sábado, 17 de maio de 2014

MEMBRO: Remisson Aniceto

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REMISSON ANICETO
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Emergi do mar verde de Minas, daquele verde que hoje amareleceu tanto (coitado do gado! coitado do povo!). Naquela época eu pensava que Drummond ainda compunha seus poemas e suas crônicas ali, atrás dos morros, tão pertinho de mim... Ingenuidade... O gauche há muito muito vivia no Rio. Saí de Minas por volta dos anos 80, em direção da São Paulo que ainda me acolhe, que ainda acolhe minha esposa, meus filhos, minha neta, meu cachorro, terra que de-me e dá-me o sustento. Mas o coração dividiu-se sem ficar partido. Ele está em Minas e está em São Paulo, como está em todo lugar onde tenho parentes, onde tenho amigos, e fica à espera em todos os recantos onde vivem tantos que ainda não sabem e que talvez jamais saberão que o meu coração espera de braços abertos por todos eles.
Eu trabalho há muitos anos  num colégio franciscano em São Paulo, tenho uma revista de literatura (remisson.com.br) e atrevo-me a escrever poemas, resenhas, crônicas, artigos sobre educação... e gosto de publicar textos de amigos, de poetas e cronistas que escrevem, antes de tudo, por prazer, por vocação, pelo amor aos livros,  à literatura.
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POESIA


A Poesia é a roda e o eixo do mundo: tudo se move a partir dela.
Senhora das emoções, encontra-se em cada detalhe, em cada sorriso, em
cada lágrima, em cada fala, em cada objeto. Às vezes quase imperceptível, ela
sutilmente movimenta o mundo e o transforma, promovendo a integração e a
harmonia entre os povos. A Poesia pode ser classificada como o Quinto
Elemento necessário à vida, pois assim como a Água, a Terra, o Fogo e o Ar,
ela sacia a sede do espírito, germina e floresce, aquece e oxigena o sangue,
abrindo novos horizontes. Transitória ou permanente de acordo com o olhar de
cada leitor, por si só ela torna-se perene, fica. Na poesia podemos encontrar o
caminho para a Paz.

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Ao censor


Lê e critica meu verso,
que te é permitido fazê-lo.
Só não me prives, te peço,
do direito de escrevê-lo.

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Miopia

`0-0´
Comprei um óculos futurista
de singular utilidade
Vendo a vista
pela metade

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Fragmentos



                                                                                          ...abrem-se as cortinas e,
                                                 primeiro ato, cena um, a vida entra em ação.
                                                                                                                       


Dorme, que a vida é fracionada em dias e noites 
como o sol que nasce e morre a cada dia. 
Vive intensamente tuas dezenas, centenas 
ou milhares de dias e dorme, dorme serenamente 
para talvez despertar para um novo dia, uma nova vida, 
vida dividida em vidas, 
como quando abrem-se as cortinas e, 
primeiro ato, cena um, a vida entra em ação! 
E, segundo ato, segunda cena,
vários atos e várias cenas 
e o pano desce. 
Noite. 
No seguinte dia, se se vive, reinicia-se 
involuntariamente a mesma peça 
em vários atos, 
em várias cenas 
com talvez o mesmo e mais outro e outro elenco. 
Em cena encena naturalmente
que a vida é fracionada em tomos, 
dorme, vive, vive e dorme serenamente, 
que na medula da vida tudo surge de repente, 
sem preparo, sem rubricas. 
Tanta coisa 
nascemorrenascemorrenascemorrenasce... 
todos os dias, todas as noites. 
Isto, enquanto há olhos, vê-se. 
E se não se acorda, sabe-se? 
Atores de palcos antigos, de peças passadas, 
de lidos tomos, de atos findos 
ainda não me disseram.
 
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No céu de Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá eu é que sou o rei
Lá terei tudo que quero
Na terra que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá eu é que sou o rei
De uma terra encantada
Que um dia abandonei
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá todo mundo é rei
Lá poderei encontrar
Tudo que em vão procurei

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá eu serei feliz
Lá poderei despertar
Na rica Terra do Sem Fim
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá só vive gente boa
Lá, sem cetro e sem coroa
Serei rei e súdito de mim

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá terei uma mulher só minha
Lá todo mundo é feliz
Cada rei com sua rainha

Lá montarei em cavalo
E verei o sol nascer
Lá tenho amigos reais:
Cecília, Carlos, Manuel...
Que me dizem que Pasárgada
Faz divisa com o céu
Onde dá pra ir e vir
Num piscar de olhos

E se algum dia talvez
A tristeza brincar comigo
Querendo em Pasárgada abrigo
Ou se a morte desdenhar
Da alegria de um amigo
Basta eu me lembrar
Que em Pasárgada sou rei
Que lá todo mundo é rei

Vou-me embora pra Pasárgada
De onde um dia saí rei
E desde então me perdi
Vou-me embora pra Pasárgada
De lá não mais sairei

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Os dançarinos


Melancólica e sonolenta, eis a lua,
flutuando sobre as águas do oceano.
Alheio a tudo, imerso na noite e no mundo,
meu pensar também vaga neste plano.

Ei-la, imagem erradia na pista do mar,
entrando, dançando, bailando nas ondas vadias.
Minha imagem também entra, dança, baila,
embalada pela aquátil melodia.

Qual casal de dançarinos da esperança,
vestidos de amor e de alegria,
deslizamos sobre as águas nessa dança.

Já desperta e alvacenta, eis a lua,
causadora dessa bela fantasia
que nos tira do real e nos flutua.

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Chuva


Um corpo na mesa -
e lá fora o dia chora
águas de tristeza

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Poema furtivo


O poeta ao falar de si fala dos outros,
Que cada um tem um quê do outro.
Tudo é como se fosse um amarrio de cordas
Seguidas, compassadas, continuadas.
O poeta ao falar dos outros fala de si,
Que cada um outro tem um quê de nós,
Cada um vive a vida alheia sem saber
E morre na morte do outro.
Cada poema é impessoal, é de todos,
Ainda que impregnado de evidências da mão.
O meu seu poema dele não existe.

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Para ver-te


Estás inteira dentro em mim.
Basta para tanto um pensamento.
A ilusão da esperança faz-me viver:
a mentira bem contada satisfaz...
Não te vejo há muito, há muito
e muito tempo...
Talvez nunca te tenha visto,
mas minha mente diz o contrário,
insiste com argumentos que a razão
não ousa combater.
Não é preciso que estejas aqui...
O vento acaricia com mãos invisíveis
e és parte dele, atravessando as frinchas,
sussurrando delícias aos meus ouvidos.
Não é preciso que estejas aqui, não...
Para que eu te veja, bastam-me
os olhos do pensamento...

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Súplica


Reza por mim, amor.
Reza por mim
e não serei um mero grão disperso,
e não serei um anel de Saturno
desgarrado, solto no espaço-tempo
da Eternidade.
Que aqui tudo é mistério,
tudo é descoberta,
há outro sentido,
outro conceito de Existência.
Aqui não há espera,
só a lembrança fugaz,
só a vaga imagem do teu rosto
na moldura do Infinito.
Não te deixei, amor,
roubaram-me de ti,
despejando-me no vácuo do tempo.
Reza por mim,
fumaça disforme ora diluída,
ora rejuntada,
assumindo formas várias e inúteis,
bailando aos dissabores
da inconsciência.
Reza por mim, amor.
Imagina-me como um lago
de águas puras, serenas,
e assim hei de ser
para matar minha sede
de ti

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Áurea


Faço poemas
em versos negros
e versos brancos
para que todo poema
seja livre.

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+ Duas centenas +


TAMtos mortos...
De quem é a culpa?
Do homem-máquina?
Da máquina-homem?
Da máquina-máquina?
Ou de todo o maquinário?
E o que diz a caixa,
a caixa queimada,
a caixa “imune” à queda,
a preta caixa-preta?
Será que gritos, choros,
gemidos, ruídos,
frases entrecortadas,
palavras desmembradas
denunciam culpados?
De quem é a culpa?
Da chuva? Da pista?
Da torre?
De quem já morreu?
E a próxima culpa?
De quem há de ser?...
Minha? Sua?...

