
numa noite tropical,
abandonando a breguice,
de forma sensacional,
recebeu com maneirice
um astro internacional.
Era um tal de Paul McCartney
que acabava de chegar
e nem Pedro Malasarte
conseguiria ofuscar
o carinho por sua arte
do povo desse lugar.
Nem bem abriu o portão
do Estádio do Arruda
explodiu a emoção
do povo todo em muda
para ouvir velha canção
da figura cabeluda
Paul McCartney abusou
de carisma e simpatia
e a plateia conquistou
cantando o que ela queria
fez um tremendo de um show
com ternura e alegria
Dos Beatles cantou canções
sucessos do seu passado
e despertando emoções
bastante emocionado
agitou os corações
do público extasiado
Teve gente que chorou
precisou ser medicado
menino que desmaiou
e velhinho transviado
mas no fim tudo ficou
como tinha começado
Foi grande a satisfação
do povo da capital
um repertório do cão
levantando a moral
daquela reunião
daquele povo informal
Fingindo o show terminar
Paul McCartney saia
do palco pra retornar
com mais uma melodia
fazendo o povo endoidar
com tamanha picardia
Deixou o povo maluco
com tamanha emoção
no meio do vuco-vuco
ele invadiu o salão
e a bandeira de Pernambuco
carregava em uma mão
Nada era aleatório
na estrutura do show
também teve foguetório
e o povão se animou
quando do seu repertório
mais um sucesso tirou
Ele cantou “Let it be”
sozinho em seu piano
e com a platéia daqui,
antes de baixar o pano,
emocionou e fez rir
ao soldado e ao paisano
E aquela multidão
satisfeita e gloriosa
viu com satisfação
três horas de som e prosa
três horas de empolgação
três horas de muita glosa
Se todos Paul conquistou,
gente pobre e gente rica,
depois que o show terminou
fez do coração uma tripa
e no avião se mandou
com destino a Floripa,
Recife deixou pra trás
mergulhada na saudade
e essa cidade jamais
vai ter a capacidade
de esquecer esse rapaz
e sua inventividade
Recife, maio de 2012
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A FALA DE PROMETEU
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Nei Duclós
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O mundo não existe e nenhum lugar faz sentido. Não se trata de niilismo ou pessimismo, é a pura verdade e nada podemos fazer contra ela. Raspe o edifício e renasce o terreno baldio que o precedeu. Continentes submergem sem deixar vestígios. A cidade abandonada não guarda nenhuma memória. Tua infância jamais te pertenceu. O noticiário se repete porque exauriu sua capacidade de iludir. Tudo flui para o nada nesta rua de fim de bairro, onde as pessoas chutam pedras a esmo, solitárias.
As perguntas já foram respondidas: nascemos para passar o tempo, vivemos para acumular dúvidas e desaparecemos entre gargalhadas alheias ao nosso martírio. A vida pessoal é uma obsessão de mentes que se ocupam à toa. Falar da vida alheia parece ser uma saída para o vazio universal, mas chega a hora de fechar a porta, recolher-se, e deixar que as corujas ocupem o telhado. As televisões nos assistem e caem no sono.
É inútil ocupar-se com planos, eles serão traídos. É exaustivo palmilhar os caminhos, eles nunca te levam ao destino. Não há poder em existir, mesmo que reines sobre a face da Terra. Teus súditos voltarão as costas quando menos esperas. Eles compartilham da mesma sina, a indiferença total do Mistério que nos circunda. Há os que tentam extrair poesia do céu estrelado, mas a Via Láctea empedrou e empurra o Cruzeiro para o abismo.
O bocejo é a única lei universal. Bilhões de criaturas nascem para dormir. Quem se insurge contra esse absurdo acaba sendo insuflado pela insônia. Garfos rasgam imaginações soltas da vigília. E o sono toma conta de tudo, numa catedral onde o breu é a divindade. Insetos chiam num horizonte de agulhas. Corvos piam em janelas infecundas. Socos e surras se agrupam em torno de almas de vime. A metralha varre como granizo. Há nucas quando frontes se exaltam. E costas largas que abrigam crimes.
