domingo, 28 de julho de 2013

ESPECIAL 2 - SEMANA DO ESCRITOR

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O LIVRO COMO INSTRUMENTO
                                                          DE TORTURA


Lêda Selma



            A leitura, pelo seu caráter tradicionalmente impositivo, sempre afastou o jovem do livro. E a escola foi, sem dúvida, no decorrer dos tempos, a maior disseminadora desse desinteresse. A escola e, muitas vezes, também a família.

Quem não se lembra daquele velho castigo: “Vai ler um livro, vai, para dar um pouco de sossego...”. Assim, o desgosto pela leitura tornou-se marca de gerações e gerações. E ainda dizem: “Brasileiro não gosta de ler”. E haveria de gostar? Como, se a própria escola despreparou o aluno – futuro leitor – aoimpor-lhe o livro como um inimigo, um cara chato, um destruidor de alegria? Ou como um penetra monitorado que toma o tempo e a paciência de quem dele se acerca? O livro e sua fiel escudeira, a parasitária acompanhante: a ficha. Aquela enxerida, bisbilhoteira e sempre mal-vinda. Sim, ela, a insuportável ficha literária e suas perguntas enfadonhas, inócuas e tão detestadas por seus subjugados, isto é, os pobres e indefesos leitores.

Ainda hoje, infelizmente, tal realidade persiste. O aluno é bombardeado, a cada leitura, com questionamentos descabidos, com interpretações direcionadas (e o pior: mal-direcionadas!) e pasmem: com provas sobre o livro lido. Livro, para ele, malfadado e, quase sempre, engolido a seco e a contragosto, por conseguinte, digerido a duras penas.  Não há dúvida por que o jovem prefere o filme, o computador, a internet, os jogos eletrônicos e outros similares a qualquer livro. Ora, sobre o filme, ele não é inquirido. Ninguém lhe dá ficha para responder automatamente, não o obriga a interpretá-lo, a resenhá-lo e, menos ainda, lhe é imposto como tortura ou como castigo. O ato de assistir a um filme traduz-se, para o jovem, em prazer, em deleite, em entretenimento. O livro, ao contrário, vem comboiado por obrigação, tarefa, vestibular, clichês...

Minha experiência como escritora, nas escolas, às vezes, reporta-me ao tempo em que eu era estudante. Professores usando o livro como instrumento de tortura e “fichas” como o objetivo maior da leitura. E o torturado leitor, o aluno, antipatizando-se com o livro e, em consequência, com o autor. Um tempo, na visão dele, desperdiçado, inútil e desagradável.

A partir dessa vivência, tenho proposto às escolas que a leitura seja precedida de algum atrativo (sugerido pelo aluno) e que o livro lhe seja apresentado de um jeito leve e informal, abordado, posteriormente, sob seu próprio enfoque, valorizando-lhe a capacidade de criar e de recriar, seja pela teatralização do texto, seja pelo debate fluído naturalmente, seja por meio do contato (quando possível) com o autor. Tudo isso isento de rótulos e de mitos-fantasmas.

Assim, tenho obtido boas respostas dos jovens leitores, que se mostram interessados e envolvidos com meus personagens e suas respectivas performances. Trocamos ideias sobre o livro e chego a sugerir-lhes aprimorar ou recriar personagens, bem como os finais das histórias, com encenação dos contos ou verbalização pura e simples de sua ótica crítico-intimista. Dou-lhes, pois, irrestrita liberdade para adaptá-los sob uma interpretação bem pessoal, independente da minha ou da ótica do professor.

Democratizar e ampliar o direito de enfoque do aluno, dentro da leitura, é fundamental. Apresentar-lhe o livro como algo divertido, como um amigo-cúmplice e descontraído, que busca a mesma carona rumo a uma aventura, seduzidos pelo desconhecido, é decisivo para despertar-lhe o gosto e o interesse pela leitura. Para tanto, é imprescindível um trabalho de base, o investimento na literatura infanto-juvenil. Ziraldo é veemente: “Livro é o melhor brinquedo”. Dar ao futuro leitor condições de descobrir ocaráter lúdico e aventuresco, creio, é o caminho que o levará ao interesse pela leitura.

Como professora de literatura, sempre trabalhei nesse sentido. Sempre abominei as ataduras que sufocavam os alunos, sempre evitei impingir-lhes minha opinião como parâmetro para interpretação de texto. Assim, muitos tornaram-se ávidos devoradoresde livros, e excelentes construtores de textos, pois adotaram a leitura como opção de lazer e fomentadora de fantasia, além de fonte de conhecimento e de vida. “O tempo para ler, como o tempo para amar, dilata o tempo para viver”, apregoa Daniel Pennac, escritor franco-marroquino.

Como escritora, tento mostrar ao leitor-aluno a importância do livro e o prazer dele emanado, no afã de desenvolver-lhe o hábito saudável da leitura, de inculcar-lhe a semente geradora de encontros inusitados, de descobertas instigantes e de momentos inesquecíveis. E uma boa proposta, repito, é a reprodução cênica do texto, construída pela imaginação criativa e livre interpretação do aluno, como se as ideias coreografassem suas próprias emoções, mescladas às emoções do autor ou, mesmo, à revelia delas. 

Que a leitura deixe, pois, de ser um instrumento de tortura e se torne instrumento propulsor e transformador de ideias, de hábitos e de prazer. Que o livro seja sempre um presente e, não, um castigo. E que forme, em vez de deformar, futuros, conscientes e felizes leitores, como, também, talentosos escritores. O livro não pode ser visto como um estigma que o afasta dos jovens ou dos adultos, mas sim, como um enigma que os convida a desvendá-lo. Não importa a idade.
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 Gritos do Paraiso
Soaroir Campos
25/01/2006


 É possível que as primeiras calçadas, como as que conhecemos hoje, tenham surgido juntamente com o sistema de pavimentação criado nos idos de 1800, pelo engenheiro escocês Thomas Telford.

O fato é que todas têm abordagens diferentes e nem sempre concordam inteiramente quanto às suas valias. Apesar de haver muita resistência, a maioria ainda acredita que sua serventia é a de ser “sidewalk” um caminho pavimentado para pedestres e que se estende ao longo das ruas.

Reunidas no talude e cercadas de bastante verde ao redor, com recipientes para detritos intactos e jardins bem cuidados, estavam as calçadas da rua Manoel da Nóbrega e algumas ruas transversais que discutiam e decidiam suas intenções, reclamações e queixas. Aliás, as calçadas mais esfarrapadas, entre elas as que ficam entre a mais paulista das avenidas e a mais emporcalhada das alamedas, praguejavam e planejavam algum ato de protesto quando foram interrompidas pela Dr. Carlos Sampaio que pediu um pouco de ordem.

A Cel.Oscar Porto, como sempre esfregando continuamente as solas, pigarreou como para ser ouvida e, ainda tentando fazer desaparecer todo aquele fedor misto de urina e creolina logo sugeriu uma CPI. Nesse meio tempo chega a esbaforida Chris Tronbjerg que foi logo reclamando do monte de resto de assaltos, dos barulhos das trombadas e atropelamentos logo ali na Brigadeiro, lixo e tudo mais. As demais que já não a suportam muito por ser a rua mais recente da redondeza, a mais curta e que além de ter nome que não é de brasileira é exatamente dela que vem aquele horrível cheiro de gordura de pastel e peixe todo o sábado logo de manhã, deram uns muxoxos e voltaram ao assunto da CPI. Inicialmente decidiram por Caçambas e outras Porcarias Indesejáveis. Mas a Chris não se agüentou, interrompeu e deu a resposta que antes não lhe deram a chance. Com cara de coitada retrucou e até se gabou um pouco de ser a única que tinha carro da polícia no jornaleiro, antes das minas e dos manos chegarem. Isso sem contar que aquele pastel enche bucho de muita gente por ali, concluiu a Chris. A platéia ficou dividida, meio pensativa como que analisando aqueles fatos que tinham sido narrados. O tempo estava correndo, mas ruas e calçadas que se prezam não podem se dar ao desfrute de divagar. The show must go on. Convocaram a Santos que até aquele momento pouco dissera. Ela parecia tristonha e até meio encabulada já que não fazia parte daquele bloco, no entanto tomou fôlego e discorreu com brilhantismo sobre todos aqueles ônibus dos hotéis estacionados, caminhões circulando constantemente, buracos, restaurantes e tudo o mais que por ela já havia passado. Não estava nada animada, principalmente quando recordou os velhos tempos em que, com a sua parceira Paulista, via gente bonita e cheirosa no lugar dos cocôs de cachorro e lixos de hoje. Sentia-se realmente desprezada. Arrasada. Foi deixada um pouco de lado assim que a Brig. Luiz Antonio esticou o pescoço mas, como uma enxurrada, desabou.

Aquela reunião não incluía avenidas tampouco alamedas, mas sendo a maioria ali reunida calçadas ilustres que muito conviveram com célebres transeuntes, sabiam como tratar penetras.

A temática da reunião incluía desleixo, buracos, cocô de cachorro e a falta de regulamentação para recuo e estilo das calçadas. Primeiramente queriam entender a razão pela qual havia uma distinta discriminação e preconceito para com as calçadas da ladeira para cima. Estavam realmente intrigadas. Só para as calçadas da ladeira para baixo havia limpeza, cuidados e até um certo carinho dos canteiros e, conseqüentemente, pássaros. Lá existiam lixeiras, árvores que não cobriam as luminárias e quase nenhum adesivo nos postes. Tampouco cocô de cachorro se via por lá. Embora cada calçada fosse de padrão diverso, estavam todas bem conservadas, limpas, em boa forma. Exatamente o oposto das demais.

Realmente havia uma contestação de tendências entre as calçadas da ladeira para cima e as da ladeira para baixo. Era um quadro de emoções quase líricas e vivencial que foi quebrado somente quando a Teixeira da Silva elogiou os pavões que pupilam entre a noite que vai e o dia que chega, lá pelos lados da Mário Amaral, a qual igualmente a Tutóia, não compareceu a reunião.

As calçadas da Manoel da Nóbrega, entre Oscar Porto e Av. Paulista, com um certo ar de enfado, mencionaram com displicência e desilusão o peso insuportável dos prédios que ficam cada vez mais altos. Arrematando, relataram indignadas o que era suportar, sem qualquer controle, todas aquelas caçambas, estacionamentos Zona Azul e o desatino das cadeiras espalhadas por lá nas sextas-feiras. Nem esqueceram do brechó com a Al.Santos.

Lá pelas tantas, após se cotizarem para ajudar as calçadas da ladeira para cima, recriminando veementemente todas as cadeiras nas calçadas que juntamente com vasos de plantas e postes de telefone não deixavam espaço para o pedestre, todas as calçadas, inclusive as das ruas arrabalde, decidiram enviar um e-mail para: cachorros & calcadas.br solicitando apoio para a realização daquela CPI por quarteirão, a fim de promover a adequada preservação de suas existências e a não transformação do espaço em taperas. Termos que assinaram: Os Behavioristas da Rua Manoel da Nóbrega e até pediram deferimento, o que concluímos serem seus gritos de alarme dignos de credibilidade e consideração.


(Calçadas da Rua Manoel da Nóbrega)


