sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ivana Maria França de Negri

Óleo no Golfo
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A hemorragia negra não se estanca nos mares. O desastre de grandes proporções no Golfo do México se alastra levando preciosas vidas em seu rastro de horrores.
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Em pleno ano da Biodiversidade, na Semana Mundial do Meio Ambiente, paisagens encantadoras são tingidas de cinza e o verde desaparece. Somente o azul do céu ainda resiste à irracionalidade humana.
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Santuários sagrados, cheios de vida e cor, que existem há milênios, são profanados. A hemorragia cinzenta não cessa e a natureza adoece gravemente.
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Anêmica, Gaia perde as cores. Seu verde é sequestrado. Alvas areias tingem-se de ébano e tornam-se gordurosas e grudentas.
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As águas, ora esverdeadas, ora azuladas, tornam-se viscosas e escuras. Já não existe oxigênio e as criaturas marinhas agonizam lentamente. Milhões de corpos inchados bóiam na superfície das águas petroleadas formando uma camada fétida e putrefata de visão dantesca.
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Aves de olhos enlameados e vítreos fitam o horizonte, agora inatingível. Suas asas envoltas no óleo pegajoso já não podem mais alçar voo. Seu grito de socorro é mudo, ninguém pode fazer nada por elas.
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Imensas áreas, a perder-se de vista, vão dia a dia sendo consumidas pela maré negra. Rios e mares mortos. O homem não consegue deter a hemorragia e o paraíso do Criador se aniquila.
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O óleo nefasto se espalha pelos continentes atingindo locais intocados, desvirginando-os. A natureza é cruelmente invadida em seus mais íntimos recônditos. Até quando poderá suportar? Até quando resistirá bravamente? Até quando ressurgirá, qual Fênix, das cinzas?
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Os céus derramam lágrimas em forma de chuva fina, choram silenciosamente pela devastação, pela agonia e morte de criaturas inocentes.
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Será que esse ser, ávido pelo vil metal, que se auto intitula rei da criação, ignora o tamanho da tragédia que causou? Será que sua consciência não o acusa?
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Tantas guerras deflagradas pelo ouro negro, tanto ódio e conspirações entre as nações, e de repente, o motivo das discórdias é todo lançado às águas, não vai enriquecer ninguém, ao contrario, vai consumir muito dinheiro para tentar, em vão, consertar o inconsertável.
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Ah, insensato bicho-homem, não vês que herança sórdida estás a deixar à tua descendência? Não enxergas que destruindo a natureza estás a destruir-te a ti mesmo e decretando teu próprio fim?
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Infelizmente, o vaticínio é monstruoso. É sombrio o futuro da humanidade: natureza mártir do bicho-homem, sem animais...sem vegetação... sem vida...



Ivana Maria França de Negri é escritora e defensora das causas ecológicas

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