quinta-feira, 8 de maio de 2014

MEMBRO: Anchieta Antunes

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José de Anchieta Antunes de Souza - ANCHIETA ANTUNES
Recife - PE
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José de Anchieta Antunes de Souza, nasceu em Olinda, em 24 de janeiro de 1938. Desde jovem desfrutou do prazer de escrever, sem ter o cuidado de guardar seus textos, deixados perdidos pelos caminhos da vida. As letras escritas à mão ou em máquina datilográfica, desceram a ribanceira do esquecimento, do não retorno... Com 59 anos aposentou-se e estabeleceu residência em Gravatá – PE, onde vive até hoje, com a esposa, a escritora uruguaia-brasileira Dea G. Coirolo e um dos netos. Aqui retomou a arte de escrever. Faz parte da Academia de Letras, Artes e Ofícios Municipais de Pernambuco em Bezerros. Tem dois livros em preparação: um de crônicas da vida e o outro sob um bebê, desde sua gestação até os três anos de idade, que conta “segredos ao pé do ouvido do seu avô” e discorre irônica e humoristicamente sobre o deslumbramento das descobertas que proporciona o crescimento. Vem fazendo uma coleção de crônicas humorísticas com um personagem chamado Libório, onde muitas de suas experiências de vida dão um toque às histórias. Aqui apresentamos uns poemas escritos depois de seus setenta anos de idade quando resolveu acrescentar poesia a sua escritura. Publicou na Antologia poesia do Brasil, volume 18, do XXI Congresso Brasileiro de Poesia em Setembro de 2013. Tem publicações on-line, sendo colunista do blog de Lenilson de Caruaru e como tradutor oficial da Academia de Letras (ALAOMPE) da língua portuguesa para a espanhola.
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Crônica nº    7  -  Libório   no     Aeroporto
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_Agora não posso viajar, não! Estou muito doente e melhor seria ir para o hospital.
            _Você nunca esteve tão bem de saúde como agora, e o melhor a fazer é ir preparar sua mala.
            _Mas você disse que a viagem seria em abril e nós estamos em janeiro!
            _Não custa nada ir treinando, para quando chegar o dia já saber o que tem que colocar na bagagem.
            Liborio não queria de maneira nenhuma ir para Paris passar quinze dias passeando, recordando o tempo em que estiveram  na lua de mel. Seria uma viagem de recordações, boas memórias, no entanto Liborio tem pavor de viajar de avião e por isto mesmo inventa qualquer desculpa, por mais ridícula e infantil que seja.
            Na fila para fazer o “chek-in” Liborio cochichou no  ouvido de Sonia:_Você sabe que eu só viajo de primeira classe, né? Então é melhor voltarmos para casa, não temos grana para uma  viagem desta! Vamos...
            _Vamos sim, continuar na fila, esta questãozinha já foi resolvida, nós vamos de primeira classe, sim senhor!
            _Você é louca? Quer me levar à falência? Devolva as passagens, “AGOOOORAA”!
            _Liborio, por favor, não entre em pânico, não surte; não gastei nem um centavo seu; você por acaso esqueceu que nós temos dois filhos? Eles providenciaram tudo, sem ônus para nós, tá satisfeito com seus filhos?
            _Sonia, você é mesmo irresponsável, pedir isto aos meninos, sabendo como eles trabalham para sustentas suas famílias! Uma despesa extra sem necessidade nenhuma! Só você mesma! Coitado dos meus filhos...
            _Liborio, você sabe muito bem que nossos filhos são comerciantes bem sucedidos, que esta pequena contribuição não vai alterar em nada o orçamento deles, e eles tiveram o maior prazer em nos proporcionar uma viagem confortável.
            _Ah! Meus filhos, nunca imaginei que meus filhos fossem me “TRAIR DESTA MANEIRA, DESCARADAMENTE, SEM NEM AO MENOS ME CONSULTAR... TRAIDORES...” Pensava em voz baixa o homem vencido pelas providencias da mulher que o ama tanto...
            _É, mas mesmo assim não vou poder viajar, estou queimando em febre...
            Sonia colocou a mão na testa do marido, apalpou seu braço e disse:_Meu amor, você está gelado, não tem febre nenhuma, deixe de inventar desculpa amarela!
            _Pois é! Estou com “FEBRE   INVERTIDA”. Antes que você pergunte, febre invertida é febre pra dentro, o calor se transforma e frio glacial, e se eu não logo para um hospital, vou morrer aqui mesmo no aeroporto, quer que eu morra, é?
            _Febre invertida? O que é isto? Meu Deus do céu, o medo é profícuo!
            _Isto mesmo, agora você acertou... eu também sou “pró-fico”, todos nós somos pró-fico. Está resolvido, ninguém vai pra Paris, Praris se quiser que venha praqui... estaremos aguardando no pé daquela torre de ferro...  Sonia, falando serio, você não acha que seria muito melhor nós irmos para a praia?
            _Meu nego, você não gosta de praia, não sabe nadar, tem medo do mar por causa das caravelas; você quer fazer o quê no mar? Não senhor, vamos para Paris, afinal de contas só falta embarcar e fechar os olhos.
            _Antes de fechar os olhos quero e preciso tomar um uísque duplo, não, triplo ou mesmo o copo cheio, só assim vou conseguir chegar vivo naquela cidade tão distante. Sonia, você não acha melhor nós irmos para a casa das montanhas? Lá é tão legal, ar puro, muito verde, cheiro de natureza, ouvindo o farfalhar das folhas ao sabor dos ventos e por cima, ainda podemos ver o mar, lá longe, de binóculo. E aquela sala maravilhosa, ampla, cheia de arvores, de folhas como tapete e de flor do jambeiro! Prometo  que logo que chegarmos vou fazer, eu mesmo com minhas mãos e disposição uma gostosissima salada de frutas, com os seguintes ingredientes: oito jambos grandes e maduros, banana maçã, banana anã, banana ouro, banana pacovan, banana São Tomé, banana prata, banana comprida e suco de laranja, pelo menos esta foi a receita que minha amiga me ensinou e ficou de fazer pra nós na ultima vez que nos vimos. Estou aguardando... É só descer para o quintal e colher todas as frutas...
            Chegaram em Paris e Liborio continuava vivo, embora com uma ressaca horrível, uma dor de cabeça de matar leão, e foi logo dizendo: _Sonia, agora nós vamos morar em Paris... voltar nem pensar, pode logo ir tratando de alugar um apartamento bem distante do aeroporto.
            _Liborio, nós podemos voltar de “N A V I O”!!!!!!!
            _Esqueceu que não sei nadar?
            _E quem disse que o navio vai afundar?
            _Você garante???

