sábado, 19 de novembro de 2011

"Co ivi oguereco iara" - ( Esta Terra tem dono! )



"Co ivi oguereco iara"
 ESTA TERRA TEM DONO!
TRIBUTO A NÍSIO GOMES - CACIQUE GUARANI-KAIOWÁ


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Nizio Gomes, líder indígena de aldeia de Amambai, em Mato Grosso do Sul, foi assassinado na manhã de sexta-feira (18), por voltas das 6 horas, no Tekoha Guaiviry, recentemente retomada pelos Guarani-Kaiowá, que estavam assentados na beira da BR-386, que liga Ponta Porã à cidade de Amambai. A área em disputa faz parte de um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) assinado em Brasília, diretamente pelo Ministério Público Federal e a Funai e todas as lideranças indígenas da região, em novembro de 2007.O TAC prevê a retomada dos “Tekoha”, a área tradicional originária de cerca de 39 comunidades indígenas, expulsas da terra, remotamente, por fazendeiros que ocuparam a área. O líder indígena foi executado em frente ao filho.



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                               Carta Aberta a população de Mato Grosso do Sul http://cercleuniverselambassadeurspaix-dd.blogspot.com/2011/11/indio-genocidio-nao-carta-aberta-ao.html

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O Diretor da Survival International, entidade de defesa dos povos tradicionais no mundo, Stephen Corry, fez um alerta: “parece que os fazendeiros não estarão satisfeitos até matarem todos os Guarani. Este nível de violência contínua era comum no passado e resultou na extinção de milhares de grupos e sociedades indígenas. É uma absoluta vergonha que o governo brasileiro permita que esta violência continue nos dias atuais
 
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"Co ivi oguereco iara" - ( Esta terra tem dono!)
Delasnieve Daspet
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É, verdade,
"Co ivi oguereco iara" !
Esta terra tem dono, senhores!
Quando chegaram já estávamos aqui
Praticavamos uma sociedade de iguais,
Propriedade coletiva, cuidando dos  velhos e crianças;
A terra, trabalho de um povo feliz!
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O povo Guarani  é  o símbolo das ruínas vivas,
Gente excluída, pobres, esquecidas, desprezadas,
Que teimam em buscar seu lugar ao sol;
Teimam de buscar suas terras usurpadas;
Teimam pelo reconhecimento de que são seres humanos;
Buscam um emprego digno, uma velhice  decente, infância respeitada,
Teimam em ter a dignidade reconhecida.
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É uma chaga, uma cicatriz antiga, que não foi  curada!
A lança portuguesa e a pistola espanhola e o branco,
herdeiros dos conquistadores,
Interromperam o crescimento deste povo
Que hoje vive em favelas, nos campos, nas fazendas, nas matas, nas cadeias,
Nas ruas, embaixo das pontes, vilas, barracas de lona pretas,
Nas beiras dos rios e estradas.
Onde havia paz, viceja o latifundio;
No lugar da felicidade , escravidão e  exploração;
A fome e  miséira em vez de pão;
No lugar da dignidade a humilhação de mendigar favores
Para sobreviver.
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Sobre os destroços dos guaranis plantaram-se sesmarias,
E  grandes lavouras,
Que fizeram  crescer a injustiça,
A desigualdade, as dores e as mortes...
Valor que impera até hoje!
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Há duzentos e cinquenta anos começaram as mortes,
Primeiro foi o  guarani-missioneiro Sepé Tiaraju...
Tantos outros ficaram pelo caminho,
Aqui em Mato Grosso do Sul lembramos
Marçal de Souza - Tupa-I, Ortiz Lopes, 
Xurete Lopes, os professores Rolindo e Jenivaldo,
e agora o Nísio Gomes Kaiowa  Guarani!
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Pachamama esta encharcada com o sangue dos Guaranis.
Mataram um lutador sorridente, mas não mataram o ideal, a luta,
O espirito de tantos lideres Guaranis continuam vagando pela América,
Com o corpo, as vezes, cambaleante, mas com olhar  firme e fixo,
Enxergando no horizonte a terra sem males,
Onde poderao manifestar  a sua identidade e a sua cultura.
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Que o grito de Nisio Gomes ecoe junto ao coro de outros tantos  guerreiros:
"Vocês não deixem esse lugar.
Cuidem com coragem essa terra.
 Essa terra é nossa.
Ninguém vai tirar vocês...
Cuidem bem de minha neta e de todas as crianças.
 Essa terra deixo na tua mão (Valmir). Guaiviry já é terra indígena”
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"Co ivi oguereco iara"
Assim falou nhanderu Nísio Gomes, agora,
 vento que anda pelas trilhas deixadas pela ausencia...
DD_Campo Grande-MS, 19 de novembro de 2011

 
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