DE CAMPOS, SOAROIR
01/08/2006
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   Ontem voltei ao Maracanã, reformado, após 3 anos de ausência, e vi meu Fluminense perder para o Vasco que já foi grande freguês do Flu, mas que ultimamente vem fugindo à freguesia.
   Frequentei muito o Maracanã , não só para ver jogos do Fluminense , principalmente quando morava perto do Maracanã, na rua da Química - Senador Furtado ( parece que antes eles eram furtados! Hoje....) -  e ia ao velho Maraca quase todos domingos. Nos jogos do Flu  sempre  tinha a companhia de alguns alunos da Quimica, que diziam constituirmos a" Flu Qui".
   Mas minha convivência com o Maracanã foi iniciada desde sua inauguração assistindo ao jogo entre as seleções carioca e paulista (naquela época era um jogo de grande rivalidade, eis que o campeonato brasileiro era disputado por seleções dos estados e a maior parte das vezes a  final era Rio x S. Paulo). Os paulistas venceram o jogo de inauguração por 3 x 1 , sendo que o primeiro gol foi feito pelo tricolor Didi. E no jogo de inauguração oficial do novo Maraca , novamente  um tricolor - Fred - fez o primeiro gol! Lembro-me que naquele jogo - o primeiro do Maracanã - parte das arquibancadas estava, ainda tomadas por obras e os torcedores subiram pelas  madeira dos escoramentos e até na cobertura havia torcedores, O ingresso foi gratuito.
   Depois daquele  jogo vieram outros cinco jogos pela Copa do Mundo aos quais, todos. assisti. Houve um fora do Maracanã, no Pacaembú, em São Paulo. Brasil 2 X Suiça 2, jogando pelo Brasil  uma seleção só com jogadores de S. Paulo. Eu assisti a: Brasil 4 x México 0; Brasil 2 x Iugoslávia 0 (neste jogo me ficou marcada a presença de um jogador iugoslavo que ao entrar em campo  caiu,  machucou a cabeça num degrau e jogou o tempo todo com ela enfaixada. Era um meia e deu muito trabalho ao Brasil. Por todo campo se via aquela cabeça branca);  Brasil 7 x Suecia 1; Brasil 6 x Espanha 1 ( o jogo em que o Maracanã vibrou com o povo cantando a  música "Espanhola" (eu conheci uma espanhola, natural da Calalunha...) quando cantavam o refrão "paratibumbumbumbum" parecia que o estádio tremia. Emocionante. Nunca mais vi algo igual. Finalmente vi o Brasil 1 x Uruguay 2 , a maior derrota do futebol brasileiro. Acho que foi o  maior público do futebol em todos os tempos, pois foi tanta gente que compareceu que , não havendo mais ingressos, o público invadiu, pulando os portões. Eu, que tinha comprado o ingresso só consegui entrar pulando sobre uma bilheteria. Velhos tempos!!! Hoje.... rsrs. Nas arquibancadas ninguém pode sentar , pois em todos os degraus havia torcedores embolados e com dificuldade para ver o jogo. Era tanta fumaça, creio que de cigarros, que em momentos havia dificuldade de ver o campo. Disseram que foram mais de 200 mil, mas bem mais, pois quando houve outro jogo com mais de 200 mil não estava tão cheio como naquela final e não houve invasão.Após o jogo marcou-me ver muita gente, na saida, chorando pelas ruas, mas, até naquela situaçao o espírito carioca presente: vi um cidadão sentado, num meio fio, chorando  e as pessoas começaram a jogar moedas para ele.
   Uma observação que me vem, sempre, é de que como a vida era mais fácil e barata. Eu trabalhava como auxiliar de escritório na Cia City que explorava o serviço de esgotos no Rio e ganhava um salário mínimo. Algo em torno de 400 cruzeiros. E eu pagava minha escola, estudava  no antigo Colégio Piedade, ajudava nas despesas de casa com 100 cruzeiros e ainda comprava minhas roupas, frequentava cinema,  ia ao futebol para ver os jogos do Flu e ao sair do trabalho, nos fins de semana, jogava uma sinuca com os amigos. E meu dinheiro dava. .... Eu assisti a todos os jogos da Copa, pagando ingressos, bem mais barato que os que vão ser cobrados em 2014, com certeza. È verdade que nos primeiros jogos do Brasil eu ganhei os bolos do 1° gol do Brasil , feitos por meus colegas de trabalho, inclusive quando o gol foi feito pelo Friaça que era um jogador de defesa, escalado na ponta direita. Ai acharam demais e me proibiram de participar dos bolos!
   Na época, eu saia da sinuca, na Lapa, tarde da noite e ia andando pelas ruas até a Central. Sem medo de assaltos, tranquilo. Não me atrevo a fazer isto, hoje em dia.
   Estas reflexões e recordações vieram-me á cabeça. ontem,  após aquela derrota, ajudando-me  a superá-la. Mas, ainda haverá muitos jogos nesse campeonato e o Flu chegará , com certeza, entre os primeiros! Meu abraço, Manoel Virgílio.

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