Não existe carne desperta no açougue sombrio. Nem sossego nos corredores de fúria. Nossos pés mergulham em areias frias. Minas somem dos mapas, tomados pelos fungos. Facas cortam a luz que urra na margem do rio. Há algo de roedor nas fuças dos minutos. As horas suam nas cavernas surdas. E escorrem, pelas trilhas dolorosas de pássaros extintos.
Nada existe, a não ser a linguagem. Tudo finda, com exceção da palavra. O que nos ocupa não tem importância, o que pega é o texto, o verso, a frase, a letra. As falas são os únicos sobreviventes do massacre. O dito é o que ressurge, cria, funda. O amor é seu filho, a dor sua prova. Passam os séculos, mas tua sílaba fica. Como um fígado que renasce diante do abutre. És ladrão do fogo, Prometeu acorrentado, a cuspir no medo. De tua boca sai a metáfora, a sentença, o desafio da pitonisa, a salva de canhões, o grito.
Basta tua garganta para revelar a senha, submersa pela sanha assassina. A vida escapa, mas teu poema é a corda sobre o precipício. É espantoso ver Deus pôr-se de pé quando enfim consegues achar o som forjado em tua glória. Estendes então o dedo em direção a esse gesto de Capela Sistina. És a Criação, e a Terra enfim te acolhe, na semeadura utópica e sem motivos. Agora és um ruído de sementes em direção às águas. Brotas dessa brutalidade vaga, feita de ossos.
Teu rosto emerge na tormenta. A superfície se acalma. Um sopro cruza teu coração como um espírito.
As perguntas já foram respondidas: nascemos para passar o tempo, vivemos para acumular dúvidas e desaparecemos entre gargalhadas alheias ao nosso martírio. A vida pessoal é uma obsessão de mentes que se ocupam à toa. Falar da vida alheia parece ser uma saída para o vazio universal, mas chega a hora de fechar a porta, recolher-se, e deixar que as corujas ocupem o telhado. As televisões nos assistem e caem no sono.
É inútil ocupar-se com planos, eles serão traídos. É exaustivo palmilhar os caminhos, eles nunca te levam ao destino. Não há poder em existir, mesmo que reines sobre a face da Terra. Teus súditos voltarão as costas quando menos esperas. Eles compartilham da mesma sina, a indiferença total do Mistério que nos circunda. Há os que tentam extrair poesia do céu estrelado, mas a Via Láctea empedrou e empurra o Cruzeiro para o abismo.
O bocejo é a única lei universal. Bilhões de criaturas nascem para dormir. Quem se insurge contra esse absurdo acaba sendo insuflado pela insônia. Garfos rasgam imaginações soltas da vigília. E o sono toma conta de tudo, numa catedral onde o breu é a divindade. Insetos chiam num horizonte de agulhas. Corvos piam em janelas infecundas. Socos e surras se agrupam em torno de almas de vime. A metralha varre como granizo. Há nucas quando frontes se exaltam. E costas largas que abrigam crimes.
Não existe carne desperta no açougue sombrio. Nem sossego nos corredores de fúria. Nossos pés mergulham em areias frias. Minas somem dos mapas, tomados pelos fungos. Facas cortam a luz que urra na margem do rio. Há algo de roedor nas fuças dos minutos. As horas suam nas cavernas surdas. E escorrem, pelas trilhas dolorosas de pássaros extintos.
Nada existe, a não ser a linguagem. Tudo finda, com exceção da palavra. O que nos ocupa não tem importância, o que pega é o texto, o verso, a frase, a letra. As falas são os únicos sobreviventes do massacre. O dito é o que ressurge, cria, funda. O amor é seu filho, a dor sua prova. Passam os séculos, mas tua sílaba fica. Como um fígado que renasce diante do abutre. És ladrão do fogo, Prometeu acorrentado, a cuspir no medo. De tua boca sai a metáfora, a sentença, o desafio da pitonisa, a salva de canhões, o grito.
Basta tua garganta para revelar a senha, submersa pela sanha assassina. A vida escapa, mas teu poema é a corda sobre o precipício. É espantoso ver Deus pôr-se de pé quando enfim consegues achar o som forjado em tua glória. Estendes então o dedo em direção a esse gesto de Capela Sistina. És a Criação, e a Terra enfim te acolhe, na semeadura utópica e sem motivos. Agora és um ruído de sementes em direção às águas. Brotas dessa brutalidade vaga, feita de ossos.
Teu rosto emerge na tormenta. A superfície se acalma. Um sopro cruza teu coração como um espírito.
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NO TEMPO EM QUE FALTAVA CARNE
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Urda Alice Klueger
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Quem é jovem, não deve se lembrar, se bem faltou leite, também, e muita gente teve a mamadeira em perigo. Então, para os mais jovens, eu explico :
Em 1986, tivemos no Brasil uma coisa que se chamou Plano Cruzado. Foi uma coisa estupenda: com uma penada, o governo acabou com a inflação, tirou três zeros da nossa moeda e mudou o nome dela. Só isso não foi estupendo: estupenda foi a reação do nosso povo, que acreditou que seus problemas tinham terminado, e embarcou de cabeça no sonho de que "ia dar certo". Como milhões e milhões de outros brasileiros, eu também acreditei, e fiquei fula da vida quando ouvi a única voz que se levantou contra o plano: com horário político reservado para aqueles primeiros dias, o Leonel Brizola deitou e rolou em cima do entusiasmo do brasileiro, afirmando que inflação não se acaba por decreto, que o plano era furado e tinha vida curta. Fiquei cheia de rancor para com o Brizola, advogado do diabo dos nossos mais caros sonhos e, rapidinho, passei a admirá-lo, quando plano escorreu pelo ralo e nós embarcamos numa ciranda financeira que chegou a gerar 84% de inflação em um só mês.
Pois bem, mas a estupenda reação do nosso povo a favor do plano fez coisas dignas de nota: não dá para esquecer como pessoas comuns se sentiam indignadas a ponto de fechar supermercados, em nome do povo brasileiro, e outras coisas assim, como denunciar pequenos negociantes porque haviam subido o preço de alguma quinquilharia, indo um monte de gente parar na cadeia, levados pela deusa da época, uma tal de SUNAB.
O plano tinha sido em fevereiro: resistiu até a metade do ano. Lá por agosto, setembro, começaram a faltar coisas: carne, feijão, arroz, leite. O que mais doía na alma do brasileiro era a falta de carne - frango havia à vontade, e peixe também, mas carne, para o brasileiro, é a de gado, e aqueles sucedâneos não contavam. Eu era daquelas que acreditavam que, se todos nos uníssemos, o plano acabaria dando certo. Assim, quando a carne faltou (conseguia-se carne com ágio, secretamente), decidi que não me rebaixaria a pagar ágio, e que tudo faria para o sucesso do plano. Assim, se não havia carne, eu comeria sardinha - e durante semanas, fiz incontáveis tortas picantes, lindas, bem decoradas, recheadas com sardinha de lata, e me alimentei de torta picante até não poder mais nem olhar para uma.
E o plano foi para o brejo, bem como Brizola havia falado. Houve outras coisas estupendas antes que nos déssemos por vencidos, como a SUNAB, de helicóptero, reunindo no campo, gado que os donos se negavam a vender, tudo devidamente filmado e assistido no Jornal Nacional, e importação de carne da Europa, que chegou aqui com fama de ser carne contaminada pelo recente desastre nuclear de Chernobyl, carne que os europeus não queriam, coisa boa só para gente de Terceiro Mundo. Apesar da fama de contaminada, tal carne européia causou toda uma disputa: políticos de esquerda do Vale do Itajaí foram ao porto, exigir que a carne ficasse no Vale, e não fosse enviada para Curitiba, segundo constava que seria. Houve pega entre a polícia e os políticos, e eles foram em cana lá em Itajaí, bem como as coisas eram num país que recém saíra de uma ditadura e ainda não sabia como agir. Outro dia ouvi uma conversa de que tal carne, vinte e quatro anos depois, ainda está estocada em algum frigorífico, para que se decida se está ou não contaminada pelo desastre de Chernobyl. Nossos políticos de esquerda, porém, tiveram que amargar a cana e responder a processos pela sua defesa do Vale, coisa que também considerei estupenda, por eles terem tido a coragem de dar a cara para bater em defesa do que acreditavam.
