DALADIER DA SILVA CARLOS
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Penso que toda apresentação pessoal ou é generosa ou trata com demasiado rigor o apresentado. Se pudesse, não faria comigo nem uma coisa nem outra, apenas diria, em uma ou duas linhas, que gosto de escrever, e pronto. Mas preciso informar que tenho na poesia a maneira simples e justa de conversar comigo e com o mundo, o que, no final, revela traços da minha lenda. De concreto, escrevi três livros de poemas, através dos quais tentei interpretar sentimentos, fatos e ilusões. No primeiro, "A Pele da Alma", tive a inestimável ajuda de um querido amigo, Arley Camillo, de Mariana, que ilustrou a capa e ousou o texto encomiástico da apresentação. Em seguida, vieram "Um Raro Olhar" e "...E o Espelho se Desloca". Este quarto livro, "Espetáculo da Solidão", é uma tentativa de o autor participar da cena, naquilo que o verso quer explodir, sem se importar com os estilhaços que possivelmente lhe penetram a alma. Afinal, o poeta não pode se furtar ao confronto inevitável e permanente com os conflitos do seu discurso. Tenho material pronto para mais outros livros, o que será objeto do olhar do destino. No mais, nasci carioca, e provavelmente terminarei por aqui, junto ao mar, imerso na poesia. Então, o que posso querer mais, senão agradecer a Deus?
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Crítico social
Roubaram o meu índio
mataram o meu operário
ofenderam o policial que quero
falaram mal do juiz do meu lazer
prenderam o meu ativista na esquina
soltaram o contrabandista que não tolero
deixaram vivo o leão que me esbulha
falsificaram o leite do meu neto
votaram impostos que me afrontam
dividiram a minha polícia
repartiram o meu exército
algumas vezes para operar no front
outras para subir os morros cariocas
então já não sei se me conheço
se encontro a mim na farda
nas insígnias e nas estrelas
na lei que agora me ameaça
esquecer que sou cidadão
para tão só acompanhar
as diatribes de quem não é Demóstenes
mas se faz acompanhar de Cachoeira
e chafurda na metáfora da podridão
eta vidinha besta esta de crítico social!
Daladier Carlos
05 abril, 2012
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A hipócrita razão de ser
Dá-me a tua mão
Valho-me de impressões,
talvez de imprecisões,
de opiniões, pontas de falas,
as tantas vozes que se conectam
na busca de uma saída,
provavelmente de um tom possível.
Muitas vezes ouço a quem não quero,
aguardo o que não me convém,
consinto numa desesperada e inútil
tentativa de ser cortês
ou ao menos merecer,
sem qualquer reserva,
ser deixado finalmente em paz.
Mas a recíproca é fatal,
vem rápido lembrar a mim
que não sou reserva de coisa alguma,
pelo pouco e muito que desfaço
em impaciências e descomposturas
daquilo que o humor não comemora.
Não sei se me inimizei com o mundo,
deixei de lado as regras das cerimônias,
mas é desesperadamente desgastante
se não for uma loucura administrada,
saber que sou coisa e fato controlado
nas mãos e ocasiões que dispenso.
Daladier Carlos
09 abril, 2012
Dá-me a tua mão
Vida morena,
vida curta,
que se derrama
sobre dias e noites,
e tenta sempre resgatar
o que não aprendeu.
Nesta vida morena,
ralo a pele,
esfrego o rosto,
nem sempre sereno,
nos panos da sorte,
temendo talvez a morte.
Vida morena, louca uma vezes,
serena em outras ocasiões,
nada lhe é inútil deveras,
porque a tudo pondera,
pesando o joio e o trigo,
ainda que se amasse o pão.
Vida, ó morena rosa vida,
escarlate, negra retinta,
azul profundo ou até
verde espraiado,
sobre vales e montanhas,
dá-me a tua mão, querida!
Daladier Carlos
12 abril, 2012
Porque é mulher
Mulher, onde me perdi,
Afinal, dos teus encantos,
Das menores carícias
Que oferecias sorrindo,
Acordada na luz que,
Desde cedo, te iluminava?
Quem és tu, mistério insondável
De pernas e braços que balançam,
Em ondas que anestesiam o cérebro,
Na lentidão de silenciosos movimentos,
Como se o mundo viesse às tuas mãos
E nada restasse a mim senão sonhar!
Todo dia me dou conta
De estar vivo por tua obra,
Ao conceber o teu amor por mim,
Como se percebesses ainda,
Além do homem convidado ao leito,
O menino a quem falas com atenção.
