quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Prometeu “Kiss” Pandora - Airton Reis

Prometeu “Kiss” Pandora
    Supervisor de uma obra inacabada. Provedor de uma chama sagrada. Prisioneiro em agonia milenar continuada. Carne devorada. Carne regenerada. Humanidade ainda que maculada. Esperança renovada. Liberdade ainda que parcial. Caixa aberta em portal. Caixa fechada em funeral.
    Fogo em nada natural. Faísca em nada ocasional. Fração de um segundo em nada acidental. Labaredas asfixiantes. Instantes derradeiros. Juventude imolada. Clientela acuada. Diversão carbonizada. Hecatombe na balada. Fumaça letal. Pisoteada coletiva. Entrada da saída cativa. Entrada da saída inclemente. Entrada da saída ausente. Entrada da saída não encontrada. Entrada da saída não evacuada. Entrada da saída bloqueada.
    Prometeu “Kiss” Pandora, além de uma tragédia grega desconcertante em território nacional. Prometeu “Kiss” Pandora, além de um pranto republicano retumbante em eco internacional. Prometeu “Kiss” Pandora, além de um recinto incandescente pela imprudência sem qualquer perícia legal. Prometeu “Kiss” Pandora, além dos lábios em ardente sedução fatal. Prometeu “Kiss” Pandora, por mais de uma legislação deveras federal. Prometeu “Kiss” Pandora, pela ordem legal. Prometeu “Kiss” Pandora, na mesma comoção mais do que sentimental.
     Terra dos titãs desbravadores da cidadania brasileira. Terra dos levantes pela soberania em mais de uma fronteira. Terra hospitaleira. Terra da erva mate saboreada em chimarrão. Terra das universidades entrelaçadas pela educação. Terra dos imigrantes acolhidos. Terra dos povos miscigenados. Terra dos túmulos inesperados. Terra das lápides em memorial cristão e fraternal. Terra gaúcha pela apuração da autoria criminal.
      Terra que se fez fogo mais do que mortal. Terra que se fez fogo numa mesma fornalha incandescente. Terra que se fez fogo além dos olhos da lei dormente. Terra do luto mais do que decretado. Terra dos jovens carbonizados. Terra dos filhos sepultados. Terra dos acadêmicos transladados além de um funeral civil. Terra do braseiro humano apagado chamado Brasil.
     Terra da chama que ninguém quis. Terra da tragédia em mais de uma cicatriz. Terra da agonia em mais de uma dor. Terra à espera da justiça proferida aquém de um tribunal. Terra da Santa Maria por um mundo irmão em tempo real.
     Voltamos em prece e oração: Rogai por Santa Maria, Nossa Senhora! Salve-nos da impunidade, que tantas e tantas vezes, aqui e acolá nos faz acreditar que Prometeu “Kiss” Pandora.
Airton Reis é poeta em Cuiabá-MT. airtonreis.poeta@gmail.com

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