Na festa de fim de ano do meu emprego, naquele ano, havia toda uma fartura de coisas: camarão, pernil, peixe, frango, mas estávamos todos tão obcecados com a falta de carne, que quando o garçom apareceu com uma grande travessa de carne de gado e deu um pedacinho para cada um, só um pedacinho, para que não faltasse para ninguém, houve uma ovação no salão, e o camarão, e o pernil, e tudo o mais, deixaram de ter importância. Só que aí eu já não estava achando a coisa estupenda - já houvera incidentes demais por causa do plano, e eu passara a dar razão a Brizola, de que inflação a gente não acaba por decreto.
Mas que foi um tempo divertido, foi. Há tantas histórias engraçadas devido à falta de carne, que daria para escrever um livro!
Em 1986, tivemos no Brasil uma coisa que se chamou Plano Cruzado. Foi uma coisa estupenda: com uma penada, o governo acabou com a inflação, tirou três zeros da nossa moeda e mudou o nome dela. Só isso não foi estupendo: estupenda foi a reação do nosso povo, que acreditou que seus problemas tinham terminado, e embarcou de cabeça no sonho de que "ia dar certo". Como milhões e milhões de outros brasileiros, eu também acreditei, e fiquei fula da vida quando ouvi a única voz que se levantou contra o plano: com horário político reservado para aqueles primeiros dias, o Leonel Brizola deitou e rolou em cima do entusiasmo do brasileiro, afirmando que inflação não se acaba por decreto, que o plano era furado e tinha vida curta. Fiquei cheia de rancor para com o Brizola, advogado do diabo dos nossos mais caros sonhos e, rapidinho, passei a admirá-lo, quando plano escorreu pelo ralo e nós embarcamos numa ciranda financeira que chegou a gerar 84% de inflação em um só mês.
Pois bem, mas a estupenda reação do nosso povo a favor do plano fez coisas dignas de nota: não dá para esquecer como pessoas comuns se sentiam indignadas a ponto de fechar supermercados, em nome do povo brasileiro, e outras coisas assim, como denunciar pequenos negociantes porque haviam subido o preço de alguma quinquilharia, indo um monte de gente parar na cadeia, levados pela deusa da época, uma tal de SUNAB.
O plano tinha sido em fevereiro: resistiu até a metade do ano. Lá por agosto, setembro, começaram a faltar coisas: carne, feijão, arroz, leite. O que mais doía na alma do brasileiro era a falta de carne - frango havia à vontade, e peixe também, mas carne, para o brasileiro, é a de gado, e aqueles sucedâneos não contavam. Eu era daquelas que acreditavam que, se todos nos uníssemos, o plano acabaria dando certo. Assim, quando a carne faltou (conseguia-se carne com ágio, secretamente), decidi que não me rebaixaria a pagar ágio, e que tudo faria para o sucesso do plano. Assim, se não havia carne, eu comeria sardinha - e durante semanas, fiz incontáveis tortas picantes, lindas, bem decoradas, recheadas com sardinha de lata, e me alimentei de torta picante até não poder mais nem olhar para uma.
E o plano foi para o brejo, bem como Brizola havia falado. Houve outras coisas estupendas antes que nos déssemos por vencidos, como a SUNAB, de helicóptero, reunindo no campo, gado que os donos se negavam a vender, tudo devidamente filmado e assistido no Jornal Nacional, e importação de carne da Europa, que chegou aqui com fama de ser carne contaminada pelo recente desastre nuclear de Chernobyl, carne que os europeus não queriam, coisa boa só para gente de Terceiro Mundo. Apesar da fama de contaminada, tal carne européia causou toda uma disputa: políticos de esquerda do Vale do Itajaí foram ao porto, exigir que a carne ficasse no Vale, e não fosse enviada para Curitiba, segundo constava que seria. Houve pega entre a polícia e os políticos, e eles foram em cana lá em Itajaí, bem como as coisas eram num país que recém saíra de uma ditadura e ainda não sabia como agir. Outro dia ouvi uma conversa de que tal carne, vinte e quatro anos depois, ainda está estocada em algum frigorífico, para que se decida se está ou não contaminada pelo desastre de Chernobyl. Nossos políticos de esquerda, porém, tiveram que amargar a cana e responder a processos pela sua defesa do Vale, coisa que também considerei estupenda, por eles terem tido a coragem de dar a cara para bater em defesa do que acreditavam.