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Oposição


Parnasiano? Quem, eu?
Não às regras e ao virtuosismo!
Abaixo a versificação!
Quem fez "O incêndio de Roma"?
Eu não!
Saudações ao puro sentimento!

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Partida


Devo partir hoje,
o mais tardar amanhã.
E não quero que me vejas hoje,
para não guardares de mim uma saudade triste,
uma saudade recente,
pois agora estou assim, triste,
por saber que hoje, o mais tardar amanhã,
não poderei mais te ver.
Quero que guardes de mim
uma lembrança feliz de ontem,
quando rimos, quando brincamos,
quando meus olhos brilhavam ao te ver,
quando eu ainda não sabia que ia partir.
Não quero te ver hoje,
para que guardes de mim
apenas o que viste ontem nos meus olhos
e o que sentiste no meu corpo.
Quero que fique contigo
apenas o que levarei de ti comigo:
alegria, alegria, alegria!


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Realeza


Por que em tudo quanto vejo cuido vê-la?
Por que não fico um segundo desta vida
sem pensar na minha amada e esquecê-la,
se é uma joia que pra mim está perdida?

A cada fim de semana tão sofrido
me transformo nas flores que lhe oferto,
mágica forma que creio ter aprendido
para vê-la, pra senti-la, pra estar perto...

Abdico hoje da tristeza,
do sofrer e da amargura abdico,
qual um rei que não quer na dor a realeza.

E como antes para tê-la e u me dedico,
para ser rei, mas rei feliz e tenho certeza:
quando a tiver, serei de todos o mais rico!


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Vizinho ilustre


Nova Era é tão perto,
tão perto de Itabira,
que quase vejo Drummond
na Sêrro Verde
na Sêrro Azul.
Mas como vê-lo
onde ele nunca foi?

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Fantasia

Para Rosangela de Fátima

Ó bela Flor, purpúrea, serena,
de sutil formosura, eflúvio de rosas...
Desvelada Flor, sublime, amena,
mescla escarlate das veias ardorosas.

Ó infinita Flor, plácida, aérea,
rubra Flor dos meus anseios...
Visão indelével, magicamente etérea,
lampejo de cor dos devaneios...

Ó Ros'angelical, rósea Flor mirim,
fulgente glória dos meus sonhos,
cobre-me com pétalas carmim!

Ó majestosa Flor, pujante e sincera,
sê real! Dissipa a névoa do medonho,
ó inefável Flor de Quimera...


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Guerra, por quê? Por que não a PAZ?


Em homenagem ao 21 de Setembro – Dia Internacional da PAZ

A guerra advém da desinteligência e insensatez de um povo, subtraído mesmo que temporariamente de sua razão através de inflamados discursos ideológicos proferidos por líderes supostamente inteligentes. Líderes cultos, talvez; sábios, nunca. A sabedoria não se resume num maior acúmulo de informações. Sábio, só aquele que, mesmo tendo seus direitos furtados, consegue abrigar no coração a compreensão e a tolerância. Sábio, só aquele que hasteia a bandeira da PAZ e a leva sempre erguida.
Por quê a guerra? Por que não a PAZ?
O pensamento crítico e o bom senso são fundamentais para que haja sempre um estado de harmonia entre os povos.
A deflagração de uma guerra é a mais forte prova da insensatez humana.
Só a fé em Deus faz nascer e frutificar a PAZ em nossos corações.
Salve a PAZ!!!

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Ou isto ou aquilo


Entre o riso e o choro,
entre o Amor e o ódio,
entre a Fé e a descrença,
entre a Vida e a Morte,
entre Deus e o Diabo,
prefiro isto àquilo.

www.remisson.com.br (Revista PROTEXTO - letras, artes & atualidades)

 http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2010/10/remisson-aniceto-poeta-brasileiro.html

http://www.letraefel.com/2013/12/jardin-de-remisson-aniceto.html

http://advivo.com.br/blog/remisson/educacao-os-fantasmas-da-nossa-adolescencia

http://letras-uruguay.espaciolatino.com/aaa/aniceto_remisson/bio.htm

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