            Ah! Liborio, o melhor é você ficar em casa e colocar os pés em água quente e perfumada com flores de jambeiro.

Anchieta Antunes
Gravatá, 28/01/14.
           
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A CHUVA
Parou de chover...

O sol voltou insolente, com  ardor abrasivo e luminescente, próprio de astro rei, que é, sem saber que o é.
Choveu a semana inteira e as flores estavam tristes, de crista baixa, sofrendo os pingos constantes, atrevidos e úmidos. De tantas chicotadas que sofreram, os galhos quebraram-se em dois, em três; viram seus ossos expostos, despedaçados e sem direito a ortopedista, sem contar com a cama de gesso ou antiinflamatório. Era para sofrer mesmo a dor do estilhaço.
As flores que conversavam entre si reclamavam do tempo insólito, rebelde e atrevido. A rosa dizia pra dália:_Amiga não sei onde foi parar minha fragrância, meu perfume que guardei com tanto carinho naquele vidrinho que você me deu no meu desabrochar; o aguaceiro levou jardim  afora e não o encontro mais para espargir bálsamos de felicidade. Não sei o que fazer sem meu principal conteúdo, o que inebria pardos e coloridos.
A dália se queixa porque perdeu suas cores pulcras que tanto embelezavam  a paisagem bucólica. Dizia: _Sem cores não sou nada, apenas mais uma entre milhões, não passo de uma estatística.
A roseira triste e cabisbaixa dizia para sua amiga dália:_Faz uma semana que não recebo a visita de meus amigos voejando ao meu redor, pulando de galho em galho, banhando-se neste pequeno lago no meio do jardim.
_De quem você está falando, amiga roseira, perguntou a dália.
_Ora de quem! Dos meus amigos pássaros. A “lavadeira” fazia o maior alvoroço quando mergulhava sacudindo suas asas, cantando uma cantiga que só ela entendia. O “beija-flor” sugava meu néctar como quem mama no peito da mãe, depois depositava um osculo nas minhas pétalas. Conheço os segredos de todos eles, sei onde nidificam, onde fazem amor, onde põem seus ovos, e onde defendem seus filhotes. Conheço suas árias de sedução e as do fato consumado. Tenho muita saudade dos meus amigos, não sei o que fazer para atraí-los para meu convívio.
_Não se apoquente, minha amiga, logo, logo eles virão, afinal o sol continua brilhando no firmamento. É só uma questão de tempo e paciência. Até parece que estou ouvindo o farfalhar das asas do rouxinol; escute, preste atenção...
Nada é perfeito para todos, enquanto as flores reclamavam do excesso de chuvas, as raízes acharam maravilhosa a semana encharcada de aguaceiros, pois estavam escondidas no submundo do imenso jardim; suas goelas  repletas de água, e já não precisavam de nenhuma ajuda de regador. Pelo menos nos próximos dois ou três meses não sofreriam as agruras da desidratação. Nadavam  no córrego da felicidade, da fartura, do “ora-pro-nobis” que nutria a cerca viva.

Venha mansa
como quem chora
a perda da chama,
chegue devagar
para não afugentar
o viço da manhã,
molhe pacata
como aconchego de mãe.
Aconteça serena
para não alagar
suave para não matar.

Aproxime-se dengosa,
diáfana, envolta
num manto de nuvens,
encoste-se molhadinha
cobrindo-me por inteiro
como uma donzela no cio,
vamos urrar juntos
por toda a eternidade.



O gramado, tapete verde cobrindo todo o espaço de plantas e flores, saltitava de alegria, batia palmas com suas folhinhas alegres e espigadas, luzindo a luz do sol em ascensão. Um bom ouvido podia ouvir a algazarra dos arbustos, das fruteiras e até mesmo das frutas a serem colhidas maduras prontas para serem consumidas.
O sol trouxe não só um pouco de calor como uma grande carga de jubilo, de alegria e vida florescendo no recanto da nata das flores. O jardim desfilava airoso, todo orgulhoso de suas cores, de seus perfumes e fragrâncias exóticas, expunha seu verdor como quem mostra suas qualidades intrínsecas. O sol trouxe vida e luminosidade, brilhando como um espelho dos contos de fadas.
Nem tudo estava perdido, ou melhor, tudo estava a salvo com a água que vinha de longe, caindo  no solo gretado, no lombo dos animais sedentos, nos charcos carcomidos pela seca. O chão rachado absorvia com voracidade todos os pingos do dilúvio. _Parece que fomos salvos pelo ultimo grito de socorro, diziam os sertanejos vergados de sofrimento.
A  chuva  ressuscitou  o moribundo, lavou a angustia, brilhou nas folhas, sorriu nas pétalas, e voou nas asas do imaginário.  

Anchieta Antunes -   Gravatá – 16/04/14
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FAISCA

Latente, urgente, presente
não vem...
está
no leito da teia
dorme alerta

Ao roçar suave
na pele inerte
abre os olhos ardentes,
domina
com força vulcânica
com lava fumegante
sufoca os sentidos
afaga a lascívia

O amor surge...
de onde?
não cabe pergunta
apenas percebo
a força invisível
que veio instalar-se
no meio do nada
com  força de vento
com  verdade eterna
Chegou pra ficar
apenas domina
preenche os vazios
dissolve o rancor
afasta a dor
-AMOR-

Anchieta Antunes –
Gravatá – 08/02/13
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POEMA     DO      CORAÇÃO

I-
Lancinantes dores
contorções avulsas
corpo pesado
cérebro exausto
quebrados os uivos
no corpo  fraco.
Músculos,
palpita
              ações
receios,
transfigura
                ações
elementos
rota
                 ações,
prova
                 ações
inter
                 ações
Infarto.



II -
Coração de bengala
alamedas desconhecidas
elevadores, corredores
branco brilhante
máscaras engomadas
metais fulgentes
cortes precisos
sono intenso
talho fundo.
Hospital.



III -
Veias azuis recebem
pingos cadentes
pulso  vermelho
telha rubra
quarto suave
luz esmaecida
vida adormecida
infarto vencido.



Placidez  no regaço
do amor primeiro
o milagre do beijo
cadência do amor.
Salvo.


Anchieta Antunes   -   Gravatá, 11/02/14.




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