Na festa de fim de ano do meu emprego, naquele ano, havia toda uma fartura de coisas: camarão, pernil, peixe, frango, mas estávamos todos tão obcecados com a falta de carne, que quando o garçom apareceu com uma grande travessa de carne de gado e deu um pedacinho para cada um, só um pedacinho, para que não faltasse para ninguém, houve uma ovação no salão, e o camarão, e o pernil, e tudo o mais, deixaram de ter importância. Só que aí eu já não estava achando a coisa estupenda - já houvera incidentes demais por causa do plano, e eu passara a dar razão a Brizola, de que inflação a gente não acaba por decreto.
Mas que foi um tempo divertido, foi. Há tantas histórias engraçadas devido à falta de carne, que daria para escrever um livro!
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Alguma poesia
Quando me ponho
a lutar com palavras,
estou mesmo a fazer,
sem tanto querer,
negócios com a vida,
isto de escolher um lugar.
A realização de mim
não é mais o sentimento
de me obrigar a aceitar
o que penso consolar a alma,
mas saber da voz menor,
esta da qual dependo.
A minha densa criatura,
paciente, chegou-se a mim,
de modo a ter percebido
o que é indispensável,
desde que concluí:
melhor seguir em frente!
Sou gozo e escárnio
dos meus descaminhos,
dos passos que não dei,
das voltas que recusei,
ainda que me poupasse
e fizesse alguma poesia.
Daladier da Silva Carlos
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A ruptura dos nós
Belvedere Bruno
Quando me dispus a romper os nós que me atavam a um universo frágil e vazio, senti que a tarefa seria hercúlea. Não me acovardei. Foi como se montasse um cavalo alado e vislumbrasse paisagens que certamente reformulariam o roteiro de minha existência.
Deixei tudo para trás, não me importando se em meu ato havia ingratidão, frieza ou maldade. Dispensei autojulgamentos. Transformação era o que desejava, não o prejuízo de quem quer que fosse. Fui taxada como a desagregadora de lar. Logo eu, que sempre fui a boazinha, acalmando ânimos, aparando arestas... Cansei!
Saí do apartamento, deixei livre meu marido, pedi aos filhos que tomassem seu rumo.Queria viver a minha história, não mais a deles.
Comprei um chalé na serra e nunca senti vontade de enviar endereço a ninguém. Risquei da agenda todos os contatos. Rompi com o exterior, estafante em sua mesmice. Sinto o ar puro, o aroma desse verde sem fim. Explosão de plenitude.
Que satisfação cortar minha cabeleira e abolir tinturas! Dar um basta aos salões, academias, shoppings! Caminhar sem preocupações, exercitando livremente o direito de estar em paz comigo mesma.
Como prezo a liberdade! Ler, escrever bobagens, não pensar no amanhã! Nenhuma saudade do passado. Não me lembro de coisas nem pessoas. Sempre tive certeza de que esse negócio de amor materno era mito, daí ter sido fácil, também, desvencilhar-me de meus filhos. Marido é como objeto, que permanece ao nosso lado enquanto tem função definida. Lamento apenas o tempo que perdi. Serei, no íntimo, uma pessoa fria, sem vínculos afetivos? Não sei, nem quero analisar o fato. Estou feliz como nunca estive em minha vida. Não é a felicidade a meta do ser humano?
Se sinto falta de amor? O amor está no ar, é só questão de compreender que não é imprescindível a tão propalada simbiose.
Hum... a campainha está tocando. Que maravilha sempre saber quem é! A tal estabilidade que afaga, diferente daquela que esmaga. Hoje, celebraremos cinco anos da ruptura dos nós, que deu origem a um viver pleno de delícias!
4/18/12
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ORACULO
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Teu corpo templo sagrado...
Onde ajoelho em oração em referencio ao amor...
Banho-me no teu ardor... Plena purificação...
Comungamos o profano e o sagrado...
Os sons dos nossos corpos nessa fusão celestial
Verdadeira sinfonia de louvor a criação...
Substancias miscíveis... Minha essência na tua...
Luz implodindo trevas..
Na exatidão de dois sendo um...
Você meu oráculo... Me faz livre...
Te faz vida...Nos faz amor...
Rossana Monteiro
Onde ajoelho em oração em referencio ao amor...
