quarta-feira, 2 de maio de 2012

MEMBRO: ANTONIO DE CAMPOS


ANTONIO DE CAMPOS
OLINDA - PE  - antoniodicampos@gmail.com
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Luso-descendente, nasceu em 1946, no município da Pedra, sertão de Pernambuco. Traduziu e prefaciou as Canções da experiência e da inocência, de William Blake. Obras do autor: Mais forte que o ma/, Crítica da razão vivida, 20 tiranas de amor mais 10 canções de amor às avessas, Palavra de ordem, 20 Poemas de amor e uma canção sem desespero, Feito no coração e participação na antologia Natal
pernambucano. Tem poemas seus e traduzidos, publicados na imprensa pernambucana. Dedica-se ainda à crítica literária, havendo escrito orelhas e prefácios de poetas anteriores e posteriores a sua geração, e artigos sobre poetas de sua geração.
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MUHAMMAD ALI
                          Antonio de Campos
                                                                                  como uma borboleta, voe,
                                                                                  como uma abelha, ferroe!*
                                                                                                                                                                                                                                                 Muhammad Ali
Em teus setenta anos de vida,
não canto parabéns aos teus cinturões,
não enchi coloridos balões,
não mandei comprar cocas & muffins, enfim

Em teus setenta anos de vida,
o teu braço ergo pela recUSA,
que te custou a posse do cinturão,
três anos de desemprego e algum tempo de prisão,

em fazer turismo bélico no Vietnã
e, num safári americano,
caçar homens que mal nunca te fizeram –
de Parkinson foi o teu único Mal

Em teus setenta anos de vida,
não louvo nenhuma de tuas supostas vitórias,
mas pela tua maior derrota,
bato palmas até sangrarem minhas mãos



*tradução: Antonio de Campos


Olinda, janeiro 17, 2012
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             POEMA PARA HARRISON & PAUL

                                                                      
                                                                       Antonio de Campos

                                               lembranças quando da morte
              de George Harrison, 2001




                Mãe,
                   quem me dera
                   voltar ao tempo
                   em que as porradas da vida
                   era o pó que à pele
                   me tiravas

                   Hoje, a semana inteira,
                   bate-me a vida no baço
                   e sinto um cansaço
                   de quem releu
                   todos os livros de cabeceira





                   Uma cidade grande
                   é feita de muitas ruas
                   por onde andavas
                   e não te perdias

                   Só por isso
                   eras das mães
                   a mais sabida:

                   na cabeça tinhas o mapa
                   da cidade grande
                   pra mim escondida

                   Quanta inocência, mãe,
                   e nem sabias,
                   reveladas nas pneumografias
                   de Harrison e McCartney,

                   que, num posto de saúde*,
                   negando nossos nomes reais,
                   tiramos um dia,
eu e um amigo de rock and roll –

                   eu já morri e ele era Paul!





                  
                       
                        *uma noite, em 64, eu e um amigo entramos no Posto Gouveia de Barros, Pátio de Santa Cruz (Boa Vista), para tirar duas radiografias dos pulmões.
Para poder preencher as fichas, o atendente perguntou nossos nomes.
O meu era George Harrison. O dele, Paul McCartney.
Soletramos nossos nomes a fim de que o funcionário pudesse preencher
as fichas corretamente.
Dois dias depois, radiantes como um Raio-X,
fomos apanhar as radiografias.
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COTAS & LOROTAS

                                           Antonio de Campos




Os 10 ministros do Supremo Tribunal Federal que, ontem, participaram
do julgamento das cotas para Negros & Índios nas universidades,
dando aval para a reserva de suas vagas,

asseveraram que as ações afirmativas
são necessárias para diminuir as desigualdades entre Brancos & Negros
e compensar uma dívida do passado,
resultante de séculos de escravidão. Que lindura! Palmas!

O Ministro Joaquim Barbosa, único negro a integrar o Supremo,
afirmou uma semana antes, vindo a se contrapor à posterior
ministerial parlenga, que é vítima de racismo na própria Corte.
Mais belo ainda! Grunhidos & Gemidos!




O índio guarany Araju Sepety, índio com nome de índio,
sem o antropológico estupro da cristianização,
vestido a rigor & a caráter com roupas nas cores da bandeira brazileira,
com a mãozinha de seguranças Brancos & Negros,
para que não se diga que Brancos & Negros nunca ajudaram o Índio
a ir pra frente, foi expulso do plenário por ter,

em voz alta (Índio tem que falar mais baixo do que todos e por último!),
protestado contra o ministro Luiz Fux não ter mencionado, em seu voto,
os primeiros descobridores, donos e habitantes do Brazil.
Bravo! Bravo como um Índio! Mais belo do que belo. Belíssimo!

A política de cotas nas universidades foi “inventada” na Índia
após sua independência em 1949, para corrigir
(nunca resolver!, como a nossas Reformas Ortográficas!)
as disparidades sociais envolvendo a casta mais discriminada,
os dalits (os intocáveis).

Contudo, nunca soube dalgum dalit infelicitado pelo hinduísmo
que tivesse deixado de ser intocável para se tornar “tocável”,
que fosse aceito como igual, a despeito do descumprido preceito constitucional, depois de ter estudado numa universidade indiana
e se tornado “doutor”.

Tal política, mais uma enganação norte-americana transplantada
para o Brazil,
o maior símio de imitação do mundo da sub-cultura norte-americana,
foi importada pelos Estados Unidos,
sendo adaptada aos seus dalits:
Negros, Índios e descendentes de Asiáticos & Hispânicos.

Já que não há a mais mínima vontade política de se resolver
(apenas “corrigir”, o que muito pouco ou quase nada correje!)
a Questão Social, o acesso à universidade, ao menos,
deveria ser dado através do mérito,
conjugado à realidade socioeconômica do postulante
(Política de Cotas Socioeconômicas),
egresso de escolas estaduais e/ou municipais, tornando-a pública,
destinada ao povo no sentido mais humilde da palavra, transferindo
os que podem financiar sua educação para a universidade privada.



Como o país está passando por um momento de efusão,
um verdadeiro surto de consciência socioétnica,
empenhada em compensar uma dívida do passado resultante de séculos de
Escravidão, Holocausto & Preconceito
que permanece até o momento oculta sob outras togas tão ou mais negras,
como visto na declaração do Ministro Joaquim Barbosa,

faço apenas uma indagação aos divinos & doutos
senhores-donos da Nação/danação

por que não estabelecer, para Índios & Negros,
os mais variados programas de distribuição massiva das riquezas
que foram e ainda são saqueadas aos Índios

e das riquezas que foram produzidas pelo suor dos Negros
que construíram e ainda constroem este país até hoje?,

e deixar de lado, duma vez por todas,
o quinhentão nhen-nhen-nhen*,

que em língua de Índio quer dizer Conversa Mole,
Enrolação,                      
Enganação, Lenga, enfim. E fim de nhen-nhen-nhen!





*do tupy nheeng-nheeng-nheeng, falar-falar-falar, blá-blá-blá






abril 27, 2012
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