Sim, continuo em tua companhia,
Porque quero morrer no aconchego
Do espaço que marca o teu lugar,
Conciliado entre ouvir os teus nãos,
E receber o prêmio que me obriga
Concluir que és mais forte, por amor!
Sumidouro do tempo
ResponderExcluirUma notável inquietude
passa com garbo em revista
as imputações dos dias,
nas loucas agitações de nervos
e palavras que se agarram e vão
ao sumidouro do tempo.
Se arrumo verso sem resposta,
posso crer nas imprecisões
dos riscos a que me arrisco,
mas não avalio, com folga,
haver coincidência oportuna
para refugiar-me em alguma.
Produzo a cor, o cheiro,
as entranhas do meu trabalho,
com ideias que correm,
soltas e promissoras,
a me esperar depois.
Sinto a falta necessária
de uma concreta nudez,
porque devo me examinar,
saber, enfim, que o meu olhar,
sem prévia consideração,
avisa-me da ausência do tempo.
Animal autobiográfico
ResponderExcluir(ensaio de discurso)
Nas páginas de Derrida
leio um animal autobiográfico,
algo bem original para mim,
contudo não me aproximo
da nudez a que refere,
mas às minhas indagações.
Para ele, esse animal
é uma instância além
do limite do seu corpo,
o que lhe permite
perceber qual, afinal,
a vergonha que o incomoda.
Abandono Derrida
às suas interpretações,
logo pondo a me perguntar
se os limites da fantasia
são muros especulares,
impostos ao enigma de cada um?
Meu animal autobiográfico
é um sujeito alado,
com asas de prata,
então, penso me lançar
longe dos restos de poemas,
distante, sem mais explicações.
O fantástico de cada um
ResponderExcluirPrecisamos de um fantástico,
de uma obra ou fato indefinido,
talvez do estrondo da emoção,
para confirmar que estamos vivos,
podemos continuar apostando
em nossas crenças e sugestões.
O corpo é variável quase sempre
aos delírios silenciosos da mente,
indo do cinza escuro da manhã
ao rubro do prazer impenetrável,
mas como podemos decifrar
os conteúdos da subjetividade?
Não há verdade em homem algum,
a não ser as muitas interpretações
dos ruídos que lhe são aparentes.
Então, um fenômeno se junta a outro,
remete a um terceiro, e este resume
a história como se fosse de todos.
A verdade das nossas mentes
é tão só uma ideia placentária,
aquilo que nos alimenta anos a fio
e nos lança na experiência sensível,
uns para se tornarem livres consigo,
outros para se perderem no éter.
Cinismo e Razão
ResponderExcluirSe a minha razão
é matéria cínica,
então posso questionar
haver tal razão perdido
a sua noção de medida
ou o cinismo será um halo.
Quando me aproprio
de alguma razão
assumo um papel
tão geral quanto possa
o meu caráter resistir
ou a minha força sufragar.
Os comentaristas costumam
dar às palavras significados
que não só lhes assegurem
dominar o corpo do fato,
quanto estabelecer uma ponte
entre o que é e o que parece ser.
Não há cinismo se não existir
certo substrato que estenda
motivos e propensões à velha
e inolvidável indagação de nossa vida:
quem sou eu, afinal, neste circo
onde cinismo e razão andam juntos?
Daladier Carlos
24 maio, 2012
Texto principal
ResponderExcluirCom os mesmo versos,
tramo iguais poemas,
senão para reforçar,
ao menos lembrar
quem sou por fora
e no interior do verso.
A tão só produção
da narrativa poética
já é um discurso especial,
conquanto possa ser ainda
tão patético ou precursor
de uma linha original.
Os mecanismos que dão
carne, cor e corpo
aos sentimentos da hora
são talvez loucuras,
remates do ego inflamado,
uma quase compulsão.
Não há de ser o meu texto
referência de coisa alguma,
em razão de criticar primeiro
tudo que ponho no papel,
de modo a jamais ter receio
do retorno ao texto principal.
Daladier Carlos
25 maio, 2012
Licor de paz
ResponderExcluirQuero salvar a palavra,
livrá-la de mim, talvez
ainda deixá-la livre e solta,
sem o perjuro do que sei
ser falso para dar a mim
garbo e entonação de poeta.
Não há verso ou verdade
capazes de livrarem a mim
do endividamento do texto,
daquilo com que envolvo
a palidez notória do meu rosto
quando me entrego às leituras.
Há, ora, quantos os há no mundo,
célebres e anônimos construtores
de verdades macias, completas,
parecendo terem sido costuradas
sobre panos de cetim, sem dobras,
como se fossem vestir os deuses?
Alguma consciência da escrita será
a resposta para perguntas e aflições,
as tantas que me acompanham,
desde as manhãs, ao comer do pão,
às fraldas das madrugadas,
quando o sonho é meu licor de paz.
Daladier Carlos
26 maio, 2012
Mudar a história
ResponderExcluirA ficção é uma proposta,
metáfora acabada de si,
solidão permeada de futuros
tão ingênuos quanto os ponteiros
que no relógio retornam sempre
aos números de antigamente.
Não me alimento nem bebo
do que não consigo processar,
num procedimento cíclico
do que vai do norte ao sul,
e retorna ao mesmo lugar,
para somar evidências.
Há vozes intrusas no mundo,
dispostas aos úteis sacramentos.
Algumas, chorosas, erguem os lenços
para domesticar o solitário instante
daquilo que não se pode indagar,
caso contrário todo amor se esvai.
Inspiram-me os meus personagens,
indivíduos capazes de criar corpo,
alvoroçar o rumo das minhas letras,
embora eles não tratem comigo
com igual ânimo e ambição,
o que ensejaria mudar a história.
Dupla razão
ResponderExcluirO que procura a razão,
não sei se é um sopro,
uma desinência da alma ou
o esquecimento do que foi
motivo para luta e bandeira
de sujeitos abandonados.
Qual o abandono símplice,
aquele que toma pela mão
a mente perturbada
e traze-a ao rés do chão,
algo parecido a tornar
cativo o choro que deságua?
Que fazer diante da pulsão,
ora de vida ora de morte,
o que provoca ardor,
ao mesmo tempo congela
a coluna da elegância sóbria,
para permitir um só sorriso?
Ainda há dúvidas, com certeza,
por se encontrar o desejo
oscilante entre muitos espaços,
uns que reservam apenas dor,
outros depositários da alegria,
então, é natural uma dupla razão!
Daladier Carlos
31 maio, 2012
Herança do poeta
ResponderExcluirMostro à derradeira
flor do verbo perfumado
a página em branco,
onde haveria palavras,
convertidas ao desígnio
de serem lidas para sempre.
Histórias há, a mancheias,
com datas e tantos adereços,
prontas para recalcar ou até
diminuir o ânimo contador
de falas, falsetes e ninharias,
o que tanto se ouve por aí.
A pesada letra talvez
represente o infortúnio
dos que saem atraídos,
pelas ruas e becos da cidade,
como acendedores de luzes,
ávidos por dormir com poesia.
Jamais se saberá ao certo
se o poeta vive para dar
ao anônimo a ponta do verso,
a significância da sua obra,
assim parecido ao doador,
cujo sangue pede uma herança!
Daladier Carlos
01 junho, 2012
Objeto biscuit
ResponderExcluirPosso escarnecer de mim,
se for meu próprio mestre,
houvesse ainda sido antes
acurado ator nas ficções,
na sombra do jogo de luzes,
enquanto o espetáculo segue.
Abandonei-me para estar
no silêncio que me evoca, e
chama para o início do ato,
mas percebo que não estou só,
porque há minuciosa mistura
de elementos na trajetória.
A sensibilidade derrotada
é o painel onde desenho
as caricaturas dos romances,
das aventuras dos bons escapes,
na tortuosa lida de narrar
o verossímil nos meus versos.
O que faz parte de mim,
é um tanto de poeta,
algo de ralé suburbana,
uma porção de príncipe,
este envolto em celofane
parecido a objeto biscuit.
Daladier Carlos
04 junho, 2012
Quantas vezes
ResponderExcluirQuantas vezes segurei tua mão,
como o cego entrega a sua ao guia,
antes de me deixar abrir ao mundo
pronto para chorar tantos versos,
Os que quisera ter enfim escrito
Com a mais perdida paixão!
Quantas vezes o coração soprou
o sentimento abafado e preso
às conveniências mínimas,
de modo a não ser de novo
atormentado pelas liturgias,
quando o silêncio era bem-vindo.
Quantas vezes me aproximei de ti,
querendo encontrar abrigo,
ligar-me à ideia de paraíso,
mas enxerguei o largo escuro,
as intermináveis paredes do tempo
separando o poema das dores.
Quantas vezes busquei o sentido,
a linha condutora da escrita,
fosse mínima a beleza do verso,
transparente a tocante emoção
de lançar-me sem saber aonde
pousaria a alma do poeta!
Daladier Carlos
07 junho, 2012
Vãs repetições
ResponderExcluirPara escapar das vãs repetições,
desconfio das letras adiante,
recolho-as ao canto dos lábios,
como um ventríloquo ignorado,
aquele a quem ninguém vê,
mas sabe que está muito perto.
Não interessam os motivos,
se as tramas criam tensões,
seja um mal, um bem, um juízo,
a resposta, talvez faça pouco
do grito, do escárnio, do beijo e
tudo se resolve na próxima ilusão.
Quando cometo uma escrita,
provo a minha linguagem,
aproximo meu cheiro do verso,
sinto a pulsação do significado,
imagino a transparência das veias,
as que mostram o sangue da poesia.
O despertar do dia é um movimento
de retorno à última página virada,
para receber um futuro indisposto,
o qual não sabe se viverá comigo
e lerá os poemas deixados ao acaso,
aqueles que fiz para me guardar .
Daladier Carlos
13 junho, 2012
República e Parlamento
ResponderExcluirQuem faz rir o palhaço?
Será ele ou um álibi,
a preferência do vulgo,
pelo que produz a farsa,
vibra a boca que escandeia,
queima os lábios até sangrar!
A mentira é uma prostituta nobre,
carregada às vezes em triunfo,
para levar a crer no especial
dom de aperfeiçoar caminhos,
revelar o fascínio dos oradores,
guardar o ato a seguir em lágrimas!
As instituições não são melhores
do que os líderes que concebe,
posto muitos, em cena aberta,
como no melhor circo romano,
dão-se a comentar fatos loucos
e escarnecem de outros rostos.
Muito a República tem a conferir,
se não for a rotina da ordem do dia,
será a soma dos tantos malfeitos,
dos delitos e malícias perpetradas,
com ares de legítima bandeira,
a dizer que temos um Parlamento!
Daladier Carlos
14 junho, 2012
República e Parlamento
Quem faz rir o palhaço?
Será ele ou um álibi,
a preferência do vulgo,
pelo que produz a farsa,
vibra a boca que escandeia,
queima os lábios até sangrar!
A mentira é uma prostituta nobre,
carregada às vezes em triunfo,
para levar a crer no especial
dom de aperfeiçoar caminhos,
revelar o fascínio dos oradores,
guardar o ato a seguir em lágrimas!
As instituições não são melhores
do que os líderes que concebe,
posto muitos, em cena aberta,
como no melhor circo romano,
dão-se a comentar fatos loucos
e escarnecem de outros rostos.
Muito a República tem a conferir,
se não for a rotina da ordem do dia,
será a soma dos tantos malfeitos,
dos delitos e malícias perpetradas,
com ares de legítima bandeira,
a dizer que temos um Parlamento!
Daladier Carlos
14 junho, 2012
Eterna morte
ResponderExcluirUma eterna morte
engravida meu corpo,
dispõe dos sinais,
os que me avisam
a chegada da pajelança,
o instante do grito,
a ordem de não comer
nem levantar os olhos,
porque germinam os sonhos
forasteiros das estrelas.
Daladier Carlos
14 junho, 2012
Fulguras de um poeta
ResponderExcluirAh, que bom seria
se acordássemos,
nesta manhã chuvosa,
sem riscos de morte,
assaltos intermitentes,
diabruras no trânsito,
o SUS se despedaçando,
e a memória nacional,
esta instável manifestação
de rubras emoções,
abrisse todos os seus arquivos,
e os porões da maldade
fossem de vez escancarados
à atualidade dos nossos
sentimentos urbanos,
pequenos e escanhoados,
igual a barba bem feita!
Ah, que bom seria
se o sexo não fosse torturado,
entre coxas e vulvas feridas,
debaixo da tirania do desamor,
das imprecações do mau desejo,
com que o amante vibra o tom
da sua infância perdida,
tão mal resolvida por mães
de mãos e mentes devoradoras,
atarantadas na introjeção
dos objetos amorosos,
esses a partir dos quais
elas plastificam o mundo
e sedimentam o reino uterino!
Ah, que bom seria
se pudéssemos falar ao outro
sem as reservas da frágil educação,
apenas para evitar o confronto,
enquanto as imaginadas aparências
resumem as histórias a peças
sem fundo e sem cor,
na manifestação entusiástica
de que estamos todos bem,
instados, porém, a discursos solenes,
às maltrapilhas deformações do juízo,
na espera, contudo, da versão oficial,
a que sempre resolve e torna emoliente
seja o cansaço, a dor ou o ódio disfarçado!
Ah, que bom seria, se o poeta
não se amargurasse mais,
de modo a só querer a luz do sol,
a quietude das madrugadas,
o beijo e o abraço inesgotáveis,
para o instante do silêncio que excede
toda palavra sem verso, sem canção!
Daladier Carlos
18 julho, 2012
Fabulações nas sombras
ResponderExcluirO outro vive comigo,
logo perto de mim,
está próximo à porta,
então preciso, sem demora,
negociar meus significados
no combate das palavras.
Fabulando entre sombras,
quero olhar, esperançoso,
o que o silêncio reserva, e
o que posso enfrentar ainda,
nos teatros das agitações,
na busca tirânica de sentido.
Não permaneço em assombro,
afinal, basta me sentir vivo,
mãos livres para pegar livros,
recompor os versos miúdos,
tratar a culpa sem zelos,
pensar vitória, longe do medo.
Sim, meus versos são miúdos,
algo como inspiração endividada,
troféu apanhado do alheio,
parecido a favor imerecido,
porém, mesmo agastado,
continuo a escrever ao mundo.
Daladier Carlos
25 julho, 2012
Minhas calças
ResponderExcluirEstou menos largo
nas minhas calças,
como se o espaço
diminuísse a noção
de corpo e tempo,
o que tenho para viver.
O ambiente da liberdade
é a leitura de um coletivo,
a massa etérea, invisível,
aquilo que compõe
a decoração das mentes,
enquanto o dia passa.
Não tenho pressa pra nada,
mesmo que digam que agora
tudo é muito mais rápido,
enrolado em cenas virtuais,
separadas por módulos,
canções e noticiário da TV.
Ir ao jardim é reserva técnica
de sobrevivência útil,
lugar de demoradas reflexões,
passeio sem lubricidade,
momentos reunidos tão só
para esquecer as minhas calças.
Mãos perfumadas
ResponderExcluirMinhas mãos, tão secas,
observavam as tuas,
longas, lindas e brancas,
indefinidamente brancas!
Pareciam copos de leite,
também eram perfumadas.
Que faço com as minhas mãos
nervosas, ansiosas, buliçosas,
talvez querendo um aceno,
um leve cumprimento,
quem sabe, um quase sim
em dias sem hora certa?
Minhas mãos gesticulam muito,
vão a todas as direções
sem o cuidado de olhar em torno,
então, parece a mim boa ideia
acompanhar o bailado das tuas,
tão sinuosas como ondas do mar.
Ganho coragem, vinda não sei donde,
e delicadamente aperto tuas mãos,
num gesto de arrebatada sedução!
Céus! Acaso serão repelidas minhas mãos?
Com estas até aqui vivi a vida,
mas nunca amei com as tuas mãos.
Daladier Carlos
28 julho, 2012
Mãos perfumadas
Minhas mãos, tão secas,
observavam as tuas,
longas, lindas e brancas,
indefinidamente brancas!
Pareciam copos de leite,
também eram perfumadas.
Que faço com as minhas mãos
nervosas, ansiosas, buliçosas,
talvez querendo um aceno,
um leve cumprimento,
quem sabe, um quase sim
em dias sem hora certa?
Minhas mãos gesticulam muito,
vão a todas as direções
sem o cuidado de olhar em torno,
então, parece a mim boa ideia
acompanhar o bailado das tuas,
tão sinuosas como ondas do mar.
Ganho coragem, vinda não sei donde,
e delicadamente aperto tuas mãos,
num gesto de arrebatada sedução!
Céus! Acaso serão repelidas minhas mãos?
Com estas até aqui vivi a vida,
mas nunca amei com as tuas mãos.
Daladier Carlos
28 julho, 2012
Alegria de um sujeito velho
ResponderExcluirUm sujeito velho
é apenas um sujeito velho,
desde que nada mais
se queira ou consinta ver,
senão uma carne despojada,
um silêncio ameaçador,
um sorriso enigmático,
talvez até um grunhido,
tão apavorante quanto
a passagem de um fantasma.
Um sujeito velho, porém,
pode ter luz de ré
ou uma lanterna na cabeça,
quem sabe um poema
parado na garganta,
quando o seu olhar
ainda terno se agiganta,
para anunciar a vida,
agonizante embora,
mas vida espumante,
na embriaguez de sonhos,
de gozos e tertúlias,
à beira de um lago
ou no alto de um monte.
Para todos os instantes,
seja no verso que rascunha
ou na alegria do que restou,
o velho se pertence por inteiro!
Daladier Carlos
09 agosto, 2012