Banho-me no teu ardor... Plena purificação...
Comungamos o profano e o sagrado...
Os sons dos nossos corpos nessa fusão celestial
Verdadeira sinfonia de louvor a criação...
Substancias miscíveis... Minha essência na tua...
Luz implodindo trevas..
Na exatidão de dois sendo um...
Você meu oráculo... Me faz livre...
Te faz vida...Nos faz amor...
Rossana Monteiro
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MINHA ESTRADA
Sá de Freitas
Lembrei da minha estrada percorrida:
Ah! Como ali ficaram definidos,
Sinais de passos trôpegos, perdidos,
De erros meus ao longo desta vida.
Mas essa estrada não está florida,
Por lembranças de tempos bons vividos,
Nem por carinhos meus correspondidos,
Tão pouco por bondade recebida.
Às margens vi espinhos do desprezo;
Em liberdade me sentia preso;
Queria rir, mas me causavam pranto.
Mas tudo isso me tornou mais gente,
Pois hoje a minha vida é diferente:
Se sofri muito, hoje não erro tanto.
Samuel Freitas de Oliveira
Avaré-SP-Brasil
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Minis
Antonio Augusto Bandeira
PEDIDO
Não posso esquecer-me de perguntar á São Pedro se o inferno existe. Por favor, façam a gentileza de me lembrar.
Quando fecharam o caixão, nada senti.
Afinal estava morto! –
A vida ´é confusa.
Complicada.
Triste.
Vou me matar.
-Garçom, mais um trago!
Prosa e poemas são palavras;
Escritas ao sabor da emoção
Sentimentos que podem ou não serem transmitidos.
Dái o valor que se dá aos escritores,
NÃO FOI POSSÍVEL
(Ary Franco – O Poeta Descalço)
Resta pouca areia para escoar na ampulheta desta minha vida passageira.
O tempo se foi, o curso do rio levou-me por campinas e vales de ti afastado.
Agora, já próximo ao final desta minha jornada, apareces-me linda e faceira.
Tristonho, vejo que não foi possível. Encontrei-te tarde, por demais defasado.
Alimento a esperança de que no próximo retorno, de uma nova encarnação,
Voltaremos trilhando pela mesma estrada, unidos, por uma inteira geração.
Na puberdade de nossas novas vidas já estaremos de mãos dadas, nos amando.
Amando o amor que não pudemos desta vez amar, só à distância lamentando.
Creias ou não, quando te fores, lá estarei para estender-te minha mão.
Aguardaremos Deus decidir inverter nossas ampulhetas de posição.
A areia novamente a escoar marcará o reinício de uma nova caminhada.
Só que, desta feita, contigo ao meu lado, como querida e eterna amada!
O PERFUME DA ROSAClara da Costa
Aquele romantismo,
de namoro no portão,
que acelerava o coração...
Que saudade!
de namoro no portão,
que acelerava o coração...
Que saudade!
Aquele olhar de ternura,
na dança ao luar,
um convite para amar,
nas mãos entrelaçados dos enamorados.
na dança ao luar,
um convite para amar,
nas mãos entrelaçados dos enamorados.
Aquela rosa vermelha,
como a paixão nos olhos dos apaixonados
exalava seu melhor perfume.
como a paixão nos olhos dos apaixonados
exalava seu melhor perfume.
O perfume da rosa é inesquecível,
traz de volta o passado,
guardado entre as folhas de um livro.
traz de volta o passado,
guardado entre as folhas de um livro.
POEMA DE MIM MESMO
© Reginaldo Honório da Silva
Agora preciso sair
Mas deixo postado aqui
Para quem olhar atrás da cortina
Meu pequeno estandarte
Nele tremula minha marca
Quem não olhar bem
Não abrir os olhos de poeta
Não verá estandarte algum
Não verá (por conseguinte)
Minha marca tremulando
Mas deixo postado ali
Meu sorriso de mil faces
Meu poema de mil disfarces
E minhas mentiras literárias
(Poeta que me faço, minto)
Mas a minha marca é impar
É como selo de segurança
Que precisa estar contra a luz
Ou no reverso do espelho
Para ser reconhecido
É como a digital impressa
Nas parábolas bíblicas
(longe de me fazer santo)
Uma confusão de sentidos
Num emaranhado de mistérios
Eis o estandarte que carrego
Legando aos olhos poético
A minha singular marca
Não para ser único
Apenas por me fazer poeta.
Rio Claro, 28 de março de 2012, às 11h00min
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BOM DIA, DIA
Acordei, fui à janela,
vi um avião passar,
vi pássaros na amendoeira
despreocupados a cantar.
Inspirei olhando tudo,
que a vista podia alcançar,
senti a brisa suave,
o cheiro de terra no ar.
Da minha janela eu vi
borboletas a bailar,
no jardim, botões de rosas
em suave desabrochar.
Enquanto me espreguiçava,
vi o dia despertar,
logo veio a realidade:
tenho que ir trabalhar.
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AMOR DE MÃE
Se é que existe preço, tamanho ou comparação,
Quanto custa o amor de mãe?
Mãe que pelo filho padece, sofre e chora,
Figura tão angelical como Nossa Senhora.
Mãe que advinha a angústia, a tristeza e a dor dos filhos,
Por ele dedica sua vida sem medir esforços,
Seja de manhã, de madrugada ou a qualquer hora.
Lá está ela ao lado do filho,
Chorando por ele, sofrendo com ele, rezando por ele!
Pena que muitos filhos ingratos...
Não retribuem-lhe o carinho recebido!
Depois de homens formados,
Vendo sua mãe já velhinha,
Dão-lhe de presente e agradecimento,
Um asilo como morada!
Para não dizer que aquela mulher de pele enrugada...
Abatida pelo cansaço e o peso dos anos,
Para ele tornou-se um pesado fardo.
Quando a pobre velha fecha os olhos,
Fica ele a pensar, num eterno arrependimento...
O que fiz para minha mãe?
Por que não estás comigo?
Foi embora para sempre!
Choro porque não fiz a ela tudo o que devia...
Muitas vezes não ouvi o que ela pedia,
Nem sequer escutei seus conselhos.
Hoje, clamo sua falta, choro sua ausência
Mas embora distante do filho,
Talvez em uma outra dimensão,
Será sempre para ela,
O filho eterno e querido,
Do seu humilde e bondoso coração.
Antônio Francisco Cândido
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Tudo passa
Tudo passa,
Tudo vai,
Tudo acaba.
Tudo some.
Tudo se transforma.
Mas não nossa força evoluir,
de ir adiante, de buscar lugares melhores
na vida.
Com amor,
com persistência,
com vontade,
com fé,
com esforço.
Nosso futuro pode
ser promissor, emissor, efetor,
de bondade,
de trabalho,
de fraternidade.
Com amizade transformamos
convivências;
com afeto transformamos um relacionamento;
com amor transformamos a vida,
nossa e dos outros;
com fraternidade fazemos irmãos,
e com irmãos e irmãos
formamos uma família,
e nesta
seremos todos iguais;
e com a igualdade não se tem
mais diferenças e o mundo
se torna equilibrado,
equânime,
e igualhado.
Aí, nossa fagulhas divinas se somam
e o fogo de Deus está.
Seremos mais nós.
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MÃE,
NOSSA DE CADA DIA
Nelson Vieira*
Mãe! Uma palavra pequenina, que exprime uma força descomunal, pertinente às mulheres, possuidoras da dádiva de procriar seres semelhantes. No entanto, há aquelas que não podem ser Mães, é o caso de que toda regra há exceção.
No entanto, mesmo nas limitações temos as Mães adotivas, essas mulheres fora de série pela tomada de posição sublime, ao aceitar criar, educar e preparar ser (es) humano(s), em família, em condição de igualdade, como consangüíneos, num desprendimento insigne, de coragem. São pessoas que possuem o perfil, de adotar e se doar em favor de outrem, no mundo.
Agora, ao retroagir no tempo e feita uma análise instantânea, dá para dimensionar o quanto fomos danados e cometemos travessuras para mais de metro, e, lá estava a Mãe para nos colocar no caminho certo. Sim, por várias vezes a deixamos de cabelos em pé, e ficávamos com medo do pai tomar conhecimento de imediato das ocorrências. Era necessário se auto preparar para absorver as conseqüências. Xi, se ele soubesse de pronto, aí de nós, um castigo, uma surra, com certeza acontecia. A Mãe, nunca, nada escondeu e tudo ela contava para o pai. E até foi muito bom, graças a Deus, os corretivos foram ministrados no momento certo.
Nem por isso a gente deixou de traquinar. Ninguém era e é santo. Aprontamos, e muito. E até para isso tinha que ter criatividade. Havia em contrapartida, respeito a tudo e a todos e também tínhamos obrigações, não havia mordomias. E aí daquele que descumprisse suas tarefas. Não havia o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente e nem os Conselhos Tutelares. Ninguém morreu, sobrevivemos às reprimendas, nos tornando cidadãos. Sempre houve o pulso firme da Mãe, coadjuvada pelo pai, uma parceria que deu certo.
Mãe é mãe, por exemplo, lembram-se daquele momento épico da decisão do rei Salomão, quando a Mãe preferiu que o filho fosse entregue a outra mulher, do que vê-lo dividido (morto). Atitudes para manter a vida dos filhos a qualquer custo, seguidamente acontecem. Como aquele episódio que foi registrado por uma equipe de reportagem de uma emissora de televisão, dias próximos passados: uma Mãe jogou-se num poço a céu aberto para salvar o filho (criança), sendo que ela não sabia nadar. Felizmente, ambos saíram ilesos do incidente.
A globalização chegou trazendo facilidades. E, como conseqüência são inúmeras as novidades e não é para menos, as pessoas acabam seduzidas pela automação. Nada contra os avanços tecnológicos, muito pelo contrário, só que os homens têm sentimentos, algo que as máquinas não possuem. As máquinas contribuem para o desenvolvimento, entretanto nunca irão substituir uma Mãe, isto é, elas (as máquinas) produzem somente o que é ou está programado. Elas auxiliam as Mães.
Ter a Mãe ao lado, junto, é extraordinário. Felizes são os que as tem. A falta que faz uma Mãe, sua perda, gera um espaço vazio que jamais será preenchido. É como que sofrer uma amputação e ficar aleijado. A seqüela é permanente.
Em quantas ocasiões recorremos a Mãe para obter conselhos? Perdemos a conta! Algumas vezes ficamos chateados por ela tolher algumas de nossas vontades que, poderiam redundar em prejuízos e nós “espertos”, queríamos porque queríamos dar vazão às pretensões. Com sabedoria soube conter nossos ímpetos de arrojos. Foram tantas que, cedemos à mão à palmatória.
Um dado importante e corriqueiro, a Mãe sempre enxerga no filho feito adulto, o menino, o moleque, o garoto, o guri, o piá, denominações postas em prática, dependendo da região, mas com carinho.
Com direito de volta e meia, ora orientar, ora puxar as orelhas e passar uma carraspana, mesmo com o passar dos anos, no declínio natural acometido as pessoas.
Criaram uma data para homenagear as Mães, afinal, elas merecem. Na verdade, elas devem ser reverenciadas diariamente, se assim for possível. Mãe é um ser especialíssimo na nossa vida, e só se tem uma, a Mãe, Nossa de cada dia! A que gerou ou não, mas aquela que fez e faz das tripas ao coração para o(s) filho(s) ser(em) Homem(ns) com H maiúsculo, no sentido amplo da palavra.
Mãe! Exemplo de criatura, jeito de ser, uma herança, uma sucessão de bens que devemos cultuar. Somos eternamente pequenos diante da sua grandeza de pessoa, que no seu coração, na sua mente continuamos aquela criança grande.
Na simplicidade, as Mães moldam as “esculturas”, suas obras, dão mobilidades, proporcionam “asas” às imaginações dos filhos, para o amanhã. Às Mães que estão entre nós, nosso reconhecimento pelo que fizeram, fazem e, com certeza continuarão fazendo em benefício do (s) filho(s), motivo pelo qual rogamos ao Grande Arquiteto do Universo que é Deus, que as ilumine, dotando-as de saúde e sabedoria no cumprimento do sacerdócio de ser Mãe, um dom divino.
As Mães que passaram para o oriente eterno, nossa eterna gratidão.
*Membro da AMLMS e AACLCA.
Excelência de escritos. Ler a todos estes nomes, é ser presentado, com o mais perfeito dos presentes literários...
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