ANTONIO DE CAMPOS
OLINDA - PE - antoniodicampos@gmail.com
.
Luso-descendente, nasceu em 1946, no município da Pedra, sertão de Pernambuco. Traduziu e prefaciou as Canções da experiência e da inocência, de William Blake. Obras do autor: Mais forte que o ma/, Crítica da razão vivida, 20 tiranas de amor mais 10 canções de amor às avessas, Palavra de ordem, 20 Poemas de amor e uma canção sem desespero, Feito no coração e participação na antologia Natal
pernambucano. Tem poemas seus e traduzidos, publicados na imprensa pernambucana. Dedica-se ainda à crítica literária, havendo escrito orelhas e prefácios de poetas anteriores e posteriores a sua geração, e artigos sobre poetas de sua geração.
..
MUHAMMAD ALI
Antonio de Campos
como uma borboleta, voe,
como uma abelha, ferroe!*
Muhammad Ali
Em teus setenta anos de vida,
não canto parabéns aos teus cinturões,
não enchi coloridos balões,
não mandei comprar cocas & muffins, enfim
Em teus setenta anos de vida,
o teu braço ergo pela recUSA,
que te custou a posse do cinturão,
três anos de desemprego e algum tempo de prisão,
em fazer turismo bélico no Vietnã
e, num safári americano,
caçar homens que mal nunca te fizeram –
de Parkinson foi o teu único Mal
Em teus setenta anos de vida,
não louvo nenhuma de tuas supostas vitórias,
mas pela tua maior derrota,
bato palmas até sangrarem minhas mãos
*tradução: Antonio de Campos
Olinda, janeiro 17, 2012
.
.
POEMA PARA HARRISON & PAUL
Antonio de Campos
lembranças quando da morte
de George Harrison, 2001
Mãe,
quem me dera
voltar ao tempo
em que as porradas da vida
era o pó que à pele
me tiravas
Hoje, a semana inteira,
bate-me a vida no baço
e sinto um cansaço
de quem releu
todos os livros de cabeceira
Uma cidade grande
é feita de muitas ruas
por onde andavas
e não te perdias
Só por isso
eras das mães
a mais sabida:
na cabeça tinhas o mapa
da cidade grande
pra mim escondida
Quanta inocência, mãe,
e nem sabias,
reveladas nas pneumografias
de Harrison e McCartney,
que, num posto de saúde*,
negando nossos nomes reais,
tiramos um dia,
eu e um amigo de rock and roll –
eu já morri e ele era Paul!
*uma noite, em 64, eu e um amigo entramos no Posto Gouveia de Barros, Pátio de Santa Cruz (Boa Vista), para tirar duas radiografias dos pulmões.
Para poder preencher as fichas, o atendente perguntou nossos nomes.
O meu era George Harrison. O dele, Paul McCartney.
Soletramos nossos nomes a fim de que o funcionário pudesse preencher
as fichas corretamente.
Dois dias depois, radiantes como um Raio-X,
fomos apanhar as radiografias.
.
.
COTAS & LOROTAS
Antonio de Campos
Os 10 ministros do Supremo Tribunal Federal que, ontem, participaram
do julgamento das cotas para Negros & Índios nas universidades,
dando aval para a reserva de suas vagas,
asseveraram que as ações afirmativas
são necessárias para diminuir as desigualdades entre Brancos & Negros
e compensar uma dívida do passado,
resultante de séculos de escravidão. Que lindura! Palmas!
O Ministro Joaquim Barbosa, único negro a integrar o Supremo,
afirmou uma semana antes, vindo a se contrapor à posterior
ministerial parlenga, que é vítima de racismo na própria Corte.
Mais belo ainda! Grunhidos & Gemidos!
O índio guarany Araju Sepety, índio com nome de índio,
sem o antropológico estupro da cristianização,
vestido a rigor & a caráter com roupas nas cores da bandeira brazileira,
com a mãozinha de seguranças Brancos & Negros,
para que não se diga que Brancos & Negros nunca ajudaram o Índio
a ir pra frente, foi expulso do plenário por ter,
em voz alta (Índio tem que falar mais baixo do que todos e por último!),
protestado contra o ministro Luiz Fux não ter mencionado, em seu voto,
os primeiros descobridores, donos e habitantes do Brazil.
Bravo! Bravo como um Índio! Mais belo do que belo. Belíssimo!
A política de cotas nas universidades foi “inventada” na Índia
após sua independência em 1949, para corrigir
(nunca resolver!, como a nossas Reformas Ortográficas!)
as disparidades sociais envolvendo a casta mais discriminada,
os dalits (os intocáveis).
Contudo, nunca soube dalgum dalit infelicitado pelo hinduísmo
que tivesse deixado de ser intocável para se tornar “tocável”,
que fosse aceito como igual, a despeito do descumprido preceito constitucional, depois de ter estudado numa universidade indiana
e se tornado “doutor”.
Tal política, mais uma enganação norte-americana transplantada
para o Brazil,
o maior símio de imitação do mundo da sub-cultura norte-americana,
foi importada pelos Estados Unidos,
sendo adaptada aos seus dalits:
Negros, Índios e descendentes de Asiáticos & Hispânicos.
Já que não há a mais mínima vontade política de se resolver
(apenas “corrigir”, o que muito pouco ou quase nada correje!)
a Questão Social, o acesso à universidade, ao menos,
deveria ser dado através do mérito,
conjugado à realidade socioeconômica do postulante
(Política de Cotas Socioeconômicas),
egresso de escolas estaduais e/ou municipais, tornando-a pública,
destinada ao povo no sentido mais humilde da palavra, transferindo
os que podem financiar sua educação para a universidade privada.
Como o país está passando por um momento de efusão,
um verdadeiro surto de consciência socioétnica,
empenhada em compensar uma dívida do passado resultante de séculos de
Escravidão, Holocausto & Preconceito
que permanece até o momento oculta sob outras togas tão ou mais negras,
como visto na declaração do Ministro Joaquim Barbosa,
faço apenas uma indagação aos divinos & doutos
senhores-donos da Nação/danação –
por que não estabelecer, para Índios & Negros,
os mais variados programas de distribuição massiva das riquezas
que foram e ainda são saqueadas aos Índios
e das riquezas que foram produzidas pelo suor dos Negros
que construíram e ainda constroem este país até hoje?,
e deixar de lado, duma vez por todas,
o quinhentão nhen-nhen-nhen*,
que em língua de Índio quer dizer Conversa Mole,
Enrolação,
Enganação, Lenga, enfim. E fim de nhen-nhen-nhen!
*do tupy nheeng-nheeng-nheeng, falar-falar-falar, blá-blá-blá
abril 27